Estética gótica, cenário medieval e um olhar freudiano são os atrativos desse filme sombrio que se passa na Espanha do século XVII.
“- A cada pecador, seu pecado”, diz o monge no escuro do confessionário para um homem que reincide sempre no pecado da carne.
“- Satanás é muito poderoso…”, responde quem estava ajoelhado do lado de fora.
“- Satã só tem os poderes que nós mesmos lhe damos”, responde o confessor.
“- Simples assim? “ pergunta o pecador.
“- Sim”, responde o monge.
Nesse diálogo está colocado o desafio que o monge Ambrósio não sabia que teria que enfrentar um dia. Do alto de sua pureza, o sem pecados condena aquele que cede às tentações.
Mas a história do monge, baseada no romance gótico e anti-papista de Mattew Lewis que viveu no século XVIII na Inglaterra protestante e que foi adaptada pelo próprio diretor do filme, tem suas raízes em segredos do passado que vão ditar o destino do personagem principal.
Como na tragédia grega de Édipo, Ambrósio bebê ainda, foi abandonado na porta do convento por alguém que não teve coragem de lançá-lo às águas do rio.
Ele carrega consigo uma maldição que desconhece.
O monge tenta aliviar suas dores de cabeça, que o deixam insone, no roseiral que cuida desde pequeno.
Mas, quando aparece o enviado do Mal, Ambrósio, que se julgava imune às tentações, verá que não é tão simples assim não ceder aos desejos mais íntimos da carne e do coração.
A natureza humana, com suas fraquezas e limites, será testada duramente, durante o desenvolver da história de Ambrósio, interpretado com grande entrega por Vincent Cassel.
Quem se comportava como um santo, descobre-se filho do homem e assume um pacto faustiano.
O clima de sombras e presságios de “O Monge” deve muito à música de Alberto Iglesias, que usa lindamente cantos gregorianos e à fotografia de Patrick Blossier, de claros e escuros, que adicionam os elementos necessários à trama, que sugere tragédias desde o início.
Sem ser um filme imperdível, “O Monge” tem o mérito de lidar com o grotesco sem apelar para imagens de mau gosto e sustos baratos.
É um filme de suspense que conta a história com classe e bom gosto. Até mesmo com poesia e inspiração, eu diria.
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