Cem anos de solidão

“Cem anos de solidão”- “Cien anos de soledad”, Colombia, 2025

Direção: Alex Garcia Lopes e Laura Mora

Oferecimento Arezzo

Publicado em 1967, o livro “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marques, escritor colombiano, foi um sucesso internacional. Ganhador do prêmio Nobel  de literatura em 1982, nesse livro fascinante ele conta a história de Macondo, um povoado fictício, fundado pelo casal Buendia. Vamos acompanhar a saga dos Buendia por 100 anos.

O livro tornou-se uma série adaptada pela NETFLIX. Com 16 episódios no total, a primeira parte já está disponível com 8 capitulos, contando a história de Ursula e José Arcadio, a família que formaram e os habitantes que vieram depois para Macondo.

Assim, sete gerações da família Buendia vivem amores e ódios e veem repetir-se o passado do qual não conseguem libertar-se. A matriarca  Ursula é a personagem que mais tem autoridade e mais se envolve em todas as tramas. Mas nem ela, com toda a sabedoria e vivência, consegue dar uma direção coerente aos habitantes de Macondo.

Com uma produção impecável dos filhos do autor do livro,  Gonçalo Garcia Barcha  e Rodrigo Garcia, vamos ver as pessoas viverem passando por transformações no tempo entre os séculos XIX e XX. Há um contínuo diálogo entre o real e o fantástico. Pessoas desaparecem, aparecem os mortos, sofrem a praga do sono, quando todos dormem por anos, a da insonia quando ninguém consegue dormir,  pessoas voam e muitas outras coisas surreais.

O estilo de Garcia Marques é respeitado na adaptação do livro e conseguimos perceber que a história mostra a cultura de uma parte do América Latina e os valores que a sustentam.

Aliás, Macondo é o mundo. Lá a natureza humana vai mostrar seu lado bom e o terrível. A corrupção, a traição, a inveja e a guerra coexistem com o amor, a compreensão, o acolhimento e a vontade de viver em paz.

“Cem anos de solidão” comove e nos encanta pela   beleza dos cenários criados e dos naturais.Somos transportados a viver com os personagens.

Magistral.

Maria

“Maria”- “Maria Callas”, Estados Unidos,2024

Direção: Pablo Larrain

A vida de Maria Callas foi uma ópera. Difícil, dura, e luminosa e surpreendente, ao mesmo tempo. Em seu filme, o diretor chileno Pablo Larrain cria, com o roteiro de  Steven Knight, uma fantasia sobre a diva nos seus últimos dias, aos 53 anos (2 de dezembro de 1913-16 de setembro de 1977).

Na abertura, em preto e branco, a vemos cantar “Ave Maria” do “Otello” de Puccini. E já estamos fascinados com ela e sua voz potente e bela. Angelina Jolie a interpreta com paixão.

O apartamento da diva, Avenida Gerorge Mendel,é um palco luxuoso onde ela vive com seus dois guardiões, Bruna (Alba Rohrwacher) e Ferrucio (Pierfrancesco Favino).

Um piano é arrastado de cá para lá, numa dança insana, assim como na mente de Maria o passado faz reviravoltas. Ela vagueia pelo apartamento e já não sabe dstinguir a realidade da alucinação.

Magérrima, entope-se de remédios para poder viver. Procura o que perdeu. O que tiraram dela. Vamos ver trechos e momentos da vida de Maria, ora em colorido, ora em preto e branco, numa grande entrevista onde conta sua versão da existência.

Angelina Jolie faz de sua Callas um alterego que nos comove, coadjuvada pelas árias que canta. Ouvimos “Traviata”,o coro do “Va Pensiero”do “Nabuco”, “Tosca” de Puccini, “Madame Buterfly”,” Ana Bolena” , “O Mio Babino Caro” de Giani Schichi e “Casta Diva” de Bellini, seu maior sucesso.

Dois poodles correm pelo apartamento mas não recebem um carinho da dona deles. É o lado frio dela. Procura mas repele ao mesmo tempo. Ela se volta inteiramente para seus proprios fantasmas. Procura a voz que está perdendo.

Veremos cenas que trazem alucinações misturadas com lembranças do passado. Olha para trás. Foi feliz?

Onassis (Haluck Bilginer) que a proibiu de cantar, a mãe que a obrigou a cantar e agora que ela pode cantar sua voz a atraiçoa.

Num restaurante onde é a última a sair, responde ao garçom que lhe oferece o que comer:

“- Não tenho fome. Venho ao restaurante para ser adorada.”

Ela precisa ser admirada. O anos passaram e as plateias já não aplaudem.

Pobre Maria. Fragilíssima. Sucumbe só.

Nas cenas da vida real que passam na tela com os créditos finais, ela está bela e charmosa mas já aparece a carência que a acompanhou por toda a vida.