Nos Vemos no Paraíso

“Nos Vemos no Paraíso”- “Au revoir là-haut”, França, 2017

Direção: Albert Dupontel

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Numa cena original, vemos um cão pastor alemão, correndo entre crateras de um campo de guerra, para levar às mãos do oficial encarregado, dentro da trincheira, um aviso secreto de cessar as hostilidades.

O Tenente Pradelle (Laurent Lafitte) ignora a ordem oficial e faz uma maldade. Manda dois soldados, em plena luz do dia, para uma missão de reconhecimento. Estão condenados à morte.

E outros também morrerão porque os alemães revidam. São de novo o alvo a ser riscado do mapa. O Tenente comanda o inútil combate, a poucos dias do Armístício.

Isso é contado por Albert Maillard (Albert Dupontel) durante um depoimento à polícia em 1920, no Marrocos. Por que? Saberemos aos poucos, num longo “flashback”.

Percebemos que, ambientado no fim da Primeira Grande Guerra, novembro de 1918, vamos ouvir falar nesse filme sobre as consequências das guerras no comportamento dos homens, que ganham muito dinheiro em negócios escusos.

E é também a história de uma grande amizade.

Assim, vemos que durante a última batalha, Albert fica conhecendo Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart). O escriturário e o jovem, filho de uma família rica, não tem nada em comum, a não ser o laço criado na luta pela sobrevivência, naquele campo de batalha. O jovem salva Albert numa situação difícil e por causa disso é atingido por uma bomba e tem o rosto desfigurado.

No hospital, Albert ajuda Péricourt a ter um alívio de suas dores. Rouba morfina. A gratidão de Albert é enorme e faz tudo que Édouard pede a ele. Inclusive dizer à sua família que ele morreu. Está brigado com o pai (Niels Arestrup).

Os dois vão viver juntos em Paris. E o jovem artista, além das belíssimas máscaras que faz para esconder seu rosto, vai convencer Albert sobre dois planos de vingança.

O filme ganhou cinco Césars, inclusive o de melhor diretor e melhor roteiro, adaptado do livro de Pierre Lemaitre, ganhador do Prêmio Goncourt, além de melhor cenografia, fotografia e figurinos (Mimi Lempicka).

“Nos Vemos no Paraíso” é um espetáculo visual bem cuidado nos mais ínfimos detalhes e o elenco convence com interpretações dramáticas que nunca descambam para o ridículo, apesar das extravagâncias da história.

É um filme que merece ser visto por um público exigente.

 

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Lida Baarova

“Lida Baarová”- Idem, Alemanha, 2016

Direção: Filip Renc

Aquela velha senhora que aceita dar entrevista a uma jornalista, aos 86 anos, ainda guarda gestos de Lida Baarová, que foi uma das mais famosas estrelas de cinema na antiga Tchecoslováquia, onde nasceu em 1914.

Inicia-se assim um longo “flashback” que mostra como comçou sua carreira, aos 17 anos, incentivada por sua mãe. Ela, que já fora atriz sem sucesso, acompanha a filha nas gravações e fica radiante quando as duas vão para Berlim em 1934 a convite dos estúdios UFA, o mais importante da época, bancado pelo governo de Hitler, o Fuhrer nazista, a quem todos deviam obediência.

A mocinha teve que trabalhar seu alemão com sotaque para ser convidada para o papel principal em “Barcarole” onde contracenaria com o galã alemão, seu ídolo, Gustav Frohilich (Gedeon Burkhard).

E claro, os dois vão viver um romance, apesar de Gustav ser casado. Lida muda-se para a casa dele e torna-se vizinha do Ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebbels.

E Lida Baarová vai ser a amante, por dois anos, daquele que mandava no cinema da Alemanha, inclusive.

O narcisismo exaltado parece ser o traço de personalidade que os une, além da atração pelo poder. Não há em nenhum dos dois uma avaliação das consequências de seus atos. Pensam apenas na própria satisfação de seus desejos.

Lida, totalmente alienada do que acontecia na Alemanha, ou talvez não querendo ver nada além de sua imagem no espelho, fechada em sua redoma de egoísmo, se envolve com o homem que a humanidade vai chamar de monstro.

Goebbels, pequeno e manco, era considerado um perigo para as mulheres. Possuia todas que queria. Seu poder era imenso. Era o ideólogo do nazismo.

Será o ponto final nas ambições de Lida, que é barrada em suas intenções envolvendo Goebbels pelo próprio Hitler.

Começa a derrocada de Lida Baarová, proibida de filmar na Alemanha. Ela ainda faz alguns filmes na Itália e Espanha, mas seus sonhos de grandeza não tinham mais a menor chance de acontecer.

O filme é bem cuidado e o elenco funciona bem. Mas seu principal mérito é alertar para o fato de que uma vida é consequência das escolhas que fazemos e da maneira que as vivemos.

Lida Baarová, que tinha sido convidada para trabalhar em Hollywood e recusara por seu amor a Goebbels, diria no fim de sua vida, com sua habitual presunção:

“- Eu poderia ter sido maior que Marlene Dietrich…”

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