O Futuro Adiante

“O Futuro Adiante”- “El Futuro que Viene”, Argentina, 2017

Direção: Constanza Novick

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Uma amizade da vida toda é algo precioso. Principalmente porque essas duas mulheres que vamos acompanhar em “O Futuro Adiante” são muito diferentes. Em tudo. Vão passar os bons e os maus momentos juntas e separadas, porque a vida é assim, junta e separa.

Nenhum sentimento é proibido nessa amizade. Sólida, apesar de inconstante, é um vínculo de identificações complementares. As duas unidas são mais fortes do que quando separadas.

Vemos as duas pela primeira vez na abertura do filme, meninas felizes, dançando uma coreografia que inventaram. Romi, olhos claros, cabelos louros e longos. Flor, morena, pele clara e olhos escuros brilhantes.

Vestem a mesma saia curta, que imaginamos ser o uniforme da escola, mas uma usa jaqueta e botas e a outra blusa, adereços e saltos altos. Certamente roupas surrupiadas do armário da mãe de uma delas.

As mães das meninas também são diferentes. A de Romina é bonita, delicada, se veste com roupas sexy e namora à noite, dizendo para a filha já deitada em sua cama:

“- Não atenda a campainha, não abra a porta, não atenda o telefone. Não vou demorar. ”

A de Flor é briguenta e mal casada e parece que tem inveja da mãe de Romi, mais afetiva e próxima da filha.

Não à toa, Flor quase mora na casa da amiga, que é muito mais divertida que a casa dela, onde os pais brigam e ela usa fones de ouvido para se ausentar.

As meninas competem na escola e Romi é a mais festejada. As duas gostam do mesmo menino mas é Flor, a mais atirada, que conquista Mariano.

Vamos assim, seguir as duas pelos acontecimentos da vida delas. Alegrias e tristezas. Amores e brigas.

O primeiro longa da diretora argentina Constanza Novick, 43 anos, não é um filme pretensioso. Dá leves pinceladas sobre o que significa a amizade para Romi e Flor. Um pouco mais de mãe? Alguém para compartilhar experiências e tanto consolar quanto incentivar.

Há cumplicidade na adolescência e amparo na vida adulta, quando os papéis se invertem e Romi (Dolores Fonzi) torna-se deprimida e Flor (Pilar Gamboa) a outra face, a mania alegrinha.

Mas tudo sem grandes obstáculos ou cores fortes. Mesmo porque as atrizes são ótimas e fogem do melodrama atuando com naturalidade.

As filhas repetem as mães? Essa pergunta atravessa o filme todo e é como se a diretora quisesse mostrar que é o contrário de espelhar, na superfície mas, no fundo, guardando as semelhanças com o seu modelo. Assim, Romina é sempre mais acolhedora com Florencia, que é mais mandona e briguenta e mais independente.

E quando as filhas das duas crescem parece que tudo vai se repetir nelas. Será?

O roteiro é despretensioso e não quer fazer diagnósticos sobre o que é ser mulher. Porque compreende que afinal somos todas parecidas. E muito mais complexas do que parece.

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Razão e Sensibilidade

“Razão e Sensibilidade” – “Sense and Sensibility”, Estados Unidos, Inglaterra, 1995

Direção: Ang Lee

Duas irmãs que se amam muito e que, apesar de tão diferentes, vão se apoiar sempre. Uma delas, Elinor (Emma Thompson), inteligente e sensata, cuida das parcas finanças da família Dashwood quando o pai morre não deixando quase nada para as três filhas e sua mãe. A outra, Marianne (Kate Winslet), é transparente, só emoção e impulsividade romântica.

A história, escrita por Jane Austen com o pseudônimo de “A Lady” e publicada como livro em 1811, antes portanto de “Orgulho e Preconceito” de 1813, é sobre a família de uma viúva recente, a sra Dashwood (Gemma Jones) que tem que procurar onde morar com as três filhas, já que a bela propriedade onde viveram até então, Norlan Park, passa para o filho mais velho e único do primeiro casamento do marido dela, John (James Fleet). A elas cabe apenas uma pequena quantia anual. Assim ditava a lei. O filho homem herdava tudo.

Não pensem que o pai não pensou nas filhas solteiras. Mas entregou o destino delas nas mãos do filho John, pedindo que cuidasse delas. Casado com Fanny (Harriet Walter), uma mulher egoísta, John deixou-se convencer por ela que suas meio irmãs não precisavam da ajuda dele.

E assim, Elinor, Marianne e Margareth, com sua mãe, aceitam o convite feito por um primo, Sir John Middleton (Robert Hardy) e vão morar num chalé de pedra pitoresco mas gelado, perto de sua propriedade em Devonshire.

Antes porém de deixarem a casa que as viu nascer, as irmãs tem uma visita inesperada. O irmão de Fanny, Edward Ferrars (Hugh Grant) é bem recebido e encanta-se com Elinor. A atração é mútua. Mas Fanny insiste em proclamar, para que todos ouçam, que a mãe dela não permitiria casamento algum com uma moça sem dote.

E lá se vão elas para Devonshire, onde se instalam com simplicidade mas bom gosto.

E logo, Marianne, a mais bela das irmãs chama a atenção dos cavalheiros disponíveis no local, o Coronel Brandon (Alan Rickman), poderoso e sofrido e o jovem Wilhougby (Greg Wise), um futuro herdeiro bonito mas de caráter duvidoso.

Margareth (Emilie François), a irmã menor, de 11 anos, é um sopro de alegria e saúde para a mãe e as duas irmãs mais velhas.

Ang Lee, nascido em Taiwan e radicado nos Estados Unidos, tinha 40 anos quando dirigiu o filme. E encanta a todos com uma escolha primorosa de elenco, locais de filmagem como só a Inglaterra é ainda no campo, figurinos bem cuidados que mostram o status social dos personagens e muitas cenas ao ar livre tanto no sol como em tempestades. “Razão e Sensibilidade” enche nossos olhos e aquece quem tem um coração romântico.

O filme foi indicado a 7 Oscars, inclusive melhor filme e atrizes mas só ganhou o de melhor roteiro, escrito por Emma Thompson. No Festival de Veneza levou o prêmio máximo, de melhor filme, o Leão de Ouro. Premiado ainda com dois Globos de Ouro, melhor filme drama e roteiro.

Ang Lee, injustiçado pela Academia de Hollywood nesse filme, ganhou mais tarde dois Oscars de melhor direção por “O Segredo de Brokeback Mountain” e “As Aventuras de Pi”.

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