Napoleão

“Napoleão”- “Napoléon”, Estados Unidos, 2023

Direção: Ridley Scott

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Às críticas levantadas pelo seu filme “Napoleão”, Ridley Scott respondia: “Você estava lá?”

Ou seja, o filme não é um documentário. Há espaço para a imaginação e a fantasia na recriação do personagem mais famoso da História da França, quando se trata de conquistas em guerras vitoriosas. General, líder militar, ele foi um grande estrategista.

Aliás foi muito mais longe do que seus pares. Politicamente, conseguiu ocupar lugar no Diretório, no Consulado e finalmente chegar a Imperador (1804-1814).

O célebre quadro de Jean-Louis David, “Le Sacre de Napoléon”, pintado ao vivo em 2 de dezembro de 1804 na Notre Dame de Paris, é mostrado no filme no canto da cena principal. Célebre, grandioso, o momento ficou marcado pelo gesto impetuoso de tomar a coroa das mãos do Papa Pio VII e colocá-la na própria cabeça. O mesmo ele fez com a coroa de Joséphine de Beauharnais, sua esposa.

“- Eu nasci para ser grande! ”exclama numa conversa com aquela que foi sua segunda esposa, seis anos mais velha, viúva e com dois filhos.

“- Você quer ser grande mas não vai ser nada sem mim”, responde ela que conhecia a corte, suas maneiras e meandros, e todos que precisavam dar espaço para Napoleão conseguir o que queria.

Ele não era do povo. Nascido na Córsega em 1769, seu pai era representante de Louis XVI e sua família descendia de nobres toscanos. A mãe ocupava grande espaço nos atos do filho que queria a admiração dela. No filme vemos quando seu cavalo é atingido por uma bala de canhão e ele sai ileso. Finda a batalha, ele procura a bala nas entranhas do animal e pede ao irmão que a bala seja levada para sua mãe.

A cenas de batalhas são perfeitas. Cruentas e belas, levadas no tempo exato, em formações comandadas por Napoleão.

Mas, no filme, as cartas inspiradas e o amor por Josephine são o ponto alto de atuação de Joaquin Phoenix, cujo rosto expressivo mostra tanto a paixão quanto a cólera. Vanessa Kirby (que fez a princesa Margareth em “The Crown”) emociona pela beleza arrogante e pelo sacrifício, tendo que divorciar-se porque não conseguia dar um herdeiro ao trono.

Ridley Scott, o diretor de “Os duelistas”, “Gladiador” e “Alien, o oitavo passageiro”, entre outros, mostra através da figura de Napoleão um lado ambicioso e cruel da natureza humana que leva os homens à guerra e à morte, sem nenhuma compaixão. Estima-se entre três e seis milhões de mortos o saldo de vidas humanas perdidas nas guerras napoleônicas.

Em alguns momentos do filme a narrativa torna-se confusa devido ao grande corte executado pela Apple. De olho no Oscar, o filme não poderia ter mais de duas horas e precisaria seguir a regra de exibição nas salas de cinema.

Mas com todos os percalços, “Napoleão” vai estar certamente entre os indicados à cobiçada estatueta dourada. É um grande filme.

The Crown 6a temporada, 2023

“The Crown”, 6ª temporada, Reino Unido, 2023

Direção: Christian Schwochow

Brilha a Tour Eiffel na noite de Paris. E um rapaz passeia com seu cãozinho. De repente uma Mercedes preta passa a toda pela avenida, perseguida por motos e outros carros. Assustado, o rapaz ouve um estrondo e imediatamente liga para a polícia. Avisa do acidente que acabou de acontecer no túnel Pont de l’Alma.

Em sua 6ª temporada, a série de grande sucesso, coloca em primeiro plano a princesa triste, Lady Diana. Sabemos como sua morte foi lamentada pelo mundo todo que acompanhava sua história.

O tempo volta na tela e o Primeiro Ministro, Tony Blair, tenta convencer a rainha Elizabeth II de que Diana, mesmo divorciada, podia ser útil à Coroa. Ele comenta a fama que ela tem e o carinho dos súditos com ela. Mas o muro que a deixou fora da família real é alto e inexpugnável. Aos 36 anos, Diana é considerada “persona non grata” pela rainha (Imelda Stanton), mesmo sendo a mãe de um futuro rei.

Para quem acompanhou a série e leu sobre os acontecimentos, é como se encontrássemos velhos conhecidos. Os atores continuam ótimos. Principalmente Elizabeth Debicki, que encontrou o caminho certo para interpretar Lady Di sem imitação barata e criando o clima de carisma que a rodeava. Imelda Stanton faz a rainha com o rosto e a entonação da voz. E Mohamed Al-Fayed tem em Salim Daw o interprete perfeito.

E uma pergunta. É tudo verdade? A narrativa dos eventos é respeitada mas o criador, Peter Morgan, inseriu cenas imaginadas, especialmente as conversas que só os personagens reais podem dizer se são exatas.

A figura que ocupa mais espaço que a rainha é o pai de Dodi Al-Fayed, o companheiro de Diana que morreu no acidente. Esse egípcio bilionário que quer chegar de qualquer jeito à elite britânica compra o Harrod’s, o Ritz de Paris e o castelo que acolheu o rei que abdicou do trono por amor. Seu sonho é casar o filho com Diana.

Enfim, Diana é vista como uma pessoa carente, com uma infância sem mãe e pai negligente. Ela quer ser amada. Mas essa parte infantil de sua personalidade a faz querer um amor sem jaça. Inexistente. E a presença de Camila na vida de Charles mexeu profundamente com sua auto estima e sentimentos de rejeição. Pobre menina.

São 4 episódios disponíveis e mais uma segunda parte, finalizando a série, a partir de 14 de dezembro.

Vou maratonar.