Noite do Globo de Ouro 2014

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Eleonora Rosset

Essa é a mais importante premiação antes dos Oscars e isso porque os votantes são os jornalistas estrangeiros, a Hollywood Foreign Press Assocation. A opinião deles vale como se o mundo inteiro opinasse. Representam as plateias que pagam nos países do globo para ver os filmes. E, apesar das indicações muitas vezes coincidirem com as do Oscar, nem sempre os premiados são os mesmos. A Academia tende a ser mais conservadora.

Ontem a festa estava animada. O Oscar é apresentado num palco, enquanto que no Golden Globe os indicados estão em mesas , mais descontraídos. Ou pelo menos mais falantes e as expressões de alguns perdedores e a de todos os vencedores aparece mais nitidamente.

Uma coisa que atrapalha é a divisão entre cinema e televisão. Nem todo mundo segue as séries e os shows indicados. E, no cinema, eles dividem filmes e atores em drama ou comédia/musical. Às vêzes fica bem estranho.

Mas eu gostei de quase todos os resultados.

A melhor canção foi para Bono e o U2. Eu ainda não vi “Mandela- Longo caminho para a liberdade”, por isso não sei dizer se foi justo. Mas eles foram muito aplaudidos e simpáticos. Bono fazia brincadeiras o tempo todo para a câmera da TV. Ficou feliz com o Globo.

Daí foi a vez da garota mais invejada do momento. Jennifer Lawrence num longo branco Dior e brinco de esmeralda, ganhou melhor atriz coadjuvante por “Trapaça”, o maior vencedor da noite porque Amy Adams, de vermelho confirmou a dobradinha com o melhor atriz de filme/comédia. Além do filme ser o premiado como melhor filme/comédia do ano. Não era o meu favorito mas as atrizes realmente estavam ótimas.

Outro filme que eu ainda não vi, “Dallas Buyers Club” levou prêmios para melhor ator coadjuvante e melhor ator/drama. Jared Leto e, finalmente, o ótimo Matthew

McConaughey, que já merecia um prêmio para o seu grande talento.

O melhor roteiro foi para Spike Jonze por “Her – Ela” e o prêmio foi entregue por Emma Thompson fazendo gracinha de sapatos na mão e copo na outra. Uma piada sobre o convite enviado pela primeira dama, Michele Obama, para a festa dos seus 50 anos, sugerindo sapatos cômodos para as mulheres poderem dançar e informando que era melhor comer em casa porque só haveria petiscos. Quem não sabia dessa história ficou intrigado. Logo a Emma!

Um momento emocionante foi quando a bela Laura Dern anunciou o filme “Nebraska” no qual atua o pai dela, um dos indicados a melhor ator, Bruce Dern. Bonito ver essa continuidade de gerações no cinema.

“A Grande Beleza” ganhou melhor filme estrangeiro, merecidíssimo e Paolo Sorrentino foi todo feliz apanhar seu Globo.

Melhor animação foi para “Frozen” da Disney.

Woody Allen ganhou um prêmio honorário, o Cecil B. de Mille e foi homenageado com uma mixagem de cenas dos 40 filmes dele. Mas o mais tocante foi Diane Keaton, que recebeu o Globo por ele, cantar uma musiquinha sobre a amizade, que é o que a liga há tanto tempo com o diretor.

Woody Allen que fez um dos grandes filmes do ano, como sempre foi esquecido mas Cate Blanchett, linda em rendas negras e brincos de brilhantes, foi a melhor atriz/ drama com sua interpretação magnífica em “Blue Jasmine”.

Um prêmio que eu adorei foi o de melhor diretor, entregue por Ben Affleck ao mexicano Alfonso Cuarón por “Gravidade”. Na plateia, Sandra Bullock ainda esperava o seu Globo por melhor atriz…

A bela da noite, Jennifer Lawrence dá o melhor ator a Leonardo DiCaprio, super merecido por esse papel em “O Lobo de Wall Street” e muitos outros. Adorei o Leo agradecendo a um Scorsese visivelmente emocionado.

E, finalmente, Johnny Depp entrega o Globo de Ouro de melhor filme/drama a Steve McQueen por seu “12 Years a Slave”, com a plateia cantando a canção do filme. Emocionante.

 

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Pais e Filhos

“Pais e Filhos”- “Soshite Chichi Ni Naru”, Japão, 2012

Direção: Hirokazu Kore-Eda

Tudo parecia tão perfeitamente em ordem naquela jovem família de classe média alta vivendo numa cidade japonesa, que não se espera o que virá.

O pai Ryota (Masaharu Fukuyama), arquiteto de sucesso, trabalha em um escritório famoso, onde fez uma carreira rápida e brilhante. Ganha muito bem, é dedicado e ambicioso.

Por causa disso, o tempo para a família é escasso. Chega sempre tarde em casa e já está na hora de seu único filho, Keita (Keita Ninomiya) de 6 anos, estar na cama. Estranhamente, essa falta de convivência não parece incomodar nenhum dos dois.

A mãe, Midori (Machiko Ono), adora o filho que ela cerca de carinho. Keita é um menino bonzinho, afetuoso e não dá trabalho nem em casa, nem na escola.

Se há alguma nota dissonante, podemos dizer que o fato da criança ser tão comportada, parece desagradar um pouco o pai, que acha que os mimos da mãe não o preparam para uma vida competitiva no futuro.

O diretor Kore-Eda, que assinou o sensível “Ninguém Pode Saber” 2004, vai mexer aqui com uma situação delicada e vai trazer à tona sentimentos em conflito.

Eis que um exame de sangue de rotina, quando da admissão de Keita numa escola tradicional, revela algo que não se esperava.

A notícia chega como uma bomba: houvera uma troca de bebês. Keita não é filho de Ryota e Midori.

E o hospital onde o menino nascera, no interior, perto da casa da mãe dela, porque Midori precisava de alguém para ajudá-la, não podendo contar com o marido, reconhece o erro.

Depois do choque inicial, vemos a consternação dos pais e a complicada questão da culpa.

Mas, providências precisam ser tomadas.

Encontros com os representantes do hospital, médicos e psicólogos, levam as duas famílias a fazer contato.

E uma frase do pai de Keita espanta Midori:

“- Agora está tudo explicado!”

“Pais e Filhos” é um filme bem feito, com um roteiro envolvente e ótimos atores que conquistam a plateia com o drama dos meninos trocados.

A questão central e que não tem uma resposta simples, ao contrário, coloca ainda mais perguntas, é o dilema do sangue versus a convivência.

Ou seja, o que é mais importante para uma criança?

Estar com aqueles que a criaram e amaram desde o nascimento ou mudar para a família que tem o mesmo sangue que o seu?

O que é menos doloroso para os pais?

Trazer para casa o sangue de seu sangue e perder para sempre aquele que era o filho amado?

“Pais e Filhos” traz para a nossa reflexão um dilema difícil de ser resolvido.

Quando o filme passou em Cannes e ganhou o Grande Prêmio do Júri, Steven Spielberg, que era o presidente, comprou os direitos do filme para uma refilmagem.

Vai ser interessante comparar as duas versões.

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