Cafarnaum

“Cafarnaum” - “Capharnaum”, Libano, 2018

Direção: Nadine Labaki

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No tempo de Jesus, Cafarnaum era uma cidade na Galileia, onde ele pregou e curou doentes Em 665 d.C. foi destruída por um violento terremoto. Em 1894 o lugar onde a cidade estava foi adquirido dos beduínos, donos da terra, pelos franciscanos que, pacientemente, restauraram a cidade bíblica. O nome da cidade virou sinônimo de “cáos” em árabe.

Beirute, uma cidade esplêndida à beira mar, tem bairros onde impera a pobreza e a violência. Foi palco de guerras, tragédias e muito sangue derramado. Uma vista aérea mostra um lugar sem cores nem brilho, telhados improvisados, ruas estreitas, buzinas, balbúrdia, poeira e crianças nas ruas brincando de guerra com armas de brinquedo.

Zain, um menino mirrado de uns 12 anos, com ar decidido e sempre muito sério, rostinho amuado, vive com os pais e muitos irmãos num prédio caindo aos pedaços. Dormem no chão, estão mal alimentados e os menores vivem chorando.

Falta tudo naqueles cômodos sujos. Principalmente cuidado com as crianças. Pai e mãe não tem jeito para carinhos. São pessoas duras, sofridas e ignorantes. Fazem filhos sem responsabilizar-se por eles. Não sabem educar, só castigar.

Zain trabalha fazendo entregas dos comerciantes locais mas a família é sustentada pelo tráfico de Tramadol, uma droga que o menino compra sem receita na farmácia, inventando mentiras que são aceitas sem problemas.

Através de um estratagema original vendem a droga na prisão onde está o tio.

Zain tem uma irmã que ele adora, de 11 anos, Samar, que os pais querem vender ao filho do locatário do prédio onde moram. O menino tenta evitar a execução desse plano mas não consegue impedir o negócio.

É então que ele sai de casa, amaldiçoando pai e mãe. E vai viver seu inferno particular.

Em suas andanças perdidas na cidade, Zain encontra Rahil, uma etíope ilegal que tem um bebê e acaba ajudando ela, tomando conta de Jonas. Toda a atenção que nunca teve, Zain vai exercitar com esse bebê. Há cenas engraçadas e ao mesmo tempo angustiantes com as aventuras dessa dupla.

Mas o cáos não dá trégua e envolve cada vez mais Zain que, finalmente, é tomado pela ira.

Depois de muito penar, o primeiro sorriso de Zain emociona e é uma nota de esperança que levamos conosco, em meio a lágrimas.

Nadine Labaki, que aparece no filme como a advogada de Zain, ganhou o prêmio do Júri de Cannes e seu filme está na lista dos indicados para o Oscar de melhor filme estrangeiro.

“Capharnaum” mostra que sua diretora tem o olhar humanista que é tão necessário nos dias em que vivemos. Imperdível.

O Peso do Passado

“O Peso do Passado” - “Destroyer”, Estados Unidos, 2018

Direção: Karyn Kusama

Os olhos verdes de uma mulher, com grandes olheiras e sem brilho, nos contam, desde o início, que ela passou por algo terrível, que a marcou para sempre. Andando ela parece um robô. Muito magra e pálida, mal consegue se manter em pé. Estará bêbada?

Os policiais numa cena de crime, um homem assassinado, pedem que ela se vá:

“- Detetive Bell, você precisa descansar…”

Na nuca do morto três pontos tatuados, um revólver vermelho ao lado e notas de dólares manchadas de tinta roxa:

“- Não há testemunhas.”

A detetive Erin Bell aceita o pedido dos colegas para se retirar e sai murmurando para si mesma:

“- Se eles soubessem que eu sei quem foi o assassino…”

Quando começam os flashbacks entendemos que ela, 20 anos atrás, infiltrou-se numa gangue metida com drogas com um outro policial, sua dupla Cris (Sebastian Stan). Os elementos do grupo eram chefiados por um cara mau e sádico, chamado Silas (Toby Kebbel).

E houve um assalto a banco mal sucedido.

Entendemos também que ela luta para salvar sua filha Shelby (Jade Petitjohn) de uma vida de drogas e de uma relação com um homem bem mais velho e mau caráter.

Nicole Kidman, uma das melhores atrizes de sua geração, mostra em “O Peso do Passado – Destroyer” o quanto é talentosa. Faz a mulher desesperançada e autodestrutiva, revoltada contra tudo e todos, com um toque ainda do poder de sedução perdido e uma beleza da qual sobraram os restos.

Uma vida em frangalhos. Mas com uma ideia fixa e obsessiva na cabeça. Ela é movida a vingança.

A própria Nicole Kidman faz a Erin Bell na juventude e está bela e sexy nas imagens da jovem policial infiltrada na gangue, que atrai os olhares masculinos.

Se a maquiagem ajudou ou é o talento que faz essa magia de poder tanto ser uma mocinha quanto uma mulher gasta pela vida, aposto no talento dela. Não há maquiagem que faça os olhos brilharem num momento e no outro parecerem sem brilho, vazios, mortos.

O filme vale pela atuação dessa estrela que brilha sempre.