O Corvo Branco

“O Corvo Branco”- “The White Crow”, Reino Unido, Estados Unidos, 2018

Direção: Ralph Fiennes

Ele nasceu num trem trans-siberiano que cortava a tundra russa, de noite. Era o dia 17 de março de 1938. Por causa de suas maneiras diferentes e incomuns, o apelidaram “belaya vrona”, ou seja, “Corvo Branco”, aquele que está à frente de seus contemporâneos. E era verdade.

O grande bailarino, aplaudido pelas plateias mais seletas, veio da provincia de Ufa, um lugar pobre e sem futuro. Mas sua mãe, contrariando o pai, inscreveu o filho numa escola de balé folclórico, onde logo chamou a atenção da professora. Ele vai se tornar o grande Rudolf Nureyev, primeiro bailarino do Kirov, companhia sediada no teatro Mariinsky, em Leningrado.

Começou tarde o aprendizado do bale clássico na Escola de Coreografia de Leningrado aos 17 anos, mas empenhou-se e em três anos alcançou o que queria. Levava o dobro do tempo para os outros chegarem onde ele estava. “O Corvo Branco” mostra cenas da infância em preto e branco, a mãe e seu amor pelo filho, as três irmãs e o pai severo e ele mais tarde em Leningrado e Paris.

O filme é dirigido por Ralph Fiennes, que também atua como o professor Pushkin, de poucas e profundas palavras. Uma interpretação comovente. Foi uma figura paterna para o jovem de temperamento às vezes difícil. Acolheu-o e protegeu o quanto pode.

E quase que o rapaz não conseguiu ir para Paris com o Kirov. Haviam rumores de que ele queria desertar. Foi o professor Pushkin que interveio e assegurou que ele não se interessava por política. Só queria dançar.

E, no dia 12 de maio de 1961, chega em Le Bourget, o avião que trazia a companhia para cinco semanas de apresentações no Palais Garnier, o Opéra.

O Louvre, a Sante Chapelle, o telhado do Opéra de onde se via toda Paris e Rudy se encontrava para conversar com Pierre Lacotte, bailarino francês, as noites em boates com Clara Saint (Adèle Exarchopoulos), o Crazy Horse, tudo apelava para que Nureyve ficasse no Ocidente.

Aquele que ia ao Hermitage , muito cedo e passava horas estudando o quadro de Rembrandt, “O Filho Pródigo”, também foi o primeiro a entrar no Louvre para ver “A Balsa da Medusa” de Géricault. Rodin o seduzia. Picasso e Matisse também. A arte o tocava e sua sensibilidade se alimentava do muito humano.

O bailarino ucraniano Oleg Ivenko traduz com talento toda essa vontade de perseguir o belo na dança e querer sempre se ultrapassar e dar o seu melhor para a plateia ávida. Dança os sucessos de Nureyev com garra.

Ele desertou. Ficou em Paris naquele ano de 1961 e partiu para o mundo. Rudolf Nureyev (1938 – 1993) foi uma lenda da dança no século XX . Felizes aqueles que o viram em pessoa, com toda a energia e carisma que ele mostrava nos palcos privilegiados.

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