Obsessão

“Obsessão”- “Greta”, Estados Unidos, Irlanda

Direção: Neil Jordan

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Uma bela bolsa verde está abandonada no metrô de Nova York. Frances (Chloe Grace Moretz) vai no “Achados e Perdidos” mas não tem ninguém lá. Então leva a bolsa para casa pensando em devolvê-la pessoalmente.

Frances veio de Boston para morar um tempo com sua amiga Erica (Maika Monroe) que ri dela:

“- Em Nova York quando a gente acha uma bolsa tem que chamar a polícia. Só pode ser uma bomba!”

E, claro, abre e encontra dinheiro, um bilhete de loteria e a identidade com o endereço de Greta Hideg (Isabelle Huppert, sempre magnífica).

Vão ao cinema e Erica percebe que a amiga está chorando antes de começar o filme:

“- É porque cinema era uma coisa nossa, da Mamãe e eu…”

Frances perdera a mãe e ainda estava de luto. Algo acontecera, que não ficamos sabendo, envolvendo o pai dela. Mas uma coisa compreendemos. Frances está sensível e carente, fácil presa para alguém mal intencionado. Existe uma fronteira borrada entre realidade e ficção que penetra na mente dela, que está muito perturbada.

E a misteriosa Greta, que mora numa casinha escondida num beco, fica deliciada quando Frances vem devolver sua bolsa. Convidada para um chá, logo fica sabendo que o marido de Greta morreu e que sua filha Nicola mora em Paris.

Greta senta-se ao piano e toca Liszt, “Um Sonho de Amor”:

“- É o que me resta. Um sonho. Uma lembrança.”

Frances, que sente saudades da mãe, vai se apegar muito facilmente a Greta, aquela que perdeu todos os seus amores. Mal sabe ela onde está pisando.

“Obsessão” é dirigido por Neil Jordan, 69 anos, o escritor, diretor e produtor irlandês, que ganhou vários prêmios com seus filmes como o Oscar de melhor roteiro original por “Traídos pelo Desejo – Crying Game” e o Leão de Ouro em Veneza como melhor diretor por “O Preço da Liberdade”.

Aqui, ele dirigiu e escreveu o roteiro com Ray Wright e o tema principal do filme é o apego com possessividade como doença mental. É o caso da mãe superprotetora doentia que fecha a filha numa caixa, metáfora de sufocação amorosa.

As tintas são mais carregadas no caso da personagem Greta. Ela lembra os ogros das fábulas dos irmãos Grimm. Faminta de juventude, é a bruxa que prende a menina que quer viver sua própria vida. Ele é movida a solidão e rancor.

Também lembra a madrasta da Branca de Neve. A isca aqui é a bolsa, não a maçã. Mas a personagem é a mesma: a mãe que inveja mortalmente a filha.

Isabelle Huppert, falando inglês com sotaque, está ótima como Greta, a seca e tortuosa viúva, plantada em sua casa, à espera.

Se não é um grande filme, também não é mau. Sempre é fascinante ver a brilhante Isabelle Huppert na tela fazendo um personagem. Dessa vez metendo medo nas mocinhas incautas.

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Fora de Série

“Fora de Série”- “Booksmart”, Estados Unidos, 2019

Direção: Olivia Wilde

Este é um filme sobre a passagem da adolescência para a vida adulta. Um tema muito usado no cinema. Mas aqui tem algo de novo no modo com que a história é contada. Passa-se nos Estados Unidos, Los Angeles, numa “High School” de jovens descolados, bem vestidos em seus estilos originais e divertidos. Mas há duas garotas que destoam do resto e elas são as personagens principais.

O filme é também a estreia da atriz Olivia Wilde, 35 anos,  na direção. Ela tem origem irlandesa e vem de uma família de jornalistas bem sucedidos.

O roteiro é de Emily Halpern e Sarah Haskins, duas graduadas em Harvard. Ficou rodando os estúdios por um bom tempo até ser apurado por Kate Silberman, Susanna Fogel e a diretora.

As personagens principais são duas melhores amigas, que se sentam na primeira fila da sala de aula, prestam atenção e tiram as notas mais altas porque se dedicam ao que será o futuro delas.

Molly (Beanie Feldestein) e Amy (Kaitlyn  Dever) não se largam, juntas o tempo todo, trocam confidências e segredos. Molly (na vida real irmã de Jonas Hill) vai para Yale e seu sonho é tornar-se a mais jovem juíza da Suprema Corte. E Amy pensa em ir para Botswana fazer trabalho voluntário e depois seguir seus estudos na Universidade de Columbia.

Essas duas melhores amigas não dão a mínima para o fato de serem diferentes dos outros. No fundo, se acham superiores porque é certo que vão entrar nas melhores faculdades.

Elas pensaram em tudo menos no que aconteceu quando Molly, no banheiro da escola, escuta uma conversa de alunos relapsos, sobre as universidades que iriam cursar, tão boas quanto a dela. Um deles já tinha garantido um emprego no Google com um salário que valia a pena.

Foi um choque. Molly conta tudo para Amy e sua conclusão é a de que perderam um bom tempo só estudando e os outros, que não estudaram tanto e se divertiram muito é que estavam certos.

Então ficou decidido que na última noite antes da formatura elas vão fazer tudo que não fizeram até agora. E claro, vão se meter em encrencas colossais,  experimentar drogas, sofrer decepções e fazer algumas descobertas importantes sobre si mesmas.

O filme tem bom humor, diálogos naturais e cenas criativas como quando as meninas se drogam e viram Barbies ou na piscina quando Amy pensa que é uma sereia.

Claro que é um universo muito diferente da maioria das escolas brasileiras mas há nesse filme um sentimento presente em todos os adolescentes de ontem e de hoje, não importando que as roupas e as piadas sejam diferentes. A festa vai acabar…

A juventude passa e não tem jeito. Não volta mais. Há que encarar a vida que continua. Tudo passa.

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