Fome de Sucesso

“Fome de Sucesso”- “Hunger”, Tailândia, 2023

Direção: Sitsiri Jaturanrasamee

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Filmes sobre chefs de cozinha há muitos. Mas cada um vai escolher o conflito central que vai fazer a diferença. Aqui em “Fome de Sucesso” existe uma crítica social bem colocada.

Estamos na Tailândia, lugar de turismo exótico. Mas não vamos seguir por essa trilha.

A comida é algo essencial à vida. Infelizmente, no mundo de hoje, milhões de pessoas comem mal, outras passam fome e sofrem.

No entanto, pessoas como o chef Paul (Nopachai Chaiyanam) não se importam com pessoas mas trabalham com comida para ganhar a admiração dos ricos que podem contratá-lo. Seu narcisismo é alimentado pela “fome” que ele provoca nas pessoas que estão mais interessadas em exibir “status” do que em comer bem. O chef quer ser uma lenda.

Há no filme uma cena dele criança, roubando da geladeira um potinho de caviar, proibido para ele, filho da empregada. E o potinho cai no chão e quebra. A patroa fica brava com a mãe dele que chora. Ele, nada arrependido, pega do chão os grãos cinzentos e prova. E não gosta. E fica pensando. De onde vem a fama desse caviar? Talvez esse episódio vai levá-lo a querer ser valioso e caro. Mais do que o caviar que irá enfeitar a comida assinada por ele.

No bairro pobre da cidade, uma bela mocinha, Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) cozinha para a vizinhança, no bar da família dela. Ela é talentosa e amável. Cozinha bem. Preocupa-se com o que faz e gosta quando apreciam sua comida.

Logo ela é convidada para ser aprendiz na cozinha do chef Paul. Ela hesita mas a família precisa de dinheiro.

E ela vai viver um pesadelo. Em tudo diferente do chef, ela nunca consegue satisfazê-lo. Com um sadismo ardiloso, ele maltrata todos naquela cozinha. O ambiente é de medo, o chef irascível e arrogante.

Aoy não aguenta e sai, convidada para cozinhar em um restaurante da moda. É logo descoberta pelos ávidos por novidade.

Mas ela vai ter que mudar de valores para continuar a fazer sucesso. Sua imagem vai contar mais do que a cozinha dela, avisa o empresário que a contratou.

Será que é isso que ela quer?

Esse filme tailandês surpreende pela fotografia, direção de arte e atores. Seu foco no social mostra a desigualdade do país. Pessoas morando na rua e milionários fúteis em festas gastronômicas, onde a comida, que tanto faz falta na rua, torna-se um espetáculo.

“- Quem não tem fome sempre quer mais” diz o chef para justificar sua cozinha teatral desprovida de respeito e do sentimento de que é a alimentação que preserva a vida

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Close

“Close”- Idem, Bélgica, 2023

Direção: Lucas Dhont

Rémi e Léo, meninos de 13 anos, estão sempre juntos. Inseparáveis “best friends”. Riem, correm para lá e para cá com as bicicletas, apostam corridas, sempre alegres. Aproveitam o fim do verão.

Dormem juntos ora na casa de um, ora do outro.

Deitada na grama com o dois, a mãe de Rémi brinca de criticar o filho (Gustav de Waele) por ser mais calado que Léo (Eden Dambrine), dizendo que vai trocar de filho. O clima era de brincadeira e intimidade.

No primeiro dia de volta às aulas, porém, aqueles dois abraçados no pátio do colégio, rindo e conversando sem olhar para ninguém, mexem com a maldade e a inveja dos colegas.

De propósito, passam a falar cochichando quando passam pelos dois. Até um insulto é ouvido.

Léo fica incomodado. Não leva na brincadeira. Parte para cima do menino que gritara. Aquilo que existia entre os dois amigos e que eles viviam naturalmente, com intensidade, encontra um inimigo imbatível.

O preconceito vem separar Léo e Rémi. E haverá lágrimas e muita tristeza. Uma tragédia vai acontecer e deixar com sentimento de culpa e assustados todos que participaram, de uma forma ou de outra dos acontecimentos.

Como explicar o que houve?

Nossa cultura ocidental não permite que se quebrem tabus facilmente. Dois meninos que estão muito juntos são julgados pelo crivo da sensualidade. As pessoas confundem ternura e fragilidade com sexo. Proibido.

Lukas Dhont, 31anos, em seu segundo longa, lida com o tema do preconceito que ele viu de perto quando era garoto. Ele se assumiu gay muito jovem.

Em uma entrevista em Cannes, o diretor e roteirista conta que ganhou uma câmera de filmar aos 12 anos. Então passou a usá-la como um meio de criar uma outra realidade, onde ele não sofresse com a não aceitação que ele experimentava. Precisava desaparecer. Mas, aos poucos foi mudando, sentindo-se mais seguro e passou a filmar uma realidade que ele confrontava.

Seu primeiro filme, “Girl” de 2018, fala de uma menina trans que queria ser bailarina clássica, mas se sentia presa no corpo masculino. No Festival de Cannes onde o filme foi apresentado, ganhou o troféu Caméra d’Or de melhor filme de estreia e a Queer Palm para o melhor filme LGBT.

“Close” foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional.

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