Um Lugar Qualquer

“Um Lugar Qualquer”- “Somewhere”, Estados Unidos, 2010

Direção: Sofia Copolla

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Uma Ferrari preta barulhenta dá voltas em circulo e volta sempre ao mesmo lugar num deserto. O dono dela é um ator famoso sempre numa vida vivida sem emoção. Mesmice. Ou angústia?

Ele cai numa das andanças pela noite e quebra o punho. Johnny Marco (Stephen Dorf) está na cama sonolento e deprimido. Não se anima nem com as duas garotas gêmeas e louras fazendo um número de “pole dance” no quarto dele. Ele mal mexe os olhos. Desinteressado.

Mas entende-se que mulher é o que não falta na vida dele. Correm atrás. Mas Johnny faz sexo como quem faz ginástica. Blasé.

O cenário do filme é o famoso e tradicional hotel Chateau Marmont em Los Angeles. E a diretora e roteirista do filme, Sofia Copolla, combina com o conforto e o luxo tímido do lugar que abriu suas portas para ela porque ela é ela.

Quando o filme começa, depois das garotas louras,  ficamos sabendo que ele tem uma filha de 11 anos, Cleo, que a ex pede para passar uns dias com o pai.

A reação é a mesma de sempre. Deslocado, recebe a filha sem entusiasmo. Beijo na testa.

O tédio e o vazio daquele espaço onde vive o ator, agora tem uma mudança de energia. E vemos ele acordar admirado com a beleza da filha patinando no gelo.

E Cleo se torna parceira do pai. Vai onde ele for e sua presença delicada parece que está tirando o pai do marasmo afetivo em que ele vivia.

Uma cena na piscina com os dois brincando é adorável. Cleo convida Johnny a relaxar e ser o pai dela. Os dois depois descansam ao sol sem necessidade de palavras.

O amor quando é represado, às vezes rompe barreiras e pode haver um mergulho na angústia, produto da conscientização do que se perdeu e não se recupera.

Mas há motivos para se pensar em mudanças benéficas na vida de pai e filha.

Sendo Sofia Copolla a roteirista e diretora podemos pensar em toques pessoais? A família toda envolvida com o cinema pode ter inspirado algo na história desse pai e filha. Mas sempre estamos naquilo que criamos, não é mesmo?

Babel

“Babel”- Idem, Estados Unidos, 2006

Direção: Alejandro Gonzáles Iñárritu

O diretor mexicano Iñárritu, de tantos filmes de sucesso, como “Birdman”, 2004, que ganhou o Oscar de melhor filme, “The Revenant”, 2015, que deu o Oscar de melhor ator a Brad Pitt, traz à baila uma história que é costurada ao longo do filme envolvendo situações perigosas.

Quatro famílias de diferentes pontos do planeta vão ter histórias entrelaçadas e terão que tomar decisões difíceis.

O filme começa no Marrocos, onde um casal tira férias. Estão num ônibus e são surpreendidos por um tiro que atinge o vidro da janela e fere Susan (Cate Blanchett). Isso coloca em desespero o marido dela, Richard (Brad Pitt). Estão no meio do deserto. O ônibus para e ela é levada para uma das casas do vilarejo. Susan perde muito sangue.

Mas de onde surgiu esse tiro? Terroristas, dizem alguns dos passageiros do ônibus que querem sair correndo daquele local. Não parece. Mas nós sabemos o que aconteceu. Um rifle, que um guia ganhou de um caçador japonês, foi vendido para um pastor proteger seu rebanho de coiotes. Seus dois filhos adolescentes pegam a arma e vão praticar tiro. E foi esse tiro que acertou Susan, sem querer.

Do Marrocos ao Japão esse incidente vai mexer com a vida de personagens que se veem envolvidas sem saber.

Do Marrocos vamos o México, onde uma babá (Adriana Barraza) se vê impotente e desesperada pelo que pode acontecer com as crianças de quem ela tomava conta e adorava.

E o circulo se fecha no Japão quando uma filha mostra ao pai a sua dor.

Iñárritu conta uma história que viaja a diferentes pontos do globo, mostrando solidariedade entre desconhecidos e reconciliação entre quem está próximo e não se entende.

“Babel” reflete sobre a ideia de que não nos comunicamos apenas pelas línguas que falamos mas também pelo reconhecimento da dor no outro. E há os que ajudam o próximo e os indiferentes frente a essa dor.

Iñárritu, com o co-autor desse roteiro, Guilherme Arriaga, foram indicados a vários prêmios. O filme é merecedor.

Se você não viu ou quer ver de novo, “Babel” está na Netflx. Recomendo.