Adu

“Adu”- Idem, Espanha 2020

Direção: Salvador Calvo

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Adu é um menino negro de 6 anos, franzino, grandes olhos expressivos que, com sua irmã mais velha Ali, ouvem tiros na floresta e vão de bicicleta ver o que está acontecendo.  Arrastam-se no solo para não ser vistos e, com pesar, descobrem um elefante enorme morto com um homem serrando suas presas de marfim. As crianças conhecem Kimba pelo nome e sabem que ele era o animal mais importante da Reserva em Camarões.

Chegam os vigias e Gonzalo, o homem dono da ONG que pretende defender os elefantes dos caçadores ilegais. Tarde demais.

Amedrontadas, as crianças saem correndo e deixam suas bicicletas. Erro fatal. Porque a partir daí serão procurados pelos homens que temem as testemunhas da matança que poderão denunciá-los.

À noite entram na casa pobre sobre palafitas atrás das crianças que conseguem escapar nadando. Planejam sair dalí e ir para a Espanha. Como? Não sabem.

Dia claro, Gonzalo vai buscar sua filha Sandra no aeroporto. Cruza cm as crianças, que poderiam ser suas testemunhas, mas sua mente está preocupada com a chegada da filha que tem problemas com drogas.

Ao norte, na fronteira entre a União Europeia e o Marrocos, aconteceu uma morte à noite, quando imigrantes esfarrapados e famintos, tentavam escalar a grade que fecha a fronteira. Num acidente, um homem cai do outro lado e um policial bate nele. Outro policial, Mateo, tenta massagem no coração mas o homem morre. Vai haver sindicâncias e processo.

Essas três histórias irão se entrelaçar. Em todas há um apelo de ajuda e compaixão.

Adu é como se fosse a imagem da África. Nele o instinto de sobrevivência é muito forte. Escapa por um triz de situações difíceis e consegue ajuda e amizade de Massar (Adam Nourou), outro adolescente que fugiu aos maus tratos na Somália.

Gonzalo (Luis Tosar) e Sandra (Anna Castillo) vão ter que entender que ninguém consegue obrigar alguém a mudar seu jeito de viver, a não ser com ajuda amorosa. Pai e filha vão se confrontar.

E os policiais que respondem a processo pela morte do imigrante são os que vão resgatar Adu de uma quase morte.

O diretor espanhol Salvador Calvo conduz bem o ritmo do filme inspirado em histórias verdadeiras que ouviu quando rodava seu longa “1898-Los Ultimos Filipinos”. Mas quem mais surpreende é o pequeno Moustapha Oumarou, com a naturalidade de sua interpretação. Ele comove só com o olhar.

“Adu” mostra a África relegada, posta de lado. Um belo continente com populações que sofrem com miséria e doenças. É a África escondida que ninguém vê quando vai a safaris fotográficos mas que precisa ser mostrada para que haja alguma solução para tanto sofrimento.

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A Prima Sofia

“A Prima Sofia” – “Une Fille Facile”, França, 2019

Direção: Rebecca Zlotowiski

Uma pequena praia de seixos brancos, entre rochas altas e um mar esmeralda, convida aos prazeres do verão. Um corpo que nada, entra nesse belo retrato.

Na tela um dito de Pascal: “ A coisa mais importante da vida é descobrir sua vocação, embora isso dependa também do acaso”. Nada explícito mas vem a calhar nesse filme que mostrará uma escolha de vida. Veremos como depende da pessoa mas também do meio onde vive.

Voltando à primeira cena, um corpo feminino perfeito, emerge da água e se entrega ao sol na região em que o mar encontra as pedrinhas da praia. Ela usa só a parte de baixo do biquíni verde. A sereia é Sofia ( Zahia Dehar) que veio passar um tempo em Cannes com a prima Naima (Mina Farid).

É também o primeiro dia das férias e os alunos saem animados, comentando seus planos de verão. Naima faz 16 anos e seus amigos trouxeram um bolo com velinhas e cantam parabéns para ela. Dentro de um envelope um dinheirinho como presente de Dodo, seu melhor amigo.

Naima entra no apartamento pequeno onde mora com a mãe, chamando por Sofia, que ela não via desde que a outra mudara para Paris.

“Ela mudou bastante” pensa Naima, que observa as roupas e o rosto plastificado da prima, fascinada com a tatuagem bem acima do belo traseiro: “Carpe Diem”.

“- Significa que você tem que aproveitar o presente, aproveitar cada dia porque o futuro ninguém conhece” explica Sofia que acrescenta que o amor não a interessa. “- Quero viver a noite e seus prazeres. ”

E como Naima tinha se encantado com uma bolsa Chanel de Sofia, ganha uma igualzinha.

“- Estou chocada com os 4.000 euros que você gastou comigo… “

E lá vão as duas para o porto onde estão os belos iates e os rapazes.

Dia seguinte estão na praia lendo conselhos de tratamento para o cabelo numa revista, quando um belo iate branco se aproxima da praia e um homem moreno troca longos olhares com Sofia.

À noite vão se conhecer e Naima vai observar um outro lado da vida que Sofia escolheu.

A mãe de Naima trabalha num hotel e se preocupa com a influência sobre a filha:

“- Você acha que Sofia é livre? A liberdade vem do trabalho. Sofia escolheu um trabalho duro… Mas quero que você aproveite as férias e depois faça o estágio com o “chef” do hotel. ”

A diretora e roteirista Rebecca Zlotowski não fala em prostituição. Sofia, a sereia bela, gosta do que faz e não se entrega ao amor mas ao sexo, com o qual domina os homens que a olham com desejo quando ela passa. É sua escolha.

Naima a observa e também faz sua escolha.

As atrizes são excelentes, assim como os amigos do iate branco, Nuno Lopes que faz o milionário brasileiro que lida com arte e Benoit Magimel, seu braço direito, que ajuda Naima a pensar sobre a vida.

O filme é um conto moral mas sem julgamentos nem condenações. Não se aponta ninguém com o dedo do certo e do errado. Cada um que viva suas escolhas e as consequências que virão.

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