Um Corpo que Gera

“Um Corpo que Gera”- “A Body that Works”, Israel 2023

Direção: Shay Capon

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Como sofrem os casais que querem ter filhos mas não conseguem. O bebê tão esperado não aparece, nem mesmo depois de mil tratamentos.

Elie (Rotem Sela) 37 anos e seu marido Iddo (Yehuda Levi) 40 anos, estão nessa categoria. Infertilidade. Apelam   então para uma gestação solidária, que é como chamamos aqui a “barriga de aluguel”.

Hen (Gal Malka), a candidata, é saudável, ativa, atraente e espontânea. Mãe solteira de Yuri de 10 anos, mora com o pai e o filho e ganha pouco como atendente de telemarketing.

O encontro dos três acontece na agência que trata da gestação solidária. Aparentemente sem problemas. Mas Elie parece ser quem mais sofreu com essa solução.

Por que essa outra que parece tão à vontade com Iddo mas reservada com ela ? Não vai participar de nada? Pensa ela afastada. E essa inquientação é má conselheira.

Elie é editora numa grande agência e é  conhecida como talentosa mas também impiedosa com os textos a ela submetidos. Trabalha atualmente comTomer Hemo, conhecido no cinema como roteirista. Mas Elie não está satisfeita nem com o texto nem com o autor. Resolve desistir do livro.

Enquanto Iddo, que é advogado, faz um grande sacrifício para conseguir dinheiro para a gestação, Elie muda de idéia e se envolve justamente com Tomer, a quem antes não suportava.

Do que se trata? Ciúmes em cena, não só da fecunda e bela Hen, mas de seu corpo que alimenta o bebê. Mas Elie ainda não sabe disso. Sua defesa é a fuga.

O que veremos nessa história é como a espera pela chegada desse bebê, tão desejado, mexe profundamente com as mulheres envolvidas. Parece que o fato, que desperta  lembranças do passado como filhas, traz à tona sentimentos sobre ser mãe. Nem sempre, na verdade, favoráveis.

A minisérie é muito bem feita, com direção e roteiro inteligentes de Shay Capon. A atuação soberba de todos os interpretes faz com que os temas tenham desdobramentos inesperados e convincentes que envolvem os espectadores. O trio principal atua de forma a dar realismo aos conflitos que vivem os personagens.

“Um Corpo que Gera” passa-se em  Israel mas não tem nacionalidade obrigatória. Poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, já que se trata de um tema universal: as dificuldades da maternidade e paternidade.

Excelente.

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Goyo

“Goyo”- Idem, Argentina, 2024

Direção: Marcos Carnevale

Ele é guia voluntário num museu de Buenos Aires. Percebe-se que ama a arte e entende profundamente a respeito. O grupo que o segue ouve o que ele explica mas pouco interagem. A comunicação não é o forte de Goyo. Ele é “diferente”. Muito educado e bem vestido, seu andar é um tanto rígido.

Na piscina, junto a outros com problemas de desenvolvimento neurológico, ele se sobressai, nadando com vigor. Mas a nota dissonante aparece quando o vemos agarrado à escada, sentado no fundo da piscina, com uma expressão angustiada.

Avisado, o professor se zanga:

“- Um dia você morre afogado Goyo!”

Goyo (Nicolás Furtado) tem um autismo leve (Asperger) e vive com seus dois meio-irmãos numa bela casa. Gosta de ser voluntário no museu e pinta quadros. Mas ultimamente falta-lhe inspiração. Seu artista preferido é Van Gogh e conhece bem tudo sobre ele.

Goyo se dá muito bem com o irmão mais velho (Pablo Rago) mas a irmã (Soledad Vilamil) é superprotetora e acha que Goyo tem que ser vigiado para que não sofra.

A família se divide quanto à capacidade do irmão mais jovem conseguir levar uma vida como eles mesmos.

E o problema surge naquela tarde chuvosa quando Goyo vê Rosa Montero (Nancy Dupláa) lutando com um guarda

chuva que não quer se abrir.

Foi amor à primeira vista. Ele a vê num quadro do estilo Van Gogh, bela, mais jovem do que Rosa é. Encantadora.

Ela, com problemas em casa, com um marido que não aceita a separação, não percebe o rapaz que a olha embevecido.

Ela também trabalha no museu e Goyo a procura lá. Há uma atração recíproca mas Rosa hesita. Ele é diferente de todos os homens que conheceu na vida.

Rosa vai conseguir ultrapassar o preconceito e o medo das esquisitices de Goyo?

Esse é um filme delicado que trata de um assunto ainda mal comprendido. Todos temos algo estranho. Ninguém é perfeito.

E a Sindrome de Asperger suscita muita discussão. Não é “doença”. Por isso não tem “cura”. Então talvez possamos pensar em afastar preconceitos e tentar ser mais sensíveis com pessoas que são diferentes de nós? Os ditos “normais”?

Vamos pensar nisso?

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