Queen Loretta

“Queen Loretta”- “Królowa”, Polônia, 2022

Direção: Lukasz Kosmicki

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Na noite, aplausos do público para aquela que usa sapatos faiscantes de salto altíssimo e peruca loura. Sem falar dos vestidos de paetês. É Loretta que faz seu número no palco acompanhada por rapazes que a rodeiam com imensos leques transparentes que refletem luzes coloridas.

De manhã, Sylvester muda de personagem. Vestido com um terno impecável, cabelos brancos bem penteados, ele é dono de uma alfaiataria de alto nível. Um artista com o giz e a tesoura.

Mas ele comprou uma casa no sul da França, na famosa Côte D’Azur. Vai trocar Paris e o teatro por uma vida mais calma.

Só que ele ainda não sabe que o destino vai levá-lo a uma outra cidade no seu país natal e lá ele vai viver um outro lado de sua personalidade que ele mesmo desconhece.

Na cidade polonesa humilde, Sylvester vai sentir fortemente no seu coração um afeto novo.

A carta inesperada que sua neta lhe envia, com a foto da mãe e ela, faz com que se lembre do que deixou no passado. Uma filha que ele não quis conhecer.  E que agora precisa dele. Mais precisamente, precisa de um rim, para não morrer. A neta escreve sem o conhecimento da mãe dela, a filha esquecida. E toca na culpa de um pai.

Loretta faz sua despedida do palco cintilando paetês vermelhos e segue para a Polônia onde não sabe o que o espera. Deixa sua cadelinha querida com uma drag amiga, por poucos dias, diz ele.

Mas não vai ser fácil. Com a neta tudo bem mas com a filha há muita culpa dele e ressentimento dela.

O tema central será então a relação pai e filha, Sylvester e Wioletta (Maria Peszek) que rejeita o pai que quer amá-la com todo o seu ser.

Essa minissérie de 4 capítulos da Netflix envolve quem assiste com uma emoção que o pai sente por aquela filha que ele não conhecia. E Loretta vai entrar em cena mais uma vez para salvar vidas.

Temas atuais são tratados com naturalidade e bem colocados no roteiro. Vamos ver os personagens lidando com identidade de gênero, travestismo e machismo. Preconceitos arraigados naquela cidade de mineiros, caem por terra frente à espontaneidade da drag que vem de Paris para ajudar na montagem do espetáculo de solidariedade aos mineiros que perderam seus empregos numa tragédia.

A interpretação dos atores é tocante. Mesmo nos papéis menores há empenho. Sylvester/Loretta é um ator magnífico (Andrzej Seweryn) e faz o papel duplo com raro talento. Quando ele dubla Nina Simone na canção “Ne me quitte pas”, passa nostalgia e sentimentos profundos.

Não foi à toa que essa minissérie fez o maior sucesso em todos os festivais onde foi apresentada. Vale a pena ver e se emocionar com “Queen Loretta”.

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