A Vida Mentirosa dos Adultos

“A Vida Mentirosa dos Adultos”- “The Lying Life of Adults”, Itália, 2023

Direção: Edoardo De Angelis

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O que é ser um adulto? Todos nós nos perguntamos isso pelo menos uma vez na vida. E a adolescência é o lugar para tentar resolver o dilema: ser como nossos pais ou diferentes? Ou será que quando somos pequenos tudo parece grande e quando ficamos grandes tudo parece pequeno?

É o que se pergunta a personagem principal dessa mnissérie que tem 15 anos, é bela e inteligente mas muito sensível.

E tudo começa quando Giovanna ouve o pai comentando sobre ela, com a mãe, por acaso. Ela ouve ele dizer que a cada dia a filha está ficando mais feia, parecida com a tia Vittória.

Giovanna, que diz para si mesma, “me sinto feia mas quero ser amada”, passa a ter uma ideia fixa. Quer conhecer essa tia e saber por que os pais dela não a mencionaram como parente.

Encontra fotos bisbilhotando gavetas mas nelas a tia está com o rosto escondido por tinta preta.

Estamos em Nápoles, nos anos 1990, e Giovanna quer saber  por que o pai dela acha que a irmã dele é feia. Intui que há algo misterioso e proibido na vida dessa mulher.

Tanto pergunta que o pai a leva na casa da tia dizendo que era para ela ficar por uma hora no máximo.

Vai ficando mais claro o porquê das primeiras imagens na tela que mostram uma mão de menina resgatando uma pulseira do fundo do mar. Algo antigo e precioso.

Giovanna vai viver a passagem da adolescência para a vida adulta, tendo como cenário tanto seu circulo de amizades como os amigos dos pais, os adultos.

E de passagem vamos ver tudo o que acontecia naqueles anos do fervilhar das ideias políticas, religiosas e de costumes. As meninas de mini saia, as festas das pessoas que moravam no lado alto e mais rico da cidade e aquelas das praças, com o entoar de hinos e o tremular das bandeiras vermelhas, empunhadas pela gente mais pobre que vivia no lado baixo de Nápoles.

Frente a frente com a tia Vittória, finalmente, a sobrinha vai passar por uma aprendizagem com a mulher que vivia no lado pobre da cidade, era afetiva e desbocada.

“- Onde está a pulseira que dei para você quando você nasceu?”

Esse objeto simbólico do feminino vai passar por várias mulheres até voltar para Giovanna. É uma pedra de toque que vai determinar a possibilidade de ser adulta e decidir sobre sua própria vida.

Adaptada do livro de mesmo nome da escritora Elena Ferrante, envolvida também ela em mistérios sobre sua verdadeira identidade, tem sete episódios que tratarão da beleza e semelhança, amargura e solidão, amor e verdade.Todos esses temas sendo vividos nos arredores de Giovanna e em seu mundo interno.

E as mentiras? Essas ela vai descobrindo conforme vive e observa os demais. O pai diz que a mentira protege aqueles que amamos e tia Vittória usa uma versão estética na mentira que ela contou para Giovanna.

Giordana Marengo faz uma bela estreia na tela como a personagem principal. Valeria Golino, ótima atriz, é a tia Vittória. Giovanni Buselli é Roberto e Adriano Pantaleo é Rosario, os rapazes que cortejam Giovanna.

Edoardo De Angelis dirige com poesia e belas imagens a cidade de Nápoles, com cores e luzes e um passado ainda presente. Uma bandeira da Itália esfarrapada pende de um mastro frágil sobre as águas do golfo. Um comentário visual bem colocado.

“A Vida Mentirosa dos Adultos” é uma história atraente e bem contada.

 

O Solista

“O Solista”-“The Soloist”, Reino Unido, França, Estados Unidos, 2009

Direção: Joe Wright

Essa é a história real do encontro de dois homens em tudo diferentes. Um deles é um dos 90.000 sem teto que, na época, viviam nas ruas de Los Angeles. O outro, é um jornalista que procura uma história para sua coluna no “Los Angeles Time”.

Atraido pelo som de um violino, ele vai na direção do homem que toca o intrumento e consegue um som bonito com apenas duas cordas. As outras faltavam.

Steve Lopez (Robert Downey Jr) decide que vai escrever sobre o músico em sua coluna. Mas o contato inicial é difícil. O jornalista não sabia que teria de lidar com uma pessoa tão complicada.

Fica sabendo que o violinista estudara violoncelo na Julliard School. Nathaniel Ayers (Jamie Foxx) frequentara apenas por dois anos essa famosa escola de Nova Yok mas desistira.

O jornalista quer tirá-lo do lugar barulhento onde ele mora. Mas ele não quer. Diz que é lá o melhor ambiente para escutar seu amado Beethoven.

E Lopez se pergunta: por que o homem não quer sua ajuda?

Um leitor da coluna, comovido, manda um violoncelo de presente para Nathaniel. Quase que Lopez tem que obrigá-lo a aceitar o presente. O jornalista ainda não sabia com quem estava falando.

A explicação do comportamento de Nathaniel é um diagnóstico. Sua mente delirava, alucinava, ouvia vozes mas só nisso é que era diferente. No mais parecia um ser humano normal. Só que não havia comunicação. Ele vivia num mundo só dele.

Mas como ele tinha um dom musical evidente, ficava difícil acreditar na doença mental. E esse é o ponto doloroso dessa história.

Os dois ficaram amigos no sentido de que o jornalista se empenhava em ajudar o outro e ficava exasperado com a teimosia de Nathaniel que insistia em fazer tudo a seu modo.

Assim, não largava nem um minuto do carrinho de supermercado com seus pertences amarrados para não se perderem. Uma imagem concreta da mente de Nathaniel. Está tudo ali mas ele não pode usar.

A verdade é que lidar com uma pessoa esquizofrênica é muito decepcionante. É uma experiência feita de frustração para quem não aceita ou não entende o que está acontecendo.

E Lopez vai conseguir levar Nathaniel a um concerto. Beethoven, o preferido do músico. A emoção dos dois foi compartilhada na esperança do jornalista e nas lágrimas de Nathaniel. Finalmente foi criado um elo entre os dois.

Quem for ver o filme deixe suas expectativas de lado e aprenda como é difícil lidar com doença mental.  Tanto para quem a vive, quanto para quem convive, de algum modo com uma pessoa assim, que vive num mundo tão diferente do nosso.