O Exótico Hotel Marigold

“O Exótico Hotel Marigold “- “The Best Exotic Hotel Marigold”, Inglaterra, 2012

Direção: John Madden

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Envelhecer nunca é fácil. Por isso, chamar a velhice de “melhor idade”, só se for contemplando a alternativa.

O diretor John Madden, 63 anos, de “Shakespeare in Love”(1998), que ganhou sete Oscars, inclusive o de melhor filme, dirige “O Exótico Hotel Marigold”, com um ótimo elenco “senior”, que vai brincar com as mazelas dos mais velhos usando o bom humor britânico.

Baseado no livro de Deborah Moggach, o filme conta a história de sete velhinhos ingleses que, por essa ou aquela razão, decidem mudar-se para a India.

Assim, uma ex-governanta azeda e xenófaba quer assistência médica que não pode pagar na Inglaterra (a ótima Maggie Smith), um casal está arruinado e procura um lugar mais barato para morar, outro ainda quer reencontrar o amor de sua vida (Tom Wilkinson), uma viúva recente e empobrecida quer ir para longe da família e escreve um blog contando o que acontece na viagem (a maravilhosa Judi Dench) e uma solteirona e um solteirão procuram o companheiro que faltou em suas vidas.

Todos pensam ter comprado uma passagem para Shangrilá, onde os sonhos se realizam. Mas, tanto eles como a plateia, vão ver que não é fácil encontrar a Terra Prometida, aquela onde “jorra o leite e o mel”…

A India, que já foi a joia da Coroa Britânica, é hoje um país que se ama ou odeia. Ninguém fica indiferente à antiga terra de sultões e marajás.

Por um lado, a India oferece o que se quer ver, os belos templos e palácios de mármore, as cores dos sáris das mulheres, a luz que não tem igual no mundo, elefantes com orelhas tatuadas, camelos, macacos, vacas sagradas e os sorrisos de um povo acolhedor.

De outro, o viajante vai encontrar a sujeira, a comida de paladar estranho e causadora de indizíveis sofrimentos estomacais, a água que contamina, o trânsito infernal, o calor insuportável ou as chuvas torrenciais e a pobreza onipresente.

E viver lá deve ser muito diferente de fazer turismo. É o que os velhinhos ingleses vão descobrir.

Mas “O Exótico Hotel Marigold”prova que o velho instinto de sobrevivência refloresce quando é invocado. E que o poder de adaptação do ser humano é quase universal.

Chegando à India, os velhinhos do filme vão tentar ajudar Sonny Kapoor (Dev Patel de “Quem Quer Ser um Milionário”) a tornar realidade o “photoshop”do Hotel Marigold que eles compraram na Inglaterra.

E aprendem que Shangrilá e a Terra Prometida são mitos. Ou melhor, estados de mente que podem ser alcançados depois de muito trabalho interno. Porque implicam em deixar os sonhos da juventude de lado e por a mão na massa da realidade, do momento presente, da vida com seu quotidiano possível e satisfatório.

Quem quer sobreviver, entende rápido o que precisa fazer.

Sem ser um filme com voos originais, “O Exótico Hotel Marigold” diverte com simplicidade.

E talvez os mais jovens aprendam uma ou duas lições de como envelhecer bem. O que já é muita coisa, pensando bem.

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

“Eu Receberia as Piores Noticias dos Seus Lindos Lábios”, Brasil 2011

Direção: Beto Brant e Renato Ciasca

Quem seria aquela bela moça que jaz nua na praia do rio? Longos cabelos negros e olhos assustados, consciente de uma presença estranha, ela se oferece, debruçada.

Seu rosto lambe a areia, seu dorso, arqueado para a frente numa posição de submissão total, sacrifica-se ao mais forte do que ela.

Bela metáfora visual para a Amazonia, indefesa frente ao homem branco destruidor, que não respeita os povos que nela habitam, nem sua condição selvagem…

“Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, tem toques ecológicos mas, inspirado no livro de mesmo nome de Marçal Aquino, seu tema é um triângulo amoroso fadado à tragédia. A dupla de diretores, Beto Brant e Renato Ciasca, que já trabalhou junto outras vezes, tem recebido mais elogios que críticas.

A paisagem da floresta cede lugar às casas simples e às ruas de terra batida de Santarém e Itaituba, no Pará. Lá vai ser contada a história de amor de Lavínia e Cauby.

O rio Arapiuns marca o início e o fim da trajetória de uma paixão, grande demais como a própria floresta de suas margens, que acolhe os forasteiros da nossa história.

Sabemos pouco sobre o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), que chega de balsa pelo rio. Foge de um passado penoso ou procura aventuras?

Quando ela aparece, invade a tela com uma beleza sem artifícios. Lavínia (Camila Pitanga), vai ser o eixo em torno ao qual a história vai ser contada.

As lentes do fotógrafo Cauby a elegem como musa e Lavínia se espalha pelas paredes da casa dele, em toda a sua formosura e mistério. Porque ela não se abre. Sua vida vai ser contada aos poucos.

Mas se entrega, como a Iara mítica da praia, a Cauby. Sexualidade à flor da pele, que explode como onda que quebra e vai morrer na cama daquele homem.

Há ainda o pastor Hernani (Zécarlos Machado). O terceiro do triângulo. Bem intencionado, quer redimir a todos porque está em luta interna com seus próprios demônios. Ele é quem traz Lavínia da decadência das calçadas de Copacabana para a floresta.

A fotografia de Lula Araujo é magistral. Tanto os rostos e corpos humanos, como a cidadezinha pobre, são transformados em quadros de um pintor talentoso que não pinta apenas a superfície mas adentra outras camadas, sem perturbar a natureza do que é retratado.

E maravilha nossos olhos com o rio turqueza, as matas verde-amarelas e o rosto transfigurado de Camila Pitanga quando se abre num sorriso iluminado.

Quem gosta de filmes imperfeitos mas com substância, não pode perder “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”.