Juliet, Nua e Crua

“Juliet, Nua e Crua”- “Juliet Naked”, Estados Unidos, 2018

Direção: Jesse Peretz

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Sabe aqueles filmes que começam e parece que não vão agradar? E quando a gente vê está envolvido com a história e os personagens? “Juliet, Nua e Crua” é uma dessas surpresas.

Aliás, “Juliet” não é nome de mulher, como poderíamos pensar. É o álbum “Juliet Naked”, gravado em 1993 por um roqueiro americano, Tucker Crowe (Ethan Hawke), que desapareceu, depois de terminar um romance com uma modelo de Los Angeles. Cancelou seus shows e sumiu. Desde então, lendas circulam a seu respeito. Como por exemplo, a que diz que ele vive isolado numa fazenda da Filadélfia, onde cria ovelhas. Ele é um mistério.

Mas em Sandcliff, Inglaterra, o desaparecido tem o seu maior fã, Duncan (Chris O’Dowd), que venera sua música e empapelou o porão da casa onde vive há 15 anos com a namorada Annie (Rose Byrne), com posters e fotos do seu ídolo. Ele é professor de cinema numa escola local e mantém um site que reúne os fãs ainda existentes de Tucker.

Annie dedica-se a cuidar do Museu Marítimo que seu falecido pai deixou para ela e a irmã Ros (Lily  Brasier).  E escuta pacientemente as lamúrias da irmã, sempre encrencada com suas namoradas casadas, enquanto prepara as peças para uma exposição.

Em “off” ouvimos ela contando essa história e percebemos o quanto ela se aborrece com esse homem com quem está há 15 anos e que só fala do roqueiro que idolatra. Ele não tem outro assunto.

Ainda por cima, Annie, que está com 30 anos, se ressente por Duncan não querer ouvir falar em filhos:

“- Nada de por crianças nesse mundo podre”, diz ele.

Mas a Natureza tem um chamado forte em mulheres dessa idade, como todos sabemos. E a verdade é que Annie não sente mais nenhuma atração pelo namorado.

Quando chega pelo correio um CD para Duncan, Annie abre a embalagem, meio distraída. E, como o vestido que ela comprou pela internet está grande demais, ela resolve ouvir o CD “Juliet Naked”.

Enquanto isso, Duncan está se engraçando pela nova professora da escola e vai parar na casa dela. E por isso chega tarde em casa. A tempo de ficar bravo porque Annie abriu a correspondência dele e teve a ousadia de ouvir o CD, antes dele. Furioso, vai ouvir o CD sozinho, com fones de ouvido.

E aí começa a encrenca. Duncan acha que o que tem no CD é uma obra prima. Annie acha que é uma versão chata de canções que já ouviram muitas vezes.

Para resumir, ela escreve um comentário negativo no site de Duncan sobre o CD e, num desses caprichos do destino, recebe uma resposta. Pasmem. Do próprio Tucker, que concorda com Annie.

Ethan Hawk, como Tucker, atrai Annie porque é carente, desorganizado como uma criança, irresponsável mas querendo mudar, sedutor e carinhoso. O oposto do namorado dela.

O filme, baseado no livro “Juliet Naked” de Nick Hornby, que foi adaptado pelo diretor e ex músico Jesse Peretz, com a ajuda de Tamara Jenkins e Jim Taylor, tem um roteiro bem escrito e a história tem momentos bem divertidos mas também notas mais melancólicas, em torno à questão do amadurecimento e da responsabilidades com os filhos.

Annie e Tucker vão se aproximar num primeiro momento por causa da implicância que ela tem pelo roqueiro, idolatrado pelo namorado sem graça. Mas as coisas vão evoluir e temos assim uma comédia romântica com sentimentos ternos e sem o jeito açucarado que enjoa.

Ótimo entretenimento.

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O Impostor

“O Impostor”- “The Forger”, Estados Unidos, 2014

Direção: Philip Martin

O amor entre pai e filho emociona e às vezes até surpreende. Talvez porque a mãe é quase sempre o centro do afeto da família. Mas aqui, não há mãe. Tanto Ray Cutter (John Travolta) que está na prisão e quer a liberdade para estar com o filho Will (Tye Sheridan), quanto Joseph Cutter (Christopher Plummer) avô de Will, que cuida do neto enquanto o filho está preso e já cuidou do filho quando a mãe dele morreu, e ele tinha só 4 anos, são pais amorosos.

Quando o filme começa, Ray está preso mas consegue ser solto, às custas de endividar-se pesadamente com um gangster. Por que ele faz isso se tem que cumprir só mais dez meses?

Vamos entender essa aparente loucura de Ray quando vemos Will, de 15 anos, ser levado para fazer quimioterapia no hospital. Ele tem um tumor no cérebro, inoperável, mas não sabe. Claro que tem noção do câncer mas pensa que pode curar-se. Mesmo porque é o que o pai e o avô passam para ele.

Ray, que na juventude aprendeu a gostar de pintura, tem talento mas enveredou por caminhos errados. Mas ama o filho e o pai. Agoniado, não sabe o que fazer para amainar a dor que sente.

Ray e Joseph são durões mas frente à perda inevitável, o horror da morte de um filho e neto, estão perdidos.

Will é um garoto afetivo, que logo se liga no pai que chega da prisão e percebe que ele se endividou para poder estar com ele. E, para surpresa do pai, pede que lhe conceda três desejos: conhecer a mãe que o abandonou ainda bebê, transar pela primeira vez e, finalmente, acompanhar e ajudar o pai no esquema que ele adivinha que foi montado para pagar os 50.000 dólares, que é a dívida dele com o gangster que o tirou da cadeia.

“O Impostor” não é um grande filme. Mas é emocionante e envolvente por causa da atuação de  Travolta, Plummer e Sheridan. O trio em ação faz com que a gente torça por eles.

John Travolta, que perdeu um filho de 16 anos, passa toda uma gama de emoções para a plateia, que vai da revolta à aceitação do que vai acontecer e a consciência de ter que aproveitar bem o tempo que resta.

“O Impostor” é um pequeno filme que toca nossos corações.

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