Os Olhos Amarelos dos Crocodilos

“Os Olhos Amarelos dos Crocodilos”- “Les Yeux Jaunes des Crocodiles”, França, Espanha, 2014

Direção: Cécile Telerman

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Relações familiares nem sempre são fáceis. É aí que acontecem encontros e desencontros que marcam a vida das pessoas.

Assim é com duas irmãs, Iris (Emanuelle Béart) e Josephine (Julie Dépardieu, filha de Gérard). A primeira, loura de olhos azuis é exibida e a morena, tímida. Preferida de sua mãe, Iris cresceu, aparentemente, segura e extrovertida. O oposto de Jo, mais íntima do pai sonhador que morreu cedo, deixando inspiração e gosto por histórias como herança para sua filha.

Iris casa-se com um advogado bem sucedido (Patrick Buel), é bonita, elegante, egoísta e leva uma vida fútil, na qual marido e o filho não ocupam quase lugar nenhum.

Já Josephine estudou muito a vida inteira, é especialista em história da Idade Média, tem um marido desempregado (Samuel Le Bihan), que logo vira ex e duas filhas. A caçula é mais próxima da mãe e a outra, a cara da tia Iris (Alice Isaaz, atriz que promete). Jo é apagada e desinteressante. Não se cuida. E está sempre precisando de dinheiro.

Mas quem diria? Iris, que se acha maravilhosa, tem um ponto fraco. Lá no fundo, quer também ser apreciada por seu intelecto. Vemos ela parada na frente do computador, sem inspiração. Deleta sempre o pouco que escreveu.

E, um belo dia, inventa uma mentira, que atrai mais olhares para ela:

“- Estou escrevendo um livro!”

Todos a olham curiosos. Qual  assunto?

“- Época medieval”, é o que ocorre a Iris, pensando na irmã.

E, claro, lá vai ela pedir que, em troca de dinheiro, sua irmã seja sua “ghost writer”.

O resto é previsível. Jo escreve o livro que faz um grande sucesso. E Iris, no auge da felicidade com as capas de revista, programas de entrevistas na TV e “status” de celebridade, anuncia uma continuação do livro.

Mas será que vai dar para manter a mentira que Iris inventou? Como ser uma escritora de sucesso sem nenhuma bagagem? Depender da irmã apagada e desprezada é o inferno pessoal de Iris.

Adaptação para o cinema do romance best-seller de Katherine Pancol, que escreve sobre mulheres que buscam o sucesso a qualquer preço, “Os Olhos Amarelos dos Crocodilos” perde-se um pouco nas histórias paralelas, o que alonga o filme, sem necessidade.

E se você quer saber quem é que vê os olhos amarelos dos crocodilos, tem que ver o filme. Não é nenhuma das duas irmãs.

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Samba

“Samba”- Idem, França, 2014

Direção: Eric Toledano e Olivier Nacache

Como é que uma parisiense branca de classe média alta fica conhecendo um imigrante negro senegalês que vive de trabalhos que duram no máximo uns dias?

A história desse par improvável é o miolo de “Samba”, drama bem humorado que trata menos da imigração africana ilegal na França, do que de pessoas solitárias que estão à margem e que não se integram à sociedade constituída.

Samba Cissé (o grande Omar Sy) está há dez anos na França, mora com um tio que é cozinheiro num restaurante de um bom hotel mas não conseguiu legalizar sua vida. É um “sans papier”, não tem documentos e, por isso, é preso numa batida da polícia e vai para o centro de detenção de imigrantes ilegais para que seu caso seja julgado.

Alice (a excelente Charlotte Gainsbourg, de quase todos os filmes de Lars von Trier) está desorientada, estressada. Teve um surto no trabalho numa grande companhia e está de licença médica. Toma remédios fortes mas nem assim consegue dormir.

Enquanto espera melhorar, ela começa um trabalho voluntário numa ONG que tenta ajudar imigrantes ilegais a conseguir papéis para que possam viver com mais tranquilidade na França.

Apesar do aviso de sua colega Manu (Izia Igelin), para não se envolver pessoalmente com os dramas que ela vai escutar, a primeira pessoa que cruza o caminho de Alice nesse lugar é Samba Cissé.

Ele conta sua história com sua voz calma e presença impressionante, sempre olhando Alice com olhos expressivos. E quando, por acaso, ficam a sós, a aproximação é imediata. Mas não somente na pele, principalmente na alma.

Aquele homem grande e complicado faz Alice pensar em si mesma. Quer ajuda-lo porque, no fundo, os problemas deles são parecidos. Estão excluídos, sem família, sem projeto, perdidos.

Ela oferece uma barrinha de cereal para a fome dele e remédio para dormir mas, isso não foi o principal da cena. O foco é na aproximação entre eles, que foi imediata. Alice e Samba reconheceram-se como membros da mesma tribo.

E, ao invés do clichê do casamento para conseguir cidadania, “Samba” vai mostrar a complexidade de seus personagens, suas dúvidas, seus medos, seus erros, suas esperanças.

Uma nota simpática é a participação do ator Tahar Rahim (César de melhor ator por “O Profeta”, 2009), como um argelino que se passa por brasileiro, porque ele acha que tudo dá certo para eles.

E “Palco”de Gilberto Gil e “Take it easy my brother Charlie” de Jorge Benjor animam uma dança de Alice e do “brasileiro Wilson”, para os olhos compridos de Samba.

Os diretores, roteiristas e diretores, Eric Toledano e Olivier Nacache, que assinaram o filme “Intouchables”, que arrecadou mais de 400 milhões de dólares mundo a fora, voltam a colocar em evidência o grande magnetismo de Omar Sy, que faz uma parceria brilhante com Charlotte Gainsbourg.

É um filme para o grande público, sem dúvida, mas que se serve de um humor que não é barato nem vulgar e que nos brinda com cenas comoventes nas mãos de um elenco afinado.

Sucesso garantido.

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