Roda Gigante

“Roda Gigante”- “Wonder Wheel”, Estados Unidos, 2017

Direção: Woody Allen

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Uma roda gigante no parque de diversão da praia de Coney Island, nos anos 50, será o cenário de um melodrama que vai mostrar que a vida humana é como a roda gigante, metáfora para os altos e baixos e a brevidade do tempo que temos a nosso dispor.

Quem nos apresenta os personagens é um rapaz forte e bonitão, Mickey Robin (Justin Timberlake), o salva-vidas da praia, que já foi da Marinha e adora contar sobre os lugares longínquos que visitou:

“- Mas só no verão vigio a praia. Eu estudo para ser um grande dramaturgo na Universidade de Nova York. Um dia vou escrever uma obra prima.”

O que acontece é realidade na vida dele ou fantasia? Não sabemos. Ele será narrador e personagem. E dá a impressão que observa os outros mais do que se envolve com eles.

E o rapaz começa a contar a história dando boas vindas à primeira personagem que aparece. Carolina (Juno Temple), mocinha bonita de vestido justo e decotado, entra no parque. Ao fundo, a roda gigante.

Parece assustada. Procura o pai que tem um carrossel no parque mas ele não está. Alguém diz para ela falar com Ginny, que é a mulher de Humpty, o pai dela, que trabalha como garçonete no restaurante.

Quando Ginny vê Carolina, sua expressão é de espanto. Aos poucos percebe quem é ela e na avaliação que faz da juventude e beleza da moça transparece claramente a inveja.

Ginny está mal humorada:

“- Odeio esse maldito parque. Moramos aqui em cima”, diz ela subindo as escadas, “estou com problemas com meu filho. Nunca tenha filhos!”

A roda gigante, bem na frente da casa, vai ser a testemunha muda e a metáfora para o que acontece com os personagens que vivem naquela casa de vidraças ao longo das fachadas.

Jim Beluchi faz Humpty, o pai de Carolina e marido de Ginny, alcoólatra em abstinência. Ele é grosseiro mas carinhoso quando quer. Não falava com a filha há 5 anos porque ela se casara com um mafioso, contra sua vontade. Mas a acolhe e perdoa. Sonha com um belo futuro para ela.

Ginny, quase 40, tem um filho do primeiro casamento. O menino é piromaníaco. Sua distração preferida é o cinema e acender fogueiras. Por que? Talvez alimente um fogo de purificação? Pensa na destruição ou castigo para alguém? Ou o fogo é a imagem da depressão raivosa que o invade?

A mãe dele é estressada, vive com enxaquecas e procura uma tábua de salvação para escapar de um afogamento mental.

“-E como nós mentimos para nós mesmos para podermos sobreviver”, comenta o salva-vidas.

Kate Winslet está maravilhosa. Dá vida à Ginny, com seus cabelos vermelhos, uma beleza prestes a fenecer e uma vontade louca de esquecer seus erros, para poder repeti-los novamente.

Atriz fracassada, vive como se estivesse num palco, pronta para mudar de personagem. Isso faz com que perca preciosos momentos, só podendo avalia-los tarde demais. Uma sensação de não viver é a consequência desastrosa dessa atitude.

A luz do filme é trabalho do talentoso fotógrafo Vittorio Storaro e ele usa cores brilhantes, bem anos 50 e Cinemascope, para depois comentar os sentimentos dos personagens com mudanças na cor na sequência de uma cena. Ginny está sempre mudando de clima e a luz vermelha do seu quarto de repente muda para o azul.

E, até por isso, a música da trilha sonora incrível que melhor se adapta à personagem de Kate Winslet é a canção “Red Roses For a Blue Lady” (Rosas vermelhas para uma mulher triste).

Woody Allen, 82 anos, a cada ano nos encanta com seus filmes que, ultimamente, tem refletido sobre a futilidade e a breve passagem que é a vida.

Os fãs vão se deliciar.

 

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O Destino de uma Nação

“O Destino de uma Nação”- “The Darkest Hour”, Reino Unido, 2017

Direção: Joe Wright

Tudo o que vocês vão ver vai se passar no mês de maio de 1940, em Londres. Ali será o palco onde vão ocorrer fatos importantes nos bastidores de Segunda Guerra.

A Inglaterra e a França estão perdendo a guerra para os alemães e seus tanques, que encurralaram soldados ingleses e franceses nas praias de Dunquerque, sob pesada artilharia aérea e em terra.

Dada essa situação angustiante, muitos imaginam que não será difícil uma invasão alemã na ilha da Grã Bretanha. É o horror.

O filme de Joe Wright concentra-se então no braço de ferro que o Parlamento enfrenta. De um lado o Primeiro Ministro Neville Chamberlain (Ronald Pickup), perde a confiança de seus pares e é obrigado a renunciar ao cargo. De outro, o político Wiston Churchill (1874-1965), do partido conservador, consegue o apoio do partido liberal, o que o qualifica para o posto de Primeiro Ministro.

Seu nome é o único capaz de agregar o Parlamento.

Assim sendo, em 10 de maio de 1940, vemos ele de robe, em sua cama, tomando seu reforçado café da manhã, já empunhando o famoso charuto e assustando a nova secretária Elizabeth Layton (Lily James, ótima).

A interferência de Clemmie (Kristin Scott-Thomas, sempre excelente), mulher de Churchill, foi essencial, não só para manter a secretária mas para ele ser levado a perceber como o estresse dos últimos dias o tinham transformado num ser rude e grosseiro.

Ora, comenta ela com graça, afinal chegara o dia que ele esperava desde criança. Era hora portanto de celebrar e fazer o que ele sabia fazer tão bem.

O ator Gary Oldman, impressionante nos detalhes da movimentação corporal, fala e maneirismos de Churchill,  merece todos os prêmios que já ganhou e ainda vai ganhar.

Na verdade é sobre o personagem que ele interpreta com tanta perfeição que se concentra o filme.

Vamos ver como ele consegue ter a ideia de salvar 300.000 soldados, condenados à morte nas praias de Dunquerque. Manda recrutar a frota civil, todos os barcos disponíveis, para a evacuação dos soldados, que não era possível de outra forma. Churchill consegue transformar assim, essa derrota na guerra em uma vitória pessoal.

O filme de Chistopher Nolan, “Dunkirk” mostra com arte esse episódio conhecido como Operação Dínamo.

Churchill, em sua hora mais escura, ou seja, sendo pressionado a assinar um tratado de paz com Hitler, mostrou a todos uma força interior que o sustentou, não sem dificuldades.

Ele abomina o tirânico Hitler, que já se considera dono da Europa e vai dobrá-lo. Isso exigiu um grande esforço e sofrimento para os ingleses. Cruelmente bombardeados, passando por horrores e perdas imensas.

Mas a ilha recusou-se à entrega sem luta. E isso se deve às posições adotadas por Churchill, que conseguiu vencer os que acreditavam que o tratado de paz era a melhor saída.

Com o apoio do rei George VI (Ben Mendelsohn, maravilhoso), que passa para o seu lado, Winston Churchill ficou para sempre reconhecido como a figura mais importante na vitória dos Aliados sobre Hitler e a Alemanha nazista.

“O Destino de uma Nação” é um bom filme que ensina às novas gerações fatos que talvez desconheçam e que mostram a coragem e o patriotismo de um líder que não se deixou abater e que salvou o mundo ocidental e seus valores democráticos.

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