Sem Limite

“Sem Limites”- “Limitless”, Estados Unidos, 2011

Direção: Neil Burger

Oferecimento Arezzo

Um homem jovem está prestes a pular do terraço de seu apartamento. Ele está de pé, perigosamente equilibrado no parapeito. Escutamos um barulho alto. Alguém está arrombando a porta blindada. A saída é o suicídio? O que ele fez?

Mas o narrador, o próprio quase suicida, acalma os ânimos começando a contar sua história, num “flashback”.

Ele é Edward Morra (Bradley Cooper), um escritor lutando contra a página em branco no seu computador. O prazo de entrega de seu romance está próximo e ele não escreveu nenhuma linha. Pior, a namorada o deixou.

Está abatido, cansado, desanimado. Sai à rua para tomar um ar e tromba com o ex cunhado, Vernon (Johnny Whitworth), traficante, que o apresenta a uma nova droga, o NZT.

“- É disso que você precisa”, diz Vernon.

Já que não tem nada a perder, Eddie resolve experimentar aquela pílula transparente, que parece que estimula as atividades cerebrais. Se fosse verdade, viria a calhar.

Volta ao apartamento e, em três horas, sua editora está surpresa com o material que ele deixou em sua mesa. Eddie parece um novo homem. Seus olhos brilham, a postura é a de um homem em plena vitalidade e seu cérebro está a mil por hora. No dia seguinte ele entrega o livro pronto. E melhor, um saco com as pílulas cai do céu para o seu consumo.

Eddie está radiante com o que consegue fazer sem nenhum esforço. Todos os dados arquivados em seu cérebro, tanto os conscientes quanto os inconscientes, estão à sua disposição. Lembra-se de tudo que ouviu e aprendeu. Descobriu que é só entrar em contato com algumas frases de uma nova língua para passar a falar correntemente. Calcula com incrível velocidade e descobre facilmente soluções para problemas difíceis. Aprende a tocar piano como um virtuoso em horas. Sua visão ampliou-se e ele enxerga o mundo com olhos de um super QI.

Com tudo isso, ser escritor parece pouco para ele agora. Resolve entrar no mundo das finanças e fazer fortuna. Dito e feito. E torna-se o novo alvo de um grande investidor, interpretado por Robert de Niro, que quer ouvir suas avaliações preciosas.

E a namorada Abbie Cornish está interessada de novo. Aliás chovem mulheres em cima dele.

Nem tudo é céu sem nuvens mas o nosso drogado satisfeito vai enfrentar dificuldades como nunca tinha feito antes.

“Sem Limites” é um filme com um excelente roteiro, o sexy Bradley Cooper mostra seu carisma na tela e Robert de Niro está daquele jeito que a gente gosta.

Recomendo.

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Meu Anjo

“Meu Anjo”- “Gueule d‘Ange”, França, 2018

Direção: Vanessa Filho

Tão lindas. Já de início, a imagem da mãe e filha seduz. Marlene e Elli, louras, olhos azuis, pele branca. Mas há uma nota de estranheza. Porque a mãe parece a mais infantil das duas:

“- Estou tão nervosa… Não posso vacilar amanhã! Tenho medo de perder a hora! ”

“- Põe um despertador mãe”, diz a menina séria. Deve ter uns 8 anos.

“- Você é o meu tesouro que vale mais do que ouro! Você me ama? Muito, muito, muito? ”

“- Sim, sim, sim! ”

E essas falas inaugurais, à noite na cama, mostram que, apesar de tanto amor, a mãe se sente insegura e se refugia na confiança incondicional da filha. Fuma sem parar e bebe muito. Usa maquiagem carregada e parece desesperada para arranjar alguém que a sustente.

Dia seguinte, no casamento de Marlene, ela vai vacilar, como tinha medo. Mas antes, pede para Elli:

“- Meu anjo, vai pegar um copo de vinho para mim? ” e faz a filha beber um gole também.

Linda, de branco, tiara e véu, Marion Cotillard mostra sua versatilidade. Uma das melhores atrizes do cinema, Oscar por sua Piaf, ela sabe fazer Marlene, mulher vulgar e carente, mãe irresponsável, de um jeito que nos leva a pensar em como é que essa personagem foi criada. Como era a mãe dela? Tentamos entender sua doce crueldade ditada por um enorme egoísmo.

Elli (Ayline Etaix), percebe-se em seus olhos, adora a mãe, aliás o único adulto por perto. O pai não existe. E assim, aquela bela loura sedutora que a todo instante diz que a ama, é o seu farol no mundo.

Por isso é tão desesperador quando some a mãe-fada e Elli tem que se virar sozinha. No começo vai à escola, como se nada tivesse acontecido.

Com aflição, vemos a menina procurar o número do celular da mãe que só dá caixa postal. Sentada no sofá esperando horas e horas.

E o que falta de comida naquele apartamento, sobra em bebida. Imitando a mãe, Elli afoga suas mágoas com álcool.

Ela já tinha começado a beber, provando de todos os copos sobre a mesa, quando a mãe a levava junto em suas saídas noturnas. Uma amiga de Marlene percebe e Elli leva uma bronca não convincente. O modelo materno fala mais alto. E Elli cheira a bebida na escola. Sofre “bullying”. Mas nada da mãe.

Quando aparece Julio (Alban Lenoir), o mergulhador, também um desgarrado, Elli gruda-se a ele como se fosse uma tábua de salvação.

O primeiro filme da diretora Vanessa Filho, que escreveu o roteiro com Diastéme, tem o privilégio de ter Marion Cotillard e a expressiva atriz mirim.

Em dias de irresponsabilidade geral e adultos infantilizados, sofrem as crianças, parece querer dizer o filme, que infelizmente não aprofunda mais essa ideia.

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