Tallulah

“Tallulah”- Idem, NETFLIX, 2016

Direção: Sian Heder

Uma experiência da vida real inspirou a diretora Siron Heder a escrever esse roteiro para o seu primeiro longa, dirigindo com graça personagens nada superficiais.

A maternidade é o tema do filme, mas de uma maneira diferente da que estamos acostumados a ver. O outro  lado de ser mãe e os desencontros que podem acontecer, tornam o filme atraente e as identificações com o  público mais íntimas.

Assim, o foco está em três mães nada satisfeitas com essa condição. Tallulah (Ellen Page) é filha de uma delas.

A garota vive numa van que é um caos, já que toda sua vida está ali, misturada e amassada. Lu, como é chamada, vai guiando pelas estradas dos Estados Unidos, sem rumo certo, quase sem dinheiro e improvisando para conseguir algo para comer. Dormir também é na van, com o atual namorado Nico (Evan Jongikeit).

Lu é problemática.  Faz tudo o que quer sem medir consequências e tem horror a relações estáveis e vida burguesa. Pelo menos é o que ela diz. Na verdade, nada foi fácil na vida dela. Ficamos sabendo que a mãe a abandonou bem pequena e nunca mais voltou. Viveu com o pai e talvez por isso tem um jeito nada feminino de lidar com a vida. Jamais um vestido. Só bermudas largas e botas. Não tem nenhum resquício de educação. Mas pode ser simpática e até delicada.

Mas quando Nico começa com a ideia de que poderiam morar em Nova York e casar, ter filhos, ela tem um ataque de raiva. Dia seguinte, nada de Nico. Sumiu. Lu fica danada da vida e resolve tomar satisfações, porque é o cúmulo largar alguém sem dizer adeus. Aliás como a mãe dela tinha feito, tempos atrás.

Engenhosa, descobre logo o apartamento onde mora a mãe de Nico (Allison Janney, maravilhosa) mas não é bem recebida. Margo é uma mulher de mal com a vida. Sente-se abandonada duas vezes, pelo marido e o filho. E não consegue esquecer, nem perdoar.

Lu desiste de Margo e entra num hotel, à cata de comida nos corredores, quando é confundida  com uma arrumadeira por Carolyn (Tammy Blanchard), uma mulher vistosa e vulgar. E aí começa uma confusão. Louca para sair pela noite, confia sua filhinha de dois anos a Lu.

Identificada com aquela bebê nuazinha, abandonada, perdida no quarto do hotel, com uma mãe desleixada, ela não consegue resistir à ideia de salvar a pequena daquela mãe inadequada.

Uso Aduba, grávida do terceiro filho, é a policial que vai tomar conta do caso. Uma participação curta e bem aproveitada. Negra, o jeito como olha a situação daquelas brancas atrapalhadas é um julgamento que não precisa de palavras.

“Tallulah” é um filme inesperado. Mexe com a gente sem pedir licença e de maneira intensa. Nada banal.

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