Neve Negra

“Neve Negra”- “Nieve Negra”, Argentina, Espanha, 2017

Direção: Martin Hodara

Oferecimento Arezzo

Como é difícil julgar algo ocorrido no passado com outras pessoas… Mesmo porque, até que um fato novo aconteça, não há interesse em remexer em velhos segredos. E é o que ocorre aqui, nessa família infeliz.

A cena inicial do filme é intrigante. Vemos alguém de costas, caminhando na neve com uma espingarda. Ouvimos uma voz chamar:

“- Juan? ”

E um menino de olhos claros se vira e encara quem chama. Essa cena traz o segredo escondido que agora vai emergir entre dois irmãos.

Salvador (Ricardo Darín, sempre estupendo) vive só, há 30 anos, numa montanha da Patagônia, que é sua reserva de caça particular. A propriedade familiar, num lugar ermo, guarda só o chalé, agora decrépito, onde moraram desde sempre. Mas por que ele parece um eremita, cabelos desgrenhados, jeito sujo, vivendo numa situação de quase penúria? Seu rosto exprime desgosto e raiva.

Marcos e Laura, o irmão de Salvador e sua mulher grávida (Leonardo Sbaraglia e Laia Costa, atriz espanhola), chegam à Argentina para enterrar o pai dele e ficam sabendo que, numa carta do pai, há um pedido para que Marcos o enterre ao lado de Juan, seu filho caçula, morto há muito tempo atrás, na montanha.

Entendemos que Salvador, Marcos e Juan são irmãos e que há uma irmã (Dolores Fonzi, numa ponta marcante) internada numa clínica psiquiátrica. Da mãe não sabemos nada.

O velho amigo e advogado do pai (Federico Luppi) conversa com Marcos sobre a oferta de 9 milhões de dólares para a compra da propriedade familiar pelos canadenses. Falta a assinatura de Salvador.

“- Já disse que não falo com ele”, responde Marcos, ríspido.

Laura fica surpresa sobre a quantia oferecida, que viria a calhar para pagar as despesas com a cunhada na clínica e o bebê a caminho. Ela sabe muito pouco sobre a família do marido.

Marcos e Laura vão levar a urna funerária até a montanha, como era desejo do pai.

O filme foi rodado em Andorra, nas montanhas com pinheiros escuros, neblina e tempestades de neve. O clima é propício para a trama que tem buracos negros, com um segredo sobre o qual não se fala.

A fotografia é bela e triste. A música poderosa e lúgubre. Tudo concorre para que a plateia seja seduzida para querer saber mais sobre aquela família, da qual restam dois irmãos em litígio mudo e uma irmã louca tirada de cena.

O suspense vai sendo alimentado por cenas em “flashback” que mais parecem sonhos, recordações, lembranças vívidas, que são como que fantasmas que perseguem Marcos e Salvador.

O final é surpreendente.

“Neve Negra”, com um ótimo elenco, é mais um sucesso do cinema argentino.

Ler Mais

Mulher Maravilha

“Mulher Maravilha”- “Wonder Woman”, Estados Unidos, 2017

Direção: Patty Jenkins

“- Eu queria salvar o mundo…  Mas sabia tão pouco na época… E a humanidade? Não é o que se pensa. Aprendi isso de um jeito difícil, há tempos atrás…”, ouve-se em “off” uma voz feminina falar. De relance, vemos seus saltos altos, um belo rosto e cabelos escuros.

Estamos em Paris no Louvre atual e a moça recebe um pacote em sua sala onde trabalha com antiguidades. Dentro uma foto em preto e branco. Reconhecemos a Mulher Maravilha rodeada de quatro homens.

Assim começa o filme da primeira super-herói feminina que foi criada há 75 anos por William Moulton Marston, psicólogo, inventor do detector de mentiras e escritor de quadrinhos. Ela foi a personagem de uma série para a TV nos anos 70, com Linda Carter, que fez muito sucesso. Todas as garotas daquela época queriam ser guerreiras e vestir aquele maiô sexy, em vermelho e azul.

Esse filme incrível é apenas o segundo longa da diretora Patty Jenkins, 45 anos, sendo que o seu primeiro, em 2003, foi “Monster” que deu o Oscar de melhor atriz para Charlize Theron.

“Mulher Maravilha” depois da primeira cena no Louvre, continua com um longo “flashback” que conta a história de Diana, princesa das Amazonas e seu caminho para tornar-se a super-heroína com super-poderes.

Como cenário, no começo, temos uma ilha de sonho, com altas falésias dando para um mar turquesa e campos verdes onde cavalgam as belas Amazonas. Lá vive a única criança da ilha, a esperta Diana. Sua mãe Hipólita (Connie Nielsen) não quer ver sua filha treinando lutas como as outras. Ela tem que ir para a escola.

Já sua tia Antíope (Robin Wright), a general da tribo, acha que quanto antes Diana aprender a se defender, melhor. E a sobrinha começa então a treinar secretamente com ela.

Mas numa coisa concordam a mãe a tia. Jamais revelar a Diana sua concepção. A menina (Lilly Aspell) e depois a jovem inocente (Emily Carey), sempre acreditaram na história que a mãe contava: fora feita de barro por Hipólita e Zeus dera-lhe a vida.

O segredo sobre quem é o pai da Mulher Maravilha certamente voltará em outro filme mas aqui ela pouco sabe, tanto sobre si mesma, quanto sobre o mundo dos humanos.

Temiscira, a ilha paradisíaca onde Zeus escondia as Amazonas, era um mundo à parte. E assim foi durante o crescimento de Diana. Ela aprendeu a usar o arco e a flecha  montada em seu cavalo, a proteger-se com o escudo e a manejar o laço da verdade, corda dourada que fazia a pessoa confessar tudo que sabia sem sofrer torturas.

Bem, mas chega o momento em que Diana vai enfim, conhecer um homem. Nunca tinha visto um até que o piloto americano Steve Trevor (o bonitão Chris Pine) cai no mar com seu avião de guerra. Diana o resgata das águas do mar e um envolvimento poderoso começa entre os dois, mas timidamente.

A história vai levar Diana para Londres, em 1918, em plena Primeira Guerra. Ela vai se empenhar em tentar descobrir onde se escondeu o deus da guerra, Ares, que para ela era o único culpado dessa situação na Europa.

Diana, a Mulher Maravilha é a atriz israelense Gal Gadot, divinamente bela, corpo esguio com músculos alongados, cabelos escuros e longos e uma boca deliciosa num rosto que inspira simpatia e exala encanto e graça.

O filme harmoniza, com talento, a transição entre o mundo da fantasia e o mundo real e a convivência entre essas duas realidades. O roteiro do estreante Allan Heinberg conta uma história envolvente e há cenas divertidas, com um humor levemente picante, como quando Diana descobre coisas sobre o piloto espião nu diante dela, ou quando estão os dois dormindo lado a lado no veleiro que os leva para Londres e há um clima de atração entre eles.

Há cenas piores? Sim, porque como é filme de super-herói, ela tem que lutar contra um super-vilão. E aí cai na mesmice dos outros que já vimos. Se bem que Gal Gadot luta e pula com tal graça e leveza que mais parece uma ginasta olímpica.

Encantadora.

Como podem perceber, eu e a quase unanimidade da crítica adoramos o filme da Mulher Maravilha.

Prometo que vocês vão gostar também.

 

Ler Mais