Dezessete

“Dezessete”- “Diecisieti”, Espanha, 2019, NETFLIX

Direção: Daniel Sanchez Arévalo

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Ele não é um garoto como os outros.

Hector (Biel Montoro) é mandado para um reformatório juvenil porque tem várias passagens pela mesma juíza e não se emenda. Ela dá a ele o Código Penal para que compreenda o que pode acontecer se quiser continuar a cometer delitos.

Aliás foi o próprio irmão mais velho que denunciou Hector. Ismael (Nacho Sánchez) está cansado de ter que correr atrás do irmão mais novo, de 17 anos, menor, para tirá-lo de encrencas. Aparentemente, Hector é pouco sociável mas tem uma memória prodigiosa e teimosia para obter o que quer.

No reformatório ele não faz amizades e por isso os outros meninos debocham dele. Chamam Hector de ”advogado”, já que onde vai, leva o Código Penal. Parece um jovem com características do espectro autista leve. Mas diagnósticos aqui não ajudam.

Hector vive tentando fugir do reformatório mas os seguranças sempre o trazem de volta. Ele fica no isomento mas até prefere, conta a encarregada de estar com os meninos, uma moça simpática e acolhedora. Ela diz para o garotos que zombam de Hector:

“- Ele vai estudar e tirar vocês da cadeia!”

E o pobre Hector vê o seu Código Penal cair em pedacinhos pela janela. Corre desesperado e cata os pedaços das folhas que caem no gramado. O que fazer com aquela destruição? Ele pede fita colante e surpreendentemente consegue refazer o Código Penal folha a folha. Já tinha decorado tudo.

O grande acontecimento na vida de Hector será o aparecimento de cães abandonados para ser adestrados pelos meninos. Assim fazendo, o intuito é que internalizem tudo o que envolve adestramento de um animal ou seja, controle, paciência e carinho. Qualidades que os cães vão desenvolver e ativar nos garotos.

Hector se apaixona por Ovelha, um cão de tamanho médio, peludo e simpático. Assobia e lá vem Ovelha, uma vez por semana, para alegria de Hector. Ensina truques, dá banho, corta unhas. Hector leva jeito para lidar com animais.

Mas o pior acontece. Não para Ovelha, que é adotado por uma família carinhosa. Mas para Hector é o fim do mundo.

Vamos vê-lo com o irmão no trailer de Ismael, atrás de Ovelha, com a avó dos dois, adorada por Hector, muito doente. Visitam o “pueblo” em que nasceram e, entre brigas e afagos, recuperam os dois a amizade e o amor que os unia na infância.

O filme mostra as belezas naturais do norte da Espanha  e lá vamos nós, envolvidos pela procura de um cão, que  é uma viagem que traz recordações que pareciam esquecidas.

O filme tem um roteiro sólido, bem escrito, atores de primeira que, tanto nos fazem rir como derramar  lágrimas de emoção. A trilha sonora de violão e piano ajuda bastante na criação dos climas emocionais.

Recomendo.

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Darlings

“Darlings”- Idem, Índia, 2022

Direção: Jasmeet K Reen

Marido? Ela quer casar-se com ele, não importando certos traços que ela já poderia ter notado. Mas Badrussa Sheik (Alia Bhatt) uma jovem bonita, de rabo de cavalo e com jeito de menina, foi às nuvens naquele dia, em que atrasado para o encontro com ela, diz que vão casar-se.

Bem, três anos depois, a animação parece ter arrefecido. Ela faz o jantar, serve o prato dele e ele começa a comer sem ela. De repente, ele para de comer zangado. Cospe uma pedrinha que estava no arroz, na mão que ela estende. Ela vai começar a comer quando, novamente, outra pedrinha aparece. Só que dessa vez ele pula com as duas mãos na garganta dela, sufocando a pobre.

Seus gemidos são ouvidos pelos vizinhos, preocupados com a violência que corre solta naquele apartamento da zona de Mumbai onde mora a classe média baixa na maioria muçulmana.

Dia seguinte, ela no fogão, brava, não olha para ele.

“- Ainda zangada? Bebi demais ontem. Desculpe…”

E parece que todo dia ele bebe demais e fica violento. Os abusos domésticos são do conhecimento de todos que moram naqueles apartamentos de paredes finas.

E no dia seguinte da violência ele promete a ela tudo que não vai cumprir.

A pobre Badru tem a mãe que mora ao lado e que não gosta do genro. Vive pedindo à filha que faça algo para acabar com as violências de Hamza (Vijay Varma). Qual o quê. Badru acha que pode reformar o marido.

Badru não entende que o marido se acha no direito de descontar na mulher o que não deu certo na vida dele. E o alcoolismo é a desculpa para ele ser quem é, sem controle e derrotado. Não quer saber de tratamento e parece que esse jeito de agir com violência contra a parte mais frágil do par, lhe dá prazer. É um homem frustrado, abusivo e mau.

Perdida em pensamentos onipotentes que cultiva, a ingênua Badru imagina que pode salvá-lo da bebida. Remédios misturados à comida, sexo com vestido provocante, nada funciona. Ao contrário, tudo leva o marido a piorar e numa noite ele vai longe demais.

E quando ele passa dos limites, Badru começa a ouvir sua mãe. Tem que livrar-se dele. O que não é fácil num país como a Índia, onde o machismo é quase lei.

O filme toca em assuntos importantes, principalmente da posição da mulher na sociedade. O roteiro é muito bem escrito, as cenas tem diálogos pertinentes além de personagens com uma força de verdade muito bem interpretados por todo o elenco.

“Darlings” não é comédia mas tem cenas que fazem rir, outras em que odiamos aquele marido violento e mal agradecido e um final que surpreende.

É um filme de Bollywood mas muito diferente dos outros que já vimos por aqui.

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