O Caderno de Tomy
“O Caderno de Tomy”- “El Cuaderno de Tomy”, Argentina, 2020
Direção: Carlos Sorin
Entre os assuntos que são tabu, a morte tem um lugar especial. Por que? Evitado e tido como pesado para a maioria. Falamos da morte dos outros mas pouco ou nunca pensamos na nossa.
Mas esse filme que conta sobre Maria (Valeria Bertuccelli) e seu marido é ótimo, justamente porque evita o dramalhão. Maria é uma pessoa leve e irônica e por isso sua atitude lança uma luz diferente sobre esse acontecimento que faz parte da vida.
Quando o filme começa, ela escreve, numa página em branco de um caderno novinho, uma dedicatória e em “off” ouvimos ela dizer:
“- Esta é a história do meu último desejo. Quero compartilhar com meu filho. Por isso esse caderno. Para que ele possa conhecer sua história. Só espero poder terminá-lo. ”
E como ela é uma pessoa carismática, logo sua voz faz-se ouvir nas redes sociais, tocando as pessoas. São frases no twitter que fazem rir:
“Tem pessoas que penduram um crucifixo em cima da cama. Eu tenho o soro. ”
Ela é amada e ama o marido e o filho pequeno, que é uma criança linda e adorável. Mas há poucas e belas cenas com o menino. O diretor evita usar qualquer coisa que soe como drama. As conversas nessas horas são mudas. Resguarda-se o que é só deles.
E aquela frase muito usada em situações como essa, de um câncer terminal, o “tudo vai dar certo”, não se ouve naquele quarto de hospital, onde os amigos são benvindos. Maria enfrenta a verdade com coragem e bom senso. Apesar de isso não ser nada fácil.
Ela nos emociona e ensina como deve ser o fim da vida.
Tem o apoio do marido e a alegria do filho (Julio Sorin) que corre para a cama dela, para o colo e o abraço. E a cena final da mãe e do filho são só imagens. As palavras são a intimidade sagrada.
E nós? Vamos ficar pensando em como será o que não sabemos mas que vamos viver. E talvez levantando o véu que esconde o assunto tabu, algo que só conhece quem vive, possamos aprender com Maria como se enfrenta o que é inevitável.
Um filme que faz pensar, baseado numa história da vida real que aconteceu na Argentina, onde Maria Vásquez, uma arquiteta com câncer terminal, ficou famosa por seus tuites bem humorados e sábios.
Sua vida virou livro e também esse belo filme.