Uma Janela para o Amor

“Uma Janela para o Amor”- “A Room with a View”, Reino Unido, 1986

Direção: James Ivory

Oferecimento Arezzo

“O mio babbino caro” canta a soprano no início do filme da dupla Ismail Merchant (1936-2005), produtor e James Ivory, diretor. E quem conhece a ária pensa logo em Florença.

Estamos no começo do século XX e duas inglesas chegam na pensão recomendada. Mas, para desapontamento da jovem Lucy Honeychurch (Helena Bonham Carter) e sua acompanhante Charlotte Bartlett (Maggie Smith, esplêndida, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), a prometida janela para o rio Arno não acontecera. Seus quartos não tem vista.

Apressam-se para o jantar onde, além do reverendo Beebe (Simon Callow), não conheciam mais ninguém entre os hóspedes sentados à mesa. Conversa vai e vem e elas comentam sua decepção com os quartos.

Imediatamente, Mr Emerson (Denholm Elliot) que está acompanhado pelo filho George (Julian Sands), oferece seus dois quartos com vista para as duas embaraçadas inglesas que, depois de recusarem com educação e dada a insistência do reverendo, aceitam a oferta com entusiasmo.

E lá vão elas para seus quartos de janelas com a vista mais linda de Florença.

E começam as visitas turísticas aos monumentos, fontes, igrejas, ruas e arredores da cidade.

Quando Lucy resolve sair sozinha e vai descobrir a grande praça, presencia uma briga entre italianos e acontece uma morte. Ela desmaia e é amparada por George que percebe a presença da moça e seu susto.

A proximidade dos corpos cria um clima sensual entre eles. Os rostos brilham e o calor dos corpos se faz sentir. É o desejo brotando inesperadamente.

Porém Lucy não quer acreditar em seus sentimentos. Foge.

Entre os ingleses da pensão está uma escritora (Judy Dench) que veio à Itália para se inspirar para seu próximo romance. E aquele casal de jovens parece bem interessante. A prima Charlotte fica horrorizada quando essa outra inglesa faz alusão a romance entre o par de jovens.

Um beijo roubado num piquenique, longe da vista dos outros, mostra que George está apaixonado e não esconde isso. Mas Lucy, que não evita o beijo, convence a si mesma que aquilo não queria dizer nada. Conta o acontecido à prima Charlotte que, escandalizada, começa a fazer as malas imediatamente. Resolvem voltar à Inglaterra sem mais um dia em Florença. E com elas vai o segredo do beijo, guardado a sete chaves.

Lucy, que se faz de forte, é infantil e medrosa. Só se percebe  o ardor de seu temperamento quando, ao piano, toca Beethoven com força e  calor. Mas, na vida, finge para si mesma e refugia-se no noivado com Cecil Vyse (Daniel Day Lewis, numa ponta, magnífico), frio e pomposo, que trata Lucy como se já fosse sua propriedade. E implica com tudo que ela gosta.

Mas o amor teima em aparecer e Lucy vai ter uma surpresa quando a vila ao lado da casa dela receber novos ocupantes.

E.M. Foster (1879-1970) escreveu o livro, adaptado para o cinema pela roteirista Ruth Prawer Jhabuala, aos 29 anos, seu terceiro romance. O autor criticava a moral vitoriana e colocou, no personagem do pai de George, a figura de um livre pensador. Ou seja, ele condenava as convenções sociais puritanas que achava que eram uma trava à vida. Aquilo que fazia com que Lucy não pudesse reconhecer prontamente seus próprios sentimentos com relação ao jovem George.

O filme foi indicado a oito Oscars e levou três: melhor roteiro adaptado, melhor direção de arte e melhores figurinos.

“Uma Janela para o Amor – A Room with a View” é um clássico do cinema.

Oito Mulheres e um Segredo

“Oito Mulheres e um Segredo”- “Ocean’s 8”, Estados Unidos, 2018

Direção: Gary Ross

Cuidado com elas. Agora, até no crime as mulheres estão competindo com os homens.

Com inteligência, senso de oportunidade, criatividade e companheirismo, sem quebrar nem sequer uma unha e ninguém ir parar no hospital, elas conseguem o que seria impossível. Mas nada de cassinos em Las Vegas. Aqui temos um plano bem feminino envolvendo um objeto do desejo de toda mulher poderosa: diamantes.

O projeto foi criado por Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã de Danny Ocean (George Clooney) do filme de Steven Soderbergh “Onze Homens e um Segredo” de 2001. Ela usou seus 5 anos, 8 meses e 12 dias na prisão para pensar e chegar à conclusão que seria possível roubar um maravilhoso colar de diamantes da Cartier, o “Toussant”, com três quilos de pedras, valendo 150 milhões de dólares.

Mas como chegar a uma joia guardada no subterrâneo blindado da Cartier num cofre ultra protegido?

Debbie encontra-se com sua amiga Lou (Cate Blanchett, divina) e elas conseguem formar um time de oito mulheres especiais, cada uma craque em uma área necessária para resolver cada ponto do projeto que precisava ser detalhado.

Porque a ideia de Debbie é roubar o colar em pleno “Gala” do Museu Metropolitan de Nova York, para o qual são convidadas as celebridades do momento.

Então a primeira dificuldade já parece intransponível. Como estar lá dentro no jantar mais exclusivo do ano?

O filme é interessante pela maneira ardilosa como elas derrubam cada um dos obstáculos. As especialistas são chamadas uma a uma. Assim, há uma joalheira indiana que entende de pedras, Amita (Mindly Kaling), uma esperta ladra de rua, Constance (Awkwafina), uma receptadora que se infiltra na revista Vogue, Tammy (Sarah Paulson), a hacker Bola 9 (Rihanna), e a estilista irlandesa Rose Weil (Helena Bonham Carter) que vai fazer o vestido, que será usado com o famoso colar, para a badalada atriz Daphne Kruger (Anne Hattaway) , figura importante do plano.

Os homens que participam da história tem pouco espaço mas são indispensáveis para que ocorra uma vingança (Richard Armitage) e para um deles ser feito de bobo (James Corden).

Talvez o filme agrade mais às mulheres porque, além do plano bem bolado e executado com maestria, elas vestem roupas fabulosas (figurinos de Sarah Edward), como o vestido cor de jade de Cate Blanchett, que é a mais elegante, inclusive quando veste um terninho azul céu bem ajustado no corpo ou o blusão de roqueiro com calça de couro e mesmo o blaser de veludo verde esmeralda que realça a cor  dos olhos dela. Sandra Bullock sai da prisão com um vestido negro transparente bordado e um maxi casaco dramático.

No jantar do MET, a capa de Anne Hattaway combina com seu colar fabuloso e ela fica linda tanto de frente quanto de costas, para delírio dos fotógrafos.

No local do jantar está havendo, na sala ao lado, uma exposição de joias e vestidos da realeza europeia mas ninguém dá muita bola porque todos querem ver e ser vistos no jantar.

E esperem uma surpresa que torna o final mais saboroso.

“Oito Mulheres e um Segredo” não é um grande filme mas é bom entretenimento. Leve e divertido.