Oscar 2016

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OSCAR 2016

 

Nesse domingo vai acontecer a grande festa do Oscar.

Desde pequena, é um ritual. Sigo o espetáculo até o fim. Para mim, é uma curtição poder ver meus artistas favoritos em situação de vida real, interpretando a si mesmos.

O tapete vermelho do início mostra não só a moda mas a personalidade das atrizes. Audácias podem ser até elegantes. Depende de quem a veste.

E as jóias, que não são delas, ficam espetaculares nessas vitrines vivas.

Esse ano, como sempre, assisti a todos os filmes indicados nas categorias mais importantes: melhor filme, diretor, ator, atriz , coadjuvantes e filmes estrangeiros. Gosto muito também de seguir a melhor produção de arte, melhor figurino e melhor fotografia.

Infelizmente, documentário só vi “Amy”, que é o favorito.

E vou torcer muito para que o Brasil finalmente ganhe um Oscar! Nossa chance é a animação “O Menino e o Mundo” de Alê Abreu. O favorito na categoria, “Divertida Mente”, sinceramente, não me encantou. A animação brasileira é original, poética e vem com uma mensagem forte e sincera sobre as escolhas infelizes que fizemos e que estão destruindo a natureza e nos desviando do que seria importante deixar como legado para as próximas gerações.

Vai lá Brasil!

Abaixo a lista integral dos indicados para vocês seguirem durante a cerimonia:

 

Melhor filme:

Brooklyn

A Grande Aposta

Mad Max: Estrada da Fúria

O Quarto de Jack

Perdido em Marte

Ponte dos Espiões

O Regresso

Spotlight

 

Melhor Diretor:

Alejandro González Inárritu (O Regresso)

George Miller (Mad Max)

Tom McCarthy (Spotlight)

Adam McKay (A Grande Aposta)

Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack)

 

Melhor Ator:

Leonardo DiCaprio (O Regresso)

Matt Damon (Perdido em Marte)

Michael Fassbender (Steve Jobs)

Bryan Cranston (Trumbo)

Eddie Redmayne (A Garota Dinamarquesa)

 

Melhor Atriz:

Brie Larson (O Quarto de Jack)

Cate Blanchett (Carol)

Jennifer Lawrence (Joy)

Charlotte Rampling (45 Anos)

Saoirse Ronan (Brooklyn)

 

Melhor Ator Coadjuvante:

Mark Ruffalo (Spotlight)

Tom Hardy (O Regresso)

Sylvester Stallone (Creed)

Christian Bayle (A Grande Aposta)

Mark  Rylance (Ponte dos Espiões)

 

Melhor Atriz Coadjuvante:

Rachel McAdams (Spotlight)

Kate Winslet (Steve Jobs)

Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)

Rooney Mara (Carol)

Jennifer Jason Leigh (Os Oito Odiados)

 

Melhor Roteiro Original:

Ex-Machina:Instinto Artificial

Ponte dos Espiões

Divertida Mente

Spotlight

Straight Outta Compton: A História do N.W.A.

 

Melhor Roteiro Adaptado:

Brooklyn

Carol

A Grande Aposta

Perdido em Marte

O Quarto de Jack

 

Melhor Filme de Animação:

Anomalisa

Divertida Mente

O Menino e o Mundo

Shaun, o Carneiro

Quando Estou com Marnie

 

Melhor Filme Estrangeiro:

O Abraço da Serpente (Colombia)

O Filho de Saul (Ungria)

Cinco Graças (França)

A War (Dinamarca)

Theeb (Jordânia)

 

Melhor Fotografia:

Carol

Os Oito Odiados

Mad Max:Estrada da Fúria

O Regresso

Sicario:Terra de Ninguém

 

Melhor Direção de Arte:

A Garota Dinamarquesa

Ponte dos Espiões

Mad Max: Estrada da Fúria

Perdido em Marte

O Regresso

 

Melhor Figurino:

Carol

Cinderela

A Garota Dinamarquesa

Mad Max: Estrada da Fúria

O Regresso

 

Melhor Trilha Sonora:

Carol

Os Oito Odiados

Ponte dos Espiões

Sicario: Terra de Ninguém

Star Wars: O Despertar da Força

 

Melhor Cabelo e Maquiagem:

Mad Max: Estrada da Fúria

The 100-year-long Man Who Climbed out the Window and Disappeared

O Regresso

 

Melhor Canção:

Earned it (CinquentaTons de Cinza)

Manta Ray (Racing Extinction)

Till it Happens to you (The Hunting Ground)

Simple Song #3 (Juventude)

Writing’s on the Wall (007 Contra Spectre)

 

Melhor Documentário:

Amy

Cartel Land

What Happened Miss Simone?

Winter on Fire

 

Melhor Curta-Metragem:

Ave Maria

Day One

Everything will be Okay

Shok

Stutterer

 

Melhor Documentário em Curta-Metragem:

Body Team 12

Chau, Beyond the Lines

Claude Lanzman: Spectres of Shoah

A Girl in the River: The Price of Forgiveness

Last Day of Freedom

 

 

 

 

 

Filho de Saul

“Filho de Saul”- “Saul Fia”, Hungria, 2015

Direção: Lázló Nemes

Até onde o ser humano pode aguentar o sofrimento antes de enlouquecer?

Estamos num campo de concentração que não mostra seu nome. Dizem que se trata de Auschwitz/Birkenau, 1944. Mas isso, o espectador que não sabe nada sobre o filme, só descobre aos poucos.

Há um texto na tela negra, antes do filme, que explica o que é “Sonderkommando”. Um grupo de judeus é poupado do extermínio imediato para viver algo terrível. São eles que levam os que chegam no trem de carga, assustados e desorientados, para a sala onde tiram suas roupas e pensam que se preparam para um banho. São as câmaras de gás.

Depois, os corpos são arrastados e empilhados e levados ao forno, onde são queimados. Suas cinzas são jogadas no rio por esse grupo de homens, que a tudo presenciam, sabendo que o dia deles também vai chegar. São homens embrutecidos, que trabalham sem parar, num frenesi que os ajuda a não pensar.

Depois da guerra, alguns deles foram julgados e condenados porque entendeu-se que contribuiram para o extermínio de seus irmãos judeus.

Mas o diretor Lázló Nemes não entra nesses detalhes em seu filme. Só uma breve explicação e somos jogados na frente de Saul, que é um “Sonderkommando”.

A câmara gruda em seu rosto inexpressivo, onde os olhos parecem vazios. Ele não fala. E o horror do que vai acontecer transparece nos gritos que ouvimos, no choro convulsivo de mulheres e crianças, arrastadas para a morte.

O formato da tela, quase quadrado, nos aprisiona com Saul, que sabe o que acontece ao seu redor. O espectador vê apenas pedaços dessa cena em que vive Saul. Só as bordas desfocadas. Adivinhamos em nossas entranhas o horror que está acontecendo. Ouvimos o inferno pelo qual passam seres humanos.

“Filho de Saul” consegue ser visceral. Sentimos junto a Saul. Vemos o que acontece no seu rosto, por mais que ele fique inexpressivo. Os sons não mentem. Vivemos o que ele vive.

E o ponto de quebra em Saul acontece logo.

Na pilha de corpos alguém está vivo. Um menino respira com dificuldade. É levado para uma maca e percebemos a emoção no rosto de Saul. Vemos o que ele vê e sentimos nele uma mudança.

Esse menino, morto em seguida por um médico nazista, vai mudar o foco de Saul. Ele se crê pai da criança e vai fazer tudo que pode para encontrar um rabino para enterrá-lo segundo a tradição.

Esse projeto difícil de ser executado, dadas as condições em que vive, resgata Saul da morte em vida e faz com que recupere sua identidade como judeu e ser humano.

Géza Rohrig, 48 anos, é mais poeta que ator e nasceu em Budapeste, na Hungria. Depois de uma visita a Auschwitz na Polonia, decidiu tornar-se judeu. Mora em Nova York, é professor de crianças e publicou duas coleções de poemas sobre a Shoah, o Holocausto. Ator excepcional, ele vive seu personagem Saul, no filme, com corpo e alma.

Lázló Nemes, 39 anos, e estreante em longas, viu seu filme ganhar o Prêmio especial do júri e da crítica no Festival de Cannes do ano passado e o Globo de Ouro desse ano como melhor filme estrangeiro. É o favorito do Oscar 2016 para a mesma categoria.

“Filho de Saul” vai mais longe na representação do Holocausto do que outros filmes que já vimos. Seu impacto faz lembrar “Shoah”1985, de Claude Lanzman.

Chocante, faz pensar na maldade e perversidade que habita o ser humano. O que é salutar. Se não estamos conscientes disso, o perigo de cair nesse abismo é ainda maior.