O último filme que vi na Mostra

O último filme que vi na Mostra:

Além das Montanhas”- “Dupa Dealuri”, Romênia, França, Bélgica, 2012 Direção: Cristian Mungiu

Um cenário frio e desprovido de maiores encantos. A luz de um sol pálido mostra uma construção singela. Um convento de freiras ortodoxas, vestidos pretos, véus e casquetes também negros. Trabalham na cozinha para alimentar um orfanato local.

A Romênia, recém saída de um período de regime ditatorial, sob o tirano Ceausescu, no qual ficaram conhecidos os mal afamados orfanatos, depósitos de crianças exploradas, é tema desse filme do diretor romeno Cristian Mungiu. “Além das Montanhas”, adaptação do romance baseado em fatos reais, de Tatiana Niculescu, “Deadly Confession”de 2006, ganhou o prêmio de melhor roteiro no último Festival de Cannes.

Duas meninas, criadas nos tais orfanatos da época de Ceausescu, são as protagonistas do drama e ganharam o prêmio compartilhado de melhor atriz em Cannes (Cosmina Stratan e Cristina Flutur).

A submissa freirinha Voichita, de olhos azuis transparentes, vai receber a visita de Alina, sua antiga companheira de orfanato. Tudo indica que se amaram no passado como se fossem mãe e filha, um amor feminino e maternal. Na carência absoluta em que viviam, uma satisfazia a necessidade de amor da outra. Mungiu filma uma bela cena de acalanto, na qual Voichita embala Alina para que ela durma, cantando uma cantiga de ninar, para a amiga, deitada qual um bebê em seu colo.

Mas Voichita se entregou à religião ortodoxa e o Padre e a Madre superiora do convento são agora “papai e mamãe” para ela.

Alina é um peixe fora d’água nesse ambiente severo e cheio de regras seguidas com fanatismo por todos. Daí a ser considerada uma possessa, endemoniada, basta um passo.

Por amor a Alina, Voichita ajuda as outras freiras e o padre a exorcizar o demônio. Um ritual cruel, praticado em nome do amor equivocado.

“Além das Montanhas” é um filme que nos esmaga o coração e nos tortura. Há uma total identificação do espectador na plateia com a vítima na tela.

Sem dó nem piedade, o fanatismo impera onde o amor deveria tudo perdoar.

Infelizmente, a Idade Média com suas trevas, convive na Romênia com o século XXI.

Este post tem 0 Comentários

Deixe seu comentário

Obter uma imagen no seu comentário!