As Viúvas

“As Viúvas” - “Widows”, Estados Unidos, 2018

Direção: Steve McQueen

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Uma furiosa perseguição de carros noturna é o pano de fundo para apresentar quatro mulheres casadas. Elas vão ficar viúvas mas ainda não sabem.

Verônica Rawlins (Viola Davis) é apaixonada pelo marido branco e bonito, Harry (Liam Neeson). Estão na cama fazendo amor.

A morena latina Linda Perelli (Michelle Rodriguez) tem uma loja, três filhos e um marido ausente.

Alice (Elizabeth Debicki), branca, bonita, alta e loura tem um olho roxo e foi o marido (Jon Bernthal) que bateu nela.

A última a aparecer é Amanda (Carrie Coon), uma mulher jovem com um bebê no colo.

A perseguição chega ao fim. Encurralados num galpão, os ocupantes da van trocam tiros com a SWAT até que, de repente, tudo pega fogo. Não há sobreviventes. Não sobrou muito dos assaltantes. Os funerais são com o caixão fechado.

Mas as viúvas não vão poder ficar chorando seu luto. Porque a ameaça que vem bater à porta de Verônica, é séria. O dono do dinheiro roubado e queimado, Jamal Mannin (Brian Tyree Henry) quer tudo de volta. E maltrata a cachorrinha Olivia como sinal de que não está brincando. Ela tem um mês para devolver dois milhões de dólares.

Verônica, que nada sabia sobre o roubo, vai ter que ir atrás das pistas que o marido deixou para conseguir sobreviver. Convoca as outras para executar um plano.

Alice e Linda topam. Amanda não quer saber de se arriscar. Então Belle (Cynthia Erivo) vem se juntar a elas e dar força ao grupo.

E elas partem para a luta.

“As Viúvas” é um filme que tem ação, roteiro bem escrito, ótimo elenco e, principalmente, mostra mulheres que encaram o perigo e o desconhecido com coragem e competência. Os maridos não deixaram nada para elas, além das consequências do roubo frustrado. Vão ter que se virar. Treinar para fazer melhor o que os maridos não conseguiram.

O diretor Steve McQueen de “Shame” 2011 e “12 Anos de Escravidão” 2013, com o qual tornou-se o primeiro negro a ganhar o Oscar de melhor filme, é um craque para contar histórias envolventes.

O roteiro escrito pelo diretor em parceria com Gillian Flynn, a autora do livro e roteirista do filme “Garota Exemplar”, fala de mulheres deixadas de lado, indefesas, que tem que pagar pelo que seus maridos fizeram. Mas elas não se abatem e tentam virar o jogo, num mundo de homens poderosos.

Temas como racismo, envolvendo o assassinato de garotos negros pela polícia, políticos corruptos (Robert Duvall e Colin Farrel) e pastores manipuladores, tem bom espaço no roteiro. Daniel Kaluuya, nomeado para o Oscar no ano passado, faz uma ponta assustadora com talento.

Enfim, “ As Viúvas” é ótimo entretenimento, tanto para os que gostam de ação quanto para os que apreciam reviravoltas num enredo inteligente e momentos de reflexão.

Já é um dos melhores filmes do ano.

Infiltrado no Klan

“Infiltrado no Klan”- “BlacKKKlasman”, Estados Unidos, 2018

Direção: Spike Lee

É uma comédia. Mas só até ficarmos horrorizados com o que vamos descobrindo. Daí passamos a pensar seriamente sobre as questões que envolvem o racismo, não só nos Estados Unidos mas em toda parte onde vemos essa atitude crescendo e assustando. A intolerância e o preconceito, de mãos dadas, fazendo notícia.

A história que vai ser contada no filme é real. O negro Ron Stall Worth (John David Washington, filho de Denzel) foi o primeiro policial dessa cor nos anos 70 no Departamento de Polícia de Colorado Springs. Ao aposentar-se, escreveu o livro que serviu na adaptação para o cinema.

Ele sempre sonhou em ser policial mas detestava o trabalho de rotina que lhe deram nos arquivos da delegacia, meio para escondê-lo. Até entre os policiais, seus companheiros, havia racismo. Resolveu então tomar a iniciativa, depois de conhecer uma ativista do movimento “Black Power”, cópia de Angela Davis, interpretada por Patricia Harrier.

Ron quer ser detetive. Ao se deparar com um anúncio de recrutamento do Kukluskan no jornal local, telefona e se faz passar por um branco ariano que detesta negros e judeus, caindo logo nas graças do membro da Organização, como eles gostam de ser chamados, por motivos óbvios.

O chefe de Ron topa a investigação que ele propõe e entra no circuito o policial branco e judeu, Flip  Zimmerman (Adam Driver), que se faz passar por Ron nos encontros cara a cara com os membros da Organização, inclusive o próprio Chefe, conhecido como diretor nacional, David Duke (Topher Grace).

Se fossem descobertos, estariam mortos. Mas conseguem desbaratar o que seria um ato de terrorismo do Klan.

Sabemos que o diretor é ativista do movimento anti-racista nos Estados Unidos. Em todos os seus filmes ele faz lembrar desse tema mas nunca foi tão contundente quanto nesse “Infiltrado no Klan”. E o momento político nos Estados Unidos é propício para que uma reflexão séria seja feita.

O filme, que ganhou o Grande Prêmio do Júri em Cannes, termina mostrando a realidade cruel da violência e da intolerância, com cenas dos acontecimentos de 2017 em Charlottesville, que todo mundo viu na televisão.

O filme de Spike Lee é mais do que oportuno. É obrigatório.