Polissia

“Polissia”- “Polisse”, França 2012

Direção: Maiwenn

“Polissia” é um filme que machuca. Escrito como se fosse por uma criança, o titulo do filme e o cartaz chamam a atenção.

O assunto é difícil. Pessoas mais sensíveis podem ficar chocadas. Não que haja cenas explícitas mas porque é duro conviver com esse assunto.

Sabemos que a violência contra crianças e adolescentes acontece, na maioria dos casos, dentro de casa, envolvendo pais, irmãos, tios, padrastos, avós. Gente que é do mesmo sangue das vítimas.

E não escolhe classe social. A violência com as crianças tanto ocorre na favela como nos palácios.

O filme conta a dura história das pessoas que trabalham na Brigada de Proteção ao Menor em Paris. São policiais, homens e mulheres, que tem que lidar com estupros, pedofilia, maus tratos e exploração de menores, quando não com drogas e sequestros.

“Polissia” conta a história de vários personagens, envolvidos em episódios baseados em fatos reais, abordados com coragem e mostrando como ficam abalados os policiais que estão ali para proteger as crianças. Para complicar, gente como a gente, eles tem seus próprios problemas e conflitos. É uma mistura que pode ser explosiva.

A diretora Maiween também atua, fazendo uma fotógrafa, incumbida de retratar o dia a dia da Brigada, que muitas vezes é vista como intrusa e delatora da violência sutil que ocorre entre os policiais e os acusados de envolvimento com os crimes contra as crianças.

O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2011 e oito César em 2012, o Oscar francês, incluindo melhor filme, diretor e roteiro original (escrito pela própria diretora e Emmanuelle Bercot), além de premiar três atrizes que fazem policiais da Brigada.

“Polissia” não mostra a conclusão dos casos que conta e, assim fazendo, toca numa ferida que a nossa sociedade atual ainda não foi capaz de resolver. Já sabemos, desde o século passado, o que foi dito por Freud, o pai da psicanálise, que tanto estudou a natureza humana e descobriu a sexualidade infantil. Ou seja, crianças inocentes fantasiam e acreditam piamente nas histórias que contam e que nem sempre são verdadeiras.

Isso acrescenta uma responsabilidade a mais e um osso duro de roer para quem tenta encontrar vítimas e culpados nesse tipo de ocorrência, como é o caso da Brigada de Proteção ao Menor de Paris.

“Polissia” é um filme necessário, que faz com que pensemos sobre a fragilidade das crianças e adolescentes com que convivemos. Mas principalmente, naquilo que é difícil de encarar: a violência que dorme um sono leve nas almas das criaturas humanas e que não respeita nada quando acordada, se não houver quem a faça recuar.

Este post tem 0 Comentários

  1. Debora Ganc disse:

    Querida, a sua última frase sobre violência calou fundo!
    É difícil aceitar que temos a índole da violência…
    Estava pensando nisso ao ler o seu artigo, pois hoje pela manhã ao ler os jornais me angustiei com a violência gratuita da guerra.
    Deve haver uma maneira de canalizar toda esta energia em outra direção. Tomara!
    carinho e muito grata por suas resenhas!

  2. Eleonora Rosset disse:

    Debora querida,
    Pois é… A violência mora dentro de nós. Por isso precisamos nos educar, nos policiar mesmo. Acho que talvez as informações globalizadas com fotos, filmes, são um espelho onde não nos reconhecemos. É dificil aceitar que todos temos a mesma natureza humana… E a violência é vista como sendo sp a do outro…
    Obrigada por ser essa leitora atenta e sofisticada!
    Bjs

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