Nasce uma Estrela

“Nasce Uma Estrela”- “A Star is Born”, Estados Unidos, 2018

Direção: Bradley Cooper

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A tela mostra um show de “country rock”, com guitarras estridentes e luzes coloridas criando um clima quente. Antes de entrar no palco, um belo homem engole um punhado de pílulas. Gritos e palmas. A multidão enlouquece com a banda e o cantor. Ele é famoso.

Depois o vemos dentro do carro, disfarçando o rosto com um chapéu, fugindo das fãs grudadas no carro e bebendo na garrafa.

“- Não quero ir para o hotel… pare aqui. ”

Ele desce do carro e entra no bar onde é reconhecido pelas “drag queens” que fazem o show. Ele bebe e se diverte vendo as performances.

De repente, uma voz canta em francês. É uma garota morena, vestido de alcinhas e meia arrastão. Ela hipnotiza a plateia, muda, ao som do “La Vie en Rose” que ela canta com paixão.

O roqueiro está fascinado com ela, deitada no palco, pertinho, olhando para ele e finalizando a canção com aquela voz poderosa. Sobrancelhas finas e pintadas dão um ar dramático à sua figura.

“- Você está chorando? ” pergunta o sujeito que o trouxe até a beira do palco.

“- Só um pouco ” responde o roqueiro com olhos brilhantes.

“- Venha. Você tem que conhecê-la. ”

Jackson Maine (Bradley Cooper, belo e carismático) vai ao camarim conhecer a garçonete Ally (Lady Gaga, presença e voz poderosas) e os dois nunca mais se desgrudam.  Existe uma atração tão forte e natural entre eles que eletriza a tela. Jack toca sua guitarra para ela ouvir e acabam a noite sentados num estacionamento, conversando, depois de uma briga em outro bar. Ela machucou a mão e ele cuida dela.

“- Você compõe? “

“ – Não gosto de cantar minhas músicas. Não me sinto à vontade… minha aparência não agrada…”

Ele a estimula e ela canta “Shallow” a capella. Lindamente. A música é um arraso.

“- Caramba! Acho que você pode ser minha compositora! ”

O romance está apenas começando e a plateia já está conquistada.

Bradley Cooper se lança na direção do filme com surpreendente brilho e Lady Gaga faz o papel que já foi de Janet Gaynor (1937), Judy Garland (1954) e Barbra Streisand (1976), com talento próprio. A história da cantora que faz sucesso enquanto o músico, seu descobridor, vê sua carreira entrar em decadência, é a mesma das três outras versões. Mas ainda dessa vez, encanta o público, graças principalmente à magia que a dupla de atores cria na tela.

Apesar do amor que sente por Ally, Jack está enfraquecido pela bebida e pelas drogas e ela, cheia de energia, tenta cuidar dele mas é sua carreira solo que a entusiasma. Há lágrimas nos olhos do público porque Bradley Cooper nunca foi tão comovente e frágil.

A crítica adorou “Nasce Uma Estrela”, sucesso de público também e já há previsões para saber quantos Oscars o filme vai ganhar. E merece.

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22 de julho

“22 de julho”- “July 22”, Noruega, Islândia, Estados Unidos, 2018

Direção: Paul Greengrass

Quando aqui chegaram as notícias, foi terrível saber que na Noruega o impensável tinha acontecido.

O filme “22 de julho”, dirigido pelo britânico Paul Greengrass, tem o mérito de contar o que se passou com detalhes e em ordem cronológica. E as interpretações são tão realistas que parece que estamos lá, ao lado dessas pessoas atingidas pelo terror.

E tudo começa naquele dia, 22 de julho de 2011, com os adolescentes, filhos de membros do Partido dos Trabalhadores da Noruega, prováveis futuros líderes do país, indo para a ilha de Utoya com o ferryboat, onde se encontrariam para palestras, esportes, fogueiras e cantos. O Primeiro Ministro era esperado.

Na véspera, acompanhamos um homem jovem que prepara algo num lugar que parece uma garagem. Mistura em liquidificadores substâncias que depois são colocadas em sacos, recolhidos numa pequena van.

No dia seguinte, o mesmo homem veste um colete onde se lê “Polícia” e carrega maletas onde colocou armas.

E vai ficando claro que ele abandona a van num estacionamento no centro de Oslo porque aquilo vai explodir. E, quando acontece, a dimensão do ataque a prédios do governo onde trabalha o próprio Primeiro Ministro, é enorme. Pânico. Estragos. Mortos e feridos. Incêndios.

Mas o homem de rosto duro, com um estranho cavanhaque, tem outra missão agora. Com horror, vemos ele aproximar-se do lugar onde parte o ferryboat para a ilha, que tinha sido suspenso devido ao ataque em Oslo, perto do local. Diz que foi mandado pela polícia de Oslo para proteger Utoya. E acreditam nele.

Lá chegando, ele não perde tempo. Começa a matança.

Anders Behring Breivik (Anders Danielsen Lie) assassinou 69 estudantes num total de 77 pessoas e feriu uma centena. A sangue frio.

Foi preso e julgado.

O que mais assusta é a convicção com que defende suas ideias extremistas e radicais. Sua missão seria punir a elite, os liberais, os comunistas, livrar a Europa do Islã e proteger os direitos dos europeus. Ele pertenceria a uma organização de extrema direita chamada “Os Cavaleiros Templários” e é o autor de um manifesto de 1.500 páginas, onde defende sua posição ultranacionalista, homofóbica, anti-feminista e a favor da eugenia, defendida pelo nazismo. E diz claramente no tribunal que faria tudo de novo, o ataque e a matança, se pudesse.

O filme tem uma duração de 143 minutos mas não cansa o espectador porque, em suas diferentes fases, ou seja, a preparação do atentado, o ato terrorista, o tribunal, seguir a família de Viljar, um garoto que sobreviveu a duras penas, acompanhar o advogado de defesa e as famílias das vítimas, tudo interessa e nos envolve.

O diretor tem no currículo filmes intensos como a trilogia Bourne e filmes baseados em fatos reais como “Voo United 93” e “Capitão Phillips”, com o ótimo Tom Hanks.

Mais que tudo, é um filme necessário, produção original da Netflix, que vem ajudar espectadores brasileiros a refletir sobre o radicalismo, o extremismo e a intolerância com o diferente, que estão assustadoramente presentes nas eleições atuais, algo jamais visto por aqui.

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