Capitã Marvel

“Capitã Marvel”- “Captain Marvel”, Estados Unidos, 2019

Direção: Anna Boden e Ryan Fleck

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Ela é pequena, bem proporcionada, cabelos louros sempre soltos, olhar inteligente e, quando cai, levanta logo, pronta para o que der e vier. É uma guerreira. E isso desde criança, como vemos em flashes, correndo de kart, subindo em árvore e virando mais tarde piloto de caça, numa época em que a Força Aérea americana não aceitava mulheres.

Ela usa uma roupa de borracha com as cores da bandeira americana mas só depois que entendeu quem era e de onde vinha. E leva muito tempo para ela compreender isso. Até chegar de volta ao planeta onde nasceu, Carol Danvers pensa que é uma extraterrestre em luta contra outros extraterrestres.

Ora, como ela tem que recuperar o passado, depois de ter esquecido quem é, o filme que teria que mostrar sua origem e de como se tornou uma super heroína, opta por fazer essa recuperação acontecer através de flashbacks curtos, que mostram a confusão na cabeça dela, depois de uma lavagem cerebral, o que também confunde a plateia.

Claro que isso acontece com as pessoas menos familiarizadas com a personagem. E certamente isso é um erro do roteiro porque a ideia do filme é ganhar novos espectadores para a Marvel. Todas nós mulheres do século XXI merecemos mais uma super heroína brilhando nas telas do cinema. Mas, depois da Mulher Maravilha a expectativa seria também a de um novo roteiro bem elaborado.

Mas Brie Larson, que ganhou o Oscar de melhor atriz por sua interpretação comovente em “O Quarto de Jack”, faz o que pode para dar mais profundidade à heroína que ela veste. Aqui, o problema não é a atriz, é a própria Capitã, que em muito poucos momentos insinua o que se passa em seu mundo interno.

E se ao menos não repetisse a frase infeliz associada à Primeira Guerra, lutar “a guerra que vai acabar com todas as guerras…”

E um tantinho de doçura não faria mal nenhum à personagem. Também sua sexualidade não aparece e a sensualidade é restrita apenas a mostrar suas formas na roupa de borracha. Nesse ponto, Annette Bening está mais feminina e sexy na jaqueta de couro preta que ela leva como ninguém.

Samuel L. Jackson que faz o agente que vai acompanhar a Capitã Marvel, é o encarregado de mostrar bom humor e afeto. Nick Fury está ótimo em seu carinho irremediável pela gata Goose que  faz com ele o que ela quer. Desde “Alien” não se via uma gata tão amada.

O filme é bem feito em seus efeitos especiais mas nada de mais do que já vimos. Ponto para a trilha sonora bem escolhida.

No mais, a Capitã Marvel é um cometa. Uma luz que risca os espaços do universo, forte e poderosa. Mas longínqua. E muito só.

Mademoiselle Vingança

“Mademoiselle Vingança” - “Mademoiselle de Jonquières”, França, 2018

Direção: Emmanuel Mouret

Cenários belíssimos na França do século XVIII, um palácio, onde mora a ainda jovem e bela Madame de la Pommeraye (Cécile de France), cercado por um bosque de grandes árvores e um lago. Tudo bonito demais, tão bem cuidado que parece cenário pintado, quadro de época.

A bela dama combina com esse cenário perfeito. E logo a vemos, vestida de seda branca, passeando pelo bosque de braços dados com o Marquês des Arcis (Edouard Bauer), seu amigo, que é um rico libertino. Sua vida se passa mudando de amores com frequência. Isso diverte Madame que enumera a longa lista de mulheres que foram suas amantes.

Continuando a conversa, ela se vangloria de nunca ter amado e de não acreditar no amor:

“- Só acredito na amizade. O amor, combinado com o desejo, cresce fácil e magoa facilmente. ”

E o Marquês responde que presenciou um amor verdadeiro nos tios que o criaram:

“- E como pode amar e abandonar as mulheres como você faz? “

“- Porque em cada uma delas eu vejo, nem que por um momento, esse amor ideal que eu ainda procuro. “

Ela ri, vestida de azul e laços e diz que não acredita quando ele confessa que tem esperança de ver o amor crescer entre eles.

E o Marquês vai ficando como hóspede de Madame e os meses passam e ele continua fazendo a corte a ela. Até percebermos que ela está diferente. Apaixonada.

“- Ele mudou! Não é mais o mesmo homem ”, conta à amiga incrédula.

Vestida de seda turquesa, rendas brancas e bordados delicados, ela mesma dá a entender, no dia do aniversário dele, que ela se entrega a ele.

E conta à amiga, enquanto faz lindos arranjos de flores nos vasos de cristal do salão, que está feliz e que todos em Paris devem estar com inveja dela, vestida num belo tom de carmesim e plumas no cabelo.

Mas o tempo passa e aquela paixão também muda.

E a vemos chorar no ombro da amiga. Mas não tem certeza de que tudo acabou. E quando o vê à noite, ela mesma finge estar desiludida porque seus sentimentos mudaram. Já não é a mesma coisa de antes.

Ele, sem entender que é uma armadilha que ela montou para conhecer os sentimentos dele, concorda.

E vemos Madame empalidecer. Seu orgulho, seu narcisismo, não permitem que isso aconteça. Vai haver uma vingança.

E, para tal, ela vai usar uma nobre decaída e sua filha, Mademoiselle de Jonquières (Alice Isaaz), uma bela e tímida mocinha.

A história do filme foi adaptada pelo diretor Emmanuel Mouret, que escreveu o roteiro, do romance de Denis Diderot de 1784, “Jacques le Fataliste et son maitre”.

O filme é leve e tem uma moral: para curar uma ferida narcísica basta pensar que conseguiu pagar na mesma moeda. Assim pensa quem pensa só em si mesmo. Pura ironia.