A Dama Dourada

“A Dama Dourada”- Woman in Gold”, Estados Unidos, Inglaterra, 2015

Direção: Simon Curtis

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Ela era a Mona Lisa da Áustria.

Pintado em 1907 por Gustav Klimt (1862-1918), o retrato de uma dama da sociedade vienense, Adele Bloch-Bauer, fascinou os que o viram antes e depois que foi roubado da parede dos Bloch-Bauer em 1941, quando os nazistas que tomaram Viena saquearam as riquezas das famílias judias, antes de mandá-las para campos de concentração, onde a maioria morreu.

A Viena dos fins do século XIX e começo do XX era a cidade de Adele, que viveu uma época de esplendor e cultura. Nos salões da rica elite burguesa, entre os quais os Bloch-Bauer, desfilavam intelectuais e artistas festejados.

Adele (Antje Trauer, belíssima), mulher de Ferdinand Bloch-Bauer, era uma beldade de olhos negros, que aparecem com uma expressão grave em seu retrato, cercada de ouro, motivos egípcios, vestida como uma princesa e ostentando um maravilhoso colar de brilhantes, salpicado de rubis, esmeraldas e safiras.

Ela morreu ainda jovem em 1925, com 43 anos e expressou em seu testamento o desejo de que seu tão admirado retrato fosse exposto ao público, no Belvedere Museum, após a morte do marido.

Adele não presenciou a tragédia que se abateria sobre sua família, anos depois de sua morte. Foi poupada da perseguição, humilhação e espoliação que sofreu toda a comunidade judia quando a Áustria foi anexada em 1938 pela Alemanha de Hitler.

Maria, sobrinha de Adele, interpretada com emoção por Tatiana Maslany, consegue, com sorte, fugir de Viena e exilar-se na América, para onde já tinham ido seu tio e sua irmã.

E leva uma vida pacata em Los Angeles, até que em 1998, com a morte da irmã, algo muito forte vem à tona e começa a grande aventura do quadro admirado em Viena como “A Dama Dourada”, sem sobrenome que identifique suas origens.

Em uma história, que o filme conta de uma forma  envolvente, um jovem advogado americano (Ryan Reynolds), neto do compositor judeu Arnold Schoenberg e o jornalista austríaco Hubertus Czermin (Daniel Bruhl), vão ajudar Maria Altmann (Helen Mirren, sempre admirável), numa disputa judicial entre ela, sobrinha de Adele e a Áustria, que não queria ceder o quadro, tesouro nacional.

Vamos assistir à saga pela qual passou um dos quadros mais famosos e valiosos do mundo, das paredes do Belvedere Museum para a Neue Gallery em Nova York, onde está exposto, depois de ser comprado por 135 milhões.

Além de contar com talento essa história verdadeira, o filme do diretor britânico Simon Curtis (“Sete Dias com Marilyn”) levanta questões sobre a restituição de obras de arte roubadas de famílias judias pelos alemães durante a Segunda Guerra.

O roteiro do filme, de Alexei Kaye Campbell, baseou-se no documentário de 2006, “The Rape of Europe”, mas quem leu o livro de Anne-Marie O’Connor, “A Dama Dourada”, publicado no Brasil pela José Olympio, vai sentir falta da história de Adele Bloch-Bauer e Gustav Klimt.

Recomendo o filme e o livro.

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Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte

“Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte”- “Gemma Bovery”, França, Inglaterra, 2014

Direção: Anne Fontaine

 

Existem muitas Madames Bovary, nos lugares mais comuns do mundo. Ou seja, casamentos aborrecidos, onde um alguém busca outro alguém para se animar. Tanto homens como mulheres podem ser uma Emma Bovary.

Ou achar que alguém é a Bovary.Ou seja, os próprios desejos reprimidos fazem essa pessoa ter medo do que vai acontecer ao outro. Ou outra.

No caso desse filme, adaptado de um livro ilustrado de Posy Simmonds, autora inglesa, a “Gemma Bovary” é uma bela jovem inglesa, casada, que acabou de ter uma decepção amorosa, que o marido desconhece e achou melhor casar e se mudar.

O casal de ingleses vai para a Normandia, norte da França e a casa deles é pitoresca mas muito desconfortável para alguém que viveu em Londres.

Acontece que o vizinho do casal, o padeiro francês Martin (Fabrice Luchini, sempre excelente) é grande conhecedor da literatura e aprecia Flaubert e seu romance de 1857, “Madame Bovary”, sobre Emma, uma dama casada e entediada, que procura amores para se distrair de um vazio existencial. Só que ela acaba mal.

Ora, quando o padeiro se depara com Gemma, um monumento de mulher, é como se fosse fulminado por um raio. A sua Bovary, vive ao lado da casa dele e, ao mesmo tempo que a deseja e só pensa nela, defende-se desse amor fatal tentando protegê-la do seu horrível fim.

“- Lá se foram 10 anos de tranquilidade sexual”, suspira num momento de lucidez.

E, como o filme começa pelo fim, o padeiro rouba o diário de Gemma que o marido ia queimar e passa as noites a ler e reviver o que se passou, agora sob o ponto de vista de sua Bovary.

Anne Fontaine, diretora do filme, confessa que resistiu à ideia de escolher a inglesa Gemma Aterton para fazer o papel, já que ela tinha atuado em um filme adaptado de um outro livro da mesma autora de “Gemma Bovery”. Mas, aconselhada por Isabelle Huppert, deixou-se também levar pelo magnetismo dessa bela mulher, tão fascinante para homens e mulheres. Um corpo escultural e generoso, um jeito adolescente e um ar meio desligado, compuseram uma Gemma Bovery irresistível.

As belas paisagens da Normandia no verão e os encontros campestres de Gemma e sua cadelinha Carrington e o padeiro Martin e seu cão Gus, trazem ao filme um prazer a mais.

E você não precisa ter lido Flaubert para se envolver, mesmo não querendo, com essa outra dama e sua história amorosa.

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