Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

“Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”- “Valerian and The City of a Thousand Planets”, França, 2017

Direção: Luc Besson

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Leve seu olhar para se encantar com o visual dessa fantasia de Luc Besson, 57 anos, diretor francês de “O Quinto Elemento” de 1997 e “Lucy” de 2014.

É o filme mais caro jamais produzido na Europa. Custou quase 180 milhões de dólares mas não foi sucesso de bilheteria nos Estados Unidos. Lá, os críticos não gostaram. Aqui, veem pontos positivos e alguns acham o roteiro muito pueril.

A cena inicial é em 2020 e David Bowie canta “Space Oddity” enquanto naves espaciais se acoplam formando uma estação, com americanos e russos trabalhando juntos. A eles se juntam representantes de todas as nações do nosso mundo e, ao longo dos anos, de outros mundos habitados em nossa galáxia, criaturas estranhas mas que concordam que a estação espacial Alpha irá levar uma mensagem de paz para cantos desconhecidos do universo.

Passam-se 400 anos e estamos num planeta que é praia branca, mar azul e céu também. Habitam esse paraíso seres branco-azulados, altos, magros e de feições suaves. Lá, pescam pérolas preciosas e, através de um bichinho meio lagarto, meio rato ou gato colorido, reproduzem as pérolas que retornam ao mar. É um planeta habitado por seres que acreditam em sustentabilidade, paz e harmonia.

Até que acontece o Apocalipse. Naves explodem tornando negro o céu azul e o planeta é destruído pela guerra dos humanos.

Em outra praia, um rapaz e uma mocinha tomam sol. São agentes da Federação, Valerian (Dane DeHaan) e Laureline (Cara Delevingne). Ela está brava porque ele se esqueceu do aniversário dela.

Valerian tenta seduzir Laureline, prometendo até casamento mas ela não confia em sua fidelidade:

“- Não quero ser mais uma em sua lista de conquistas.”

Mas são interrompidos em sua briguinha por uma voz que avisa que a nave chegou no planeta Kyrian. Os dois se apressam a deixar a praia virtual e preparam-se para pousar.

A eles é confiada uma missão e começa uma aventura que passa pelo mercado mais bem abastecido de todas as galáxias, na Cidade dos Mil Planetas. Vão encontrar criaturas de sonho e pesadelo.

A mais interessante de todas elas é Bubble (Rihanna) que faz um extraordinário show para Valerian e ajuda o rapaz a avaliar melhor seus sentimentos por Laureline.

O filme é baseado nos quadrinhos lançados na França em 1967 por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières e que encantavam Luc Besson aos 10 anos de idade. E levou 7 anos para ser produzido.

O diretor convocou artistas gráficos originais que criaram a beleza e a estranheza dos personagens. E aqui, não são todos os alienígenas que são maus. Ao contrário, os seres do planeta destruído conseguem conquistar Valerian e Laureline e há uma ajuda mútua, baseada em empatia.

Fica clara uma mensagem pacifista bem atual e um sonho de esperança para o futuro não só da humanidade mas de todo o universo.

Pode ser até algo bem distante da cabeça de muita gente. Mas a beleza visual impressionará a todos, certamente.

Talvez o filme pudesse ser mais curto, eliminando cenas desnecessárias para a compreensão da história e ganhando assim pessoas sem muita paciência para mais de duas horas de filme.

Quem quiser ver os frutos de uma imaginação prodigiosa, embarque no filme, sem pestanejar.

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O Estranho que nós Amamos

“O Estranho que Nós Amamos”- “The Beguiled”, Estados Unidos, 2016

Direção: Sofia Coppola

A metáfora sobre o feminino da cena inicial mostra uma menina cantando e atravessando uma floresta de grandes árvores à procura de cogumelos. Ela é cuidadosa e sabe onde encontrá-los. Mas, de repente, qual Chapeuzinho Vermelho, ela encara um soldado ianque, inimigo, ferido e precisando de ajuda.

Sem pensar no lobo e querendo fazer o bem, a menina (Oona Laurence) leva o homem para dentro do internato onde ela e suas quatro coleguinhas adolescentes (Elle Fanning, a mais velha e sexy, Emma Howard, Angourice Rice e Addison Rieche) moram com a professora de francês Edwina (Kirsten Dunst, maravilhosa) e a dona da escola (Nicole Kidman, perfeita).

Estamos em 1864 e a guerra civil americana, que opõe norte e sul, está chegando ao fim.

O soldado ferido, o irlandês cabo John McBorney (Colin Farrell, sedutor como nunca), é cuidado por Miss Martha, cristã devota e dona da casa. Encarado com severidade no início, já que era um desertor confesso e poderia ser perigoso, passa a ser o foco da atenção de todas as mulheres da casa.

Das gavetas saem broches e brincos, os vestidos mais bonitos são usados e os cabelos com tranças e fitas, cuidadosamente penteados. Uma a uma, elas procuram desculpas para visitar o soldado na sala de música em que Miss Martha o mantém trancado.

A sensualidade invade aquela casa.

“The Beguiled” é o título do livro de Thomas Cullinam de 1966, que foi filmado em 1971 por Don Siegel com Clint Eastwood no papel do soldado. Para alguns, o filme de Sofia Coppola é uma refilmagem.

Mas a diretora e roteirista não concorda. Ela diz que seu filme lança um novo olhar sobre a história do livro, sob um ponto de vista feminino, não feminista:

“…quis explorar aquela história sombria de tensão de forças e de poderes sob uma ótica feminina, buscando entender o lugar da mulher naquela América em guerra.”

O filme de Sofia Coppola passa-se num universo feminino, à parte daquela guerra da qual se ouvem as explosões longínquas. Esse mundo é invadido por um homem sedutor e enganador, que ilude a inocência e a fragilidade das meninas, enquanto estimula a rivalidade muda entre Martha e Edwina.

O casarão colonial que guarda vestígios da opulência do passado vai ser o cenário para envolvimentos perigosos e decisões difíceis.

Pode-se dizer que o poder feminino desafiado mostra sua força. E com uma pitada de humor negro.

Sofia Coppola, a diretora de sucessos como “As Virgens Suicidas”, “Encontros e Desencontros”, “Marie Antoinette”, já ganhou muitos prêmios, inclusive o Leão de Ouro de Veneza por “Um Lugar Qualquer”. Mas, ser considerada a melhor diretora de Cannes desse ano, é uma vitória. Em 70 anos do festival, só uma mulher havia sido honrada com esse prêmio: Jane Campion por “O Piano” de 1993.

O visual de “O Estranho que Nós Amamos”, de tons  esmaecidos, luz natural e velas, exibe o talento de Philippe Le Sourd na fotografia. A produção de arte se esmera nos pequenos detalhes e a quase ausência de trilha sonora faz o filme ganhar tons originais, com os sons da casa, o canto dos pássaros e os insetos do jardim.

“O Estranho que Nós Amamos” é um filme elegante e sóbrio. Um novo triunfo para Sofia Coppola.

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