Her (Ela)

“Ela”- “Her”, Estados Unidos, 2013

Direção: Spike Jonze

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Ele escreve cartas para quem não sabe fazer isso. E tão bem, tanto para homens quanto para mulheres, que um colega de trabalho brinca:

“- Você deve ser um pouco homem e um pouco mulher! Senão como poderia escrever cartas tão sensíveis?”

É verdade. Mas também é verdade que Theodore Twombly está claramente deprimido. Está se separando da mulher (Rooney Mara) e não está fácil para ele.

Percebe-se pelo seu rosto expressivo (Joaquin Phoenix está incrível e foi indicado para o Oscar de melhor ator) que ele sofre, que está vivendo mal a solidão, que pensa na ex e se culpa pela destruição da relação mas não tem com quem desabafar.

Até tenta um “sex chat” mas não dá certo.

Vai conversar com o casal que vive no mesmo prédio que ele mas eles também estão se separando. A mulher do casal, Amy (Amy Adams), é quem quer desabafar e ele escuta porque é um ser humano compassivo.

Tudo vai mal, até que ele escuta a voz dela.

Theodore comprou um novo sistema operacional que promete um amigo/a. Uma entidade intuitiva que escuta, entende e conhece a pessoa que utiliza essa forma de inteligência artificial, que é mais do que você imagina. “É uma consciência” diz a publicidade.

Assim, Samantha (Scarlet Johansson, invisível e bela) a voz amiga dele, vem preencher um espaço vazio. E torna-se o centro da vida de Theodore.

Virtual mas sensível e muito inteligente, ela é mais do que uma secretária que organiza e-mails e limpa o computador dele de tudo que é inútil. Samantha é uma companheira divertida, bem humorada, falante, que levanta a moral de Theodore. Ela cresce com as experiências que vive com ele. Ela é a personificação de um sistema operacional do futuro e interage com Theodore de uma forma íntima, calorosa e bem humana. Só lhe falta um corpo.

Claro, ele se apaixona por ela e vice versa. Ele a leva no bolso para que o olho da máquina possa ver o mundo dele e trocar idéias o dia todo. Já não consegue viver sem ela.

Spike Jonze dirigiu e escreveu o roteiro de “Ela”, premiado com o Globo de Ouro e indicado ao Oscar de melhor roteiro original.

O filme pode ser visto como uma fábula, com um toque de ficção científica, numa Los Angeles do futuro (filmado em Shangai), sobre a solidão, o sentimento de perda, a busca pelo amor. Será que um ser humano se apaixonaria realmente por uma voz/consciência, um ser incorpóreo?

Spike Jonze acena com um cenário futurista mas mostra que as necessidades básicas do ser humano permanecem as mesmas. Theodore busca um amor que o faça esquecer a ex. Um luto tem que ser trabalhado e Samantha o ajuda. Mostra que vale a pena viver e amar novamente.

Em um pensamento de psicanalista, poderia dizer que Samantha é o lado acolhedor de Theodore que ele usa para os outros, nas cartas que escreve tão bem mas que não sabe utilizar consigo mesmo.

E soa cabível, o entrevistador perguntar para Theodore, antes de dar Samantha para ele:

“- Como você descreveria o relacionamento com sua mãe?”

“Ela” é um filme doce, amoroso,romântico. Comove. Foi indicado entre os nove filmes melhores do ano para o Oscar.

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Uma Família em Toquio

“Uma Família em Toquio”- “Tokyo Kazoozu”, Japão, 2013

Direção: Yoji Yamada

Um casal de idosos vem visitar os filhos que se mudaram da terra natal e vieram morar em Tóquio.

Ficamos sabendo disso pelas conversas na casa do filho mais velho, Koichi (Masahiko Nishimura), que é médico, casado, com dois filhos.

O caçula Shoji (Satochi Tsumabuki), ainda solteiro, foi o encarregado de pegar os pais na estação de trem, já que é o que tem mais tempo livre, mas ele se confunde e vai buscá-los no lugar errado.

A filha do meio, Shigeko (Tomoko Nakajima), também casada, é dona de um cabelereiro que fica na parte da frente de sua casa. Ouve a confusão que o irmão menor causou e sentencia, expressando a opinião geral:

“- Ele não faz nada direito. Não se pode confiar em Shoji.”

O rapaz não tem um emprego fixo mas conserta cenários de teatro e parece ser o menos estressado da família.

Os pais que chegam e não encontram o filho, ficam sabendo pelo celular que ele se enganou e, calmos, pegam um táxi.

Percebe-se pelo jeito dela, que a mulher é a alma sensível e afetuosa do casal. O pai é mais fechado.

Ela, munida de um mapa desenhado num caderninho, tenta ajudar o taxista a achar o endereço da casa do filho. Ele, furioso, explica sem paciência que tem GPS no carro.

Aliás, parece que ninguém tem tempo, nem paciência em Tóquio. Com raras exceções.

A chegada dos pais não deixa de ser uma alegria mas também é um transtorno na vida dos filhos e netos ocupadíssimos com suas próprias vidas. Não é que não gostem deles. Mas querem amá-los à distância.

E isso é algo que poderia ocorrer em qualquer cidade grande do mundo, onde a vida é complicada, cara e exige dedicação ao trabalho.

E é o tema do filme. Nosso modo contemporâneo de viver não dá lugar a nada que atrapalhe o nosso quotidiano entupido de afazeres. Ficamos mais insensíveis?

Ao escutar que o neto mais velho tem que sair depois do jantar para ir ao cursinho, a avó diz:

“- Mas ele estuda também à noite? Deve ser difícil crescer em Tóquio…”

Ela é quem dá a nota de otimismo no filme. Liga tranquila para a ilha onde vivem para saber do cachorro. E, ri, contente, quando é informada que ele está bem e foi passear com a filha da vizinha.

Preocupada com o filho mais moço, a mãe logo se dá conta de que ele é mais parecido com ela do que pensava. E fica feliz.

Lembrada como sendo uma pessoa gentil, ela, o filho caçula e a namorada dele, são os personagens que dão a esperança de que, nesse nosso mundo, ainda existe lugar para a gentileza, sentimentos delicados e compaixão.

“Uma Família em Tóquio”  é uma homenagem de Yogi Yamada, de 83 anos, ao filme “Era Uma Vez em Tóquio” do mestre Yasugiro Ozu (1903-1963), filmado em preto e branco em 1953 e que foi escolhido como o melhor filme de todos os tempos por 358 cineastas do mundo todo num concurso promovido pelo “British Film Institute”.

Esse filme genial já denunciava as transformações ocorridas na família tradicional japonesa naquela época.

E faz coro com filmes atuais como “Pais e Filhos” e “Album de Família”, por exemplo, que traduzem alguns dos problemas que esgarçam as relações no núcleo familiar e que são preocupantes. Precisamos pensar nisso.

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