Michael Kohlhaas – Justiça e Honra

“Michael Kohlhaas – Justiça e Honra”- “Michael Kohlhaas”, França, 2013

Direção: Arnaud de Pallières

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É raro vermos um filme como esse.

Adaptação de um romance escrito em 1810 pelo alemão Heinrich Von Kleist (1777-1811), lançado no Brasil pela Civilização Brasileira, faz o público viver o ambiente do século XVI na Europa.

Quase sentimos o rude toque das roupas pesadas em nossa pele, o vento no rosto ao galopar pelas colinas em meio à neblina, o cheiro dos cavalos nas estrebarias, o calor do fogo das tochas e flechas incendiárias, o medo e o destemor que habitam  o ser humano.

O romance colocava a ação na Alemanha, dividida em vários estados entregues à nobreza. O filme faz a história deslocar-se para a França, na região do Languedoc, sob a princesa Marguerite de Angoulême, Rainha de Navarra, irmã do rei de França (Roxane Duran), uma das primeiras mulheres da literatura francesa.

Michael Kohlhaas, um comerciante de cavalos, leva uma tropa para a feira, quando é confrontado por um servo de um barão, que exige que ele pague pedágio pela passagem por aquelas terras.

Indignado, porque sabe que a cobrança é ilegal, mas cortês, Kohlhaas deixa dois cavalos negros magníficos como garantia e um de seus servos para cuidar deles e sai em busca dos papéis exigidos.

Quando volta, seus cavalos foram tão maltratados, assim como seu servo, que Kohlhaas fica furioso.

Homem de princípios rígidos, ele exige reparação. E aí começa uma disputa judicial complicada, porque o barão, homem influente, conduz o processo a seu favor.

A mulher de Kohlhaas, Judith, bela e apaixonada pelo atraente homem que a desposou, vai interceder por ele junto à princesa mas é também tão maltratada pelos soldados, que morre ao voltar para casa. Sua filha pequena Lisbeth (Mélusine Mayance) e o pai e marido amoroso, a enterram com seu vestido novo, aos pés da casa de pedra onde habitam.

Revoltado, Kohlhaas resolve fazer justiça com as próprias mãos. Reune um exército informal de camponeses, comerciantes e homens sem posses e lidera uma guerra contra a cidade da princesa. Sua sede de vingança é seu guia.

Há um encontro de Kohlhass (que lê a Biblia traduzida) com Lutero, onde o dissidente da Igreja Católica primeiro o condena, depois o apoia.

O filme conta uma história sobre o conflito entre o que um homem de princípios sente em seu interior, quando se vê injustiçado e o que prevê a lei dos homens.

Mads Mikkelsen, o magnífico ator dinamarquês, com sua presença carismática, não poderia ser um melhor Michael Kohlhaas.

O diretor, Arnaud de Pallières, 53 anos, assina um filme de uma beleza incrível, com muitos “closes” fechados sobre os rostos dos personagens, que fazem o espectador ficar muito próximo do que se passa no íntimo deles, além de uma reconstituição de época deslumbrante, sob uma luz solar intensa e um escuro sombrio, que refletem com esplendor, a ambiguidade do tema.

Raro mesmo.

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Sétimo

“Sétimo”- “Septimus”, Espanha, Argentina, 2013

Direção: Patxi Amezcua

Na manhã e do alto, vê-se uma cidade com prédios, um parque, trânsito. Quando a câmara se aproxima de um carro, identificamos Ricardo Darín, que faz um advogado portenho. Conversa no celular com seu escritório, flerta galante com a secretária e ficamos sabendo que ele é separado.

Nesse dia, o escritório onde trabalha vai ter uma audiência num caso importante, que envolve pessoas endinheiradas mas não de boa fama. Precisam dele lá.

“- Todos tem direito à defesa”, responde ele à ex-esposa (Belén Rueda), que o questiona.

Todo dia, antes do trabalho, ele vai buscar os filhos na casa da ex e os leva para a escola.

Pela conversa dos dois, enquanto esperam as crianças se aprontarem, deduzimos que foi ela que quis a separação e que quer voltar para a Espanha, onde mora sua família.

Seu pai está doente e precisa dela.

Mas Sebastián não quer separar-se dos filhos e não concorda em assinar os papéis necessários para tal viagem.

As crianças, um menino e uma menina chegam e lá se vão correndo pelas escadas do prédio, enquanto o pai desce de elevador. É um jogo deles. Apostam para ver quem chega primeiro lá embaixo, na saída para a rua.

E começa um angustiante pesadelo para Sebastián. Quando ele desce, não encontra os filhos. As crianças desapareceram.

Ele sobe e desce as escadas à procura delas, chamando alto, pois pensa que estão brincando, mas não é brincadeira. Sumiram.

O telefone celular para emergências, que o filho tem na mochila, está desligado. O zelador do prédio, que estava na portaria, não viu as crianças passarem.

De agora em diante, todos são suspeitos para Sebastián.

O diretor catalão Patxi Amezcua, co-autor do roteiro, realiza um bom trabalho na criação do suspense. Atiça a curiosidade do espectador, que se envolve com o mistério. Afinal, o que pode ter acontecido com as crianças entre o sétimo andar de onde sairam correndo e o momento em que não foram mais vistas?

Ricardo Darín é daquele tipo de ator que preenche a tela. Seu pai amoroso, que ele coloca na frente do advogado, comove. As expressões faciais, o nervosismo, a impulsividade frente a cada novo suspeito, tudo ele desempenha com perfeição.

Contar com Ricardo Darín é um trunfo para o diretor, mesmo que haja falhas no roteiro.

“Sétimo” é um suspense bem feito, com um ator que é um monstro na interpretação de qualquer papel.

É bom entretenimento.

 

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