Escobar – A Traição

“Escobar – A Traição”- “Loving Pablo”, Espanha, Bulgária, 2017

Direção: Fernando León de Aranoa

Oferecimento Arezzo

Um homem poderoso e um bandido cruel, mas em alguns momentos visto como um protetor do povo mais humilde de seu país, a Colômbia. Um carrasco cínico?

Corpulento, fala mansa, cabelo ondulado e bigode farto, encantou Virginia Vallejo (a bela Penélope Cruz), jornalista e apresentadora de um programa na TV.

Ela o conheceu na festa em seu “Naples Ranch” que comemorava a fundação do cartel de Medellín, com Pablo Escobar Gavíria (Javier Bardem, magnífico) como seu chefe, em 1981.Todos os novos ricos presentes, modelos, jogadores de futebol e rainhas da beleza servidos pelos “soldados” armados, que faziam de criados.

Quando ela chega de jatinho, vestindo Pucci, Pablo leva a moça para visitar seu famoso zoológico. Elefantes nos trópicos. É o primeiro olhar de admiração da bela Virginia.

À noite, na festa, ela vai conhecer os “reis da montanha branca”, donos dos outros cartéis. E, vestida num tomara-que-caia dourado e orquídeas no cabelo alourado, também encanta Pablo.

No dia seguinte, caminhando pelo lixão, ele mostra as 600 casas já construídas das 2.000 prometidas para aquele povo onde todos os meninos se chamavam Pablo em homenagem a ele. Virginia confessa em seu livro “Loving Pablo, Hating Escobar” que não se importou mais com a forma como ele ganhava o seu dinheiro, mas como gastava. Depois isso mudou mas eram tempos de lua de mel para ela.

Pablo, casado com Victoria, com um filho, obriga o marido de Virginia a assinar o divórcio e ela começa a ser vista com ele em todos os lugares. Mas, muito protetor com a família não escondia de Virginia que sua mulher seria sempre a primeira. Depois de nascida sua filha, manteve um laço amoroso com ela. Sua princesa, como a chamava. E foi assim até o fim.

O roteiro do filme foi adaptado do livro da apresentadora que manteve um longo caso com o homem que a seduziu e depois abandonou. Há um olhar feminino que brilha sobre o homem amado e generoso provedor e lágrimas e raiva contra o mesmo homem quando, no declínio, cessa de prover e proteger. E a joga aos lobos ou seja, todos que o odeiam.

Ele mudou a vida dela para sempre. Para o melhor e o pior.

O maior charme do filme, no entanto, e que vale o ingresso, é a presença desse casal da vida real, Penélope Cruz e Javier Bardem, que emprestam talento e carisma aos personagens que interpretam.

Gauguin – Viagem ao Taiti

“Gauguin - Viagem ao Taiti”- “Gauguin – Voyage de Tahiti”, 2017

Direção: Edouard Deluc

Quando pensamos que um dos quadros mais famosos de Paul Guauguin (1848-1903), “Nafea Faa Ipoipo” de 1892, época de sua primeira viagem ao Taiti, foi vendido por 300 milhões de dólares em 2015, o filme que conta essa época de sua vida, chama nossa atenção.

E, no entanto, quando o segundo longa de Edouard Deluc começa em Paris, 1891, ninguém se interessava pelas pinturas dele.

Aborrecido, sempre pressionado pela falta de dinheiro, Gauguin sonha com o Taiti. E diz aos amigos:

“- Precisamos partir. No Taiti ninguém precisa de dinheiro. E podemos caçar, pescar e pintar, pintar, pintar. O mais importante. ”

“- Mas a Polinésia Francesa é longe… Viagem arriscada…”

“- Não quero pintar nada daqui. Tudo é sujo e feio ”, retruca ele.

Paul Gauguin, que tinha uns 40 anos, idealizava a terra distante e selvagem, as ilhas cercadas pelo mar de diferentes azuis, como sendo um paraíso terrestre. Mas só ele partilha dessa opinião. Sua mulher não quer acompanhá-lo nessa viagem, nem seus cinco filhos que a mãe quer ver estudando e se formando.

E ele vai só. De certa maneira tinha razão. Lá ele encontra sua musa Tehua (Tuhei Adams, ótima atriz mas mais velha que a personagem real), bela adolescente onipresente nas telas desse período.

Mas também se depara com o seu inferno. Sofre um infarto, adoece com tuberculose, não consegue sobreviver dignamente porque não vende seus quadros (nem os que manda para a Europa), sua esposa Mette pede o divórcio e ele se consome de ciúmes de Tehura, com quem tem um casamento temporário. E tem que trabalhar pesado, descarregando cargas de navios.

Vincent Cassel, ator competente, faz um Gauguin angustiado, sofrido, sempre à procura de algo inatingível. Só parece feliz quando está concentrado pintando Tahua que posa para ele.

Homem de seu tempo, ele trata a “maori” como se fosse sua posse. Quando as telas acabam, ele usa sacos de aniagem.

Tanto em Paris quanto no Taiti, a miséria o persegue. Numa das cartas que escreve para sua mulher Mette ele declara: “Sou uma criança e um selvagem. Sua família não entende o que é ser artista. Sei que sou um grande artista e preciso viver assim. Senão seria uma farsa. Um dia nossos filhos irão se orgulhar do nome que levam. ”

Paul Gauguin teve que ser repatriado como indigente e doente em 1893. Ele voltou ao Taiti mas nunca mais reviu Tehura. Morreu pobre e só em 1903.

Tinha 55 anos.