Gonzaga – De Pai para Filho

“Gonzaga – De Pai para Filho” Brasil, 2012

Direção: Breno Silveira

Um dedo aperta a tecla de um gravador antigo. O filho entrevista o pai. Há entre ambos uma tensão crescente.

E os personagens dessa história são apresentados numa linha do tempo que vai de 1920 a 1980.

O pai, Luiz Gonzaga (1912-1989), de chapéu de couro e gibão, toca sua sanfona e canta para o povo dançar na praça.

O filho, Gonzaguinha (1945-1991), é rodeado pela imprensa antes de subir ao palco:

“- Por que você não grava uma música do seu pai?”

Seu rosto severo e contraído mostra a carga de emoção que essa pergunta levantou nele, que está na capa de Veja, onde se lê “Explode Coração”.

O filho lembra-se do pai dizendo:

“- Esse menino vai ter estudo. Quero ver anel de doutor no dedo.” E o internato é recordado com revolta.

No camarim, uma visita inesperada. É Elena, sua madrasta:

“- Seu pai precisa muito de você.”

“- Não vai dar”, responde o filho zangado.

Mas seus atos desmentem essa fala. Um carro adentra o sertão. Seu destino é Exu, terra onde nasceu Luiz Gonzaga. É o filho indo em direção ao pai, onde se enraíza sua identidade, que ele precisa buscar.

“- Faz muito tempo que eu não vejo meu pai… A verdade é que ele e eu nunca nos entendemos… Quem era meu pai?”

E o filme de Breno Silveira, que escreveu o roteiro com Patrícia Andrade, responde à pergunta, contando a história de um dos maiores músicos populares brasileiros, conhecido como “O Rei do Baião”, que gravou 200 discos, que venderam 30 milhões de cópias. Foi o compositor da música de “Asa Branca”, hino do Nordeste.

A escolha dos atores foi feliz. Assim, Gonzagão é interpretado por Land Vieira, o garoto que se apaixona pela filha do coronel (Cecilia Dassi), por Chambinho do Acordeon que faz Luiz Gonzaga no auge e Adélio Lima que o vive quando mais velho, distante do homem temperamental que fora no passado.

Júlio Andrade é impressionante como Gonzaguinha e Nanda Costa está linda como a mãe dele. Silvia Buarque, uma atriz delicada é a madrinha Dina que o criou com Xavier, o padrinho, amigo de Gonzagão (Luciano Quirino) no Morro de São Carlos, Rio de Janeiro.

A fotografia lírica de Adrian Teijido acrescenta beleza a tudo e as fotos de época e os trechos documentais filmados casam-se bem com o desenrolar da história. As músicas escolhidas realçam o tom de emoção de cada cena.

“Gonzaga – De Pai para Filho” dá saudades de tempos passados, de um Brasil mais ingênuo. E o reencontro de pai e filho, que sempre se amaram pelo avesso, faz chorar.

Quando estiverem saindo do cinema, fiquem um pouco mais e escutem Gilberto Gil, que escreveu a canção tema dessa bela homenagem que Breno Silveira faz a Luiz Gonzaga, na celebração dos 100 anos de seu nascimento.

 

Este post tem 0 Comentários

  1. Luiz Roberto de Paula Dias disse:

    Acabei de vê-lo Eleonora, gostei imensamente da obra de Breno Silveira, fiquei até o final para ouvir Gil.
    A fotografia me encantou como vc bem menciona cima, agora a condução do filme foi muito bem conduzida, os atores são realmente muito bem escolhidos, a música de ambos é realmente poderosa; acaba-se cantado sem querer, pelo seus comentários já esperava um Gonzaguinha, bem elaborado pelo Julio Andrade, ainda assim, fiquei encantado pelo primor de interpretação.
    Um belo filme, que me fez ficar emocionado em momentos de grande enlevo, foi ótimo, bjs

    • Eleonora Rosset disse:

      Luiz Roberto querido,
      O diretor Breno silveira adora música e já nos deu obras primas como ” 2 Zfilhos de Francisco” e ” À Beira da Estrada” com canções de Roberto Carlos.
      Esse filme sb o Gonzagão e o Gonzaguinha deveria ser visto pelos mais jovens que não conhecem o Rei do Baião e seu filho talentoso que escreveu músicas de protesto durante a ditadura.
      É um filme que refaz com uma bela reprodução de época, um Brasil mais ingênuo e que nåo existe mais.
      Vejo que vc apreciou!
      Bjs

Deixe seu comentário

Obter uma imagen no seu comentário!