Julieta

“Julieta”- Idem, Espanha, 2016

Direção: Pedro Almodóvar

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Quantas vezes a casualidade muda nossas vidas? É raro mas acontece.

Julieta (Adriana Ugarte) mora em Madrid mas vai se mudar para Portugal com o namorado (Dario Grandinetti). Ambos não são jovens mas parecem se entender bem e querer essa mudança de rumo.

Porém, quis a vida que Julieta se encontrasse na rua com Bea (Michelle Jenner), outrora melhor amiga de sua filha, Antía. Surpresa, Julieta ouve que ela mora na Suissa e tem três filhos. Há quanto tempo essa mãe não sabe nada sobre sua filha?

O rosto tranquilo de Julieta muda completamente. Vê-se que está ávida por notícias da filha. Mas a outra está com pressa e se despede. Há quanto tempo mãe filha não se veem? E por que?

Esse encontro casual vai mudar a vida de Julieta. Não irá para Portugal. O namorado não entende o porquê. Mas ela não explica.

Muda-se para o antigo prédio em que morava porque Antía poderia vir a procurá-la. E começa um relato escrito onde explica para a filha sua vida com o pai dela, Xoan (Daniel Grao). Recupera uma foto rasgada dela com a filha e junta os pedaços. A foto vai servir de inspiração para Julieta no relato que vai escrever.

E começa o abrir e fechar das cortinas do teatro interno de Julieta. Cortinas cor de carne, a primeira imagem do filme. Elas se abrirão nos mostrando as cenas do drama, indo e vindo no tempo.

Cores fortes vestem as heroínas de um enredo que vai contar uma história de amor envolvendo pai e filha, que quase excluía a mãe. Perda, dor, luto e esperança serão os sentimentos que entrelaçam os personagens.

Pedro Almodóvar inspirou-se em três contos de Alice Munro para escrever a história de sua Julieta. Quem é fã do diretor vai encontrá-lo mais maduro e sereno.

Mas sempre atraente e genial

Fome de Sucesso

“Fome de Sucesso”- “Hunger”, Tailândia, 2023

Direção: Sitsiri Jaturanrasamee

Filmes sobre chefs de cozinha há muitos. Mas cada um vai escolher o conflito central que vai fazer a diferença. Aqui em “Fome de Sucesso” existe uma crítica social bem colocada.

Estamos na Tailândia, lugar de turismo exótico. Mas não vamos seguir por essa trilha.

A comida é algo essencial à vida. Infelizmente, no mundo de hoje, milhões de pessoas comem mal, outras passam fome e sofrem.

No entanto, pessoas como o chef Paul (Nopachai Chaiyanam) não se importam com pessoas mas trabalham com comida para ganhar a admiração dos ricos que podem contratá-lo. Seu narcisismo é alimentado pela “fome” que ele provoca nas pessoas que estão mais interessadas em exibir “status” do que em comer bem. O chef quer ser uma lenda.

Há no filme uma cena dele criança, roubando da geladeira um potinho de caviar, proibido para ele, filho da empregada. E o potinho cai no chão e quebra. A patroa fica brava com a mãe dele que chora. Ele, nada arrependido, pega do chão os grãos cinzentos e prova. E não gosta. E fica pensando. De onde vem a fama desse caviar? Talvez esse episódio vai levá-lo a querer ser valioso e caro. Mais do que o caviar que irá enfeitar a comida assinada por ele.

No bairro pobre da cidade, uma bela mocinha, Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) cozinha para a vizinhança, no bar da família dela. Ela é talentosa e amável. Cozinha bem. Preocupa-se com o que faz e gosta quando apreciam sua comida.

Logo ela é convidada para ser aprendiz na cozinha do chef Paul. Ela hesita mas a família precisa de dinheiro.

E ela vai viver um pesadelo. Em tudo diferente do chef, ela nunca consegue satisfazê-lo. Com um sadismo ardiloso, ele maltrata todos naquela cozinha. O ambiente é de medo, o chef irascível e arrogante.

Aoy não aguenta e sai, convidada para cozinhar em um restaurante da moda. É logo descoberta pelos ávidos por novidade.

Mas ela vai ter que mudar de valores para continuar a fazer sucesso. Sua imagem vai contar mais do que a cozinha dela, avisa o empresário que a contratou.

Será que é isso que ela quer?

Esse filme tailandês surpreende pela fotografia, direção de arte e atores. Seu foco no social mostra a desigualdade do país. Pessoas morando na rua e milionários fúteis em festas gastronômicas, onde a comida, que tanto faz falta na rua, torna-se um espetáculo.

“- Quem não tem fome sempre quer mais” diz o chef para justificar sua cozinha teatral desprovida de respeito e do sentimento de que é a alimentação que preserva a vida