Na Estrada

“Na Estrada”–“On the Road”, França / Inglaterra/ Estados Unidos / Brasil, 2012

Direção: Walter Salles

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Mesmo que a relação da maioria do público com o assunto seja distante, quase todo mundo já ouviu falar do escritor americano Jack Kerouac, que viveu de 1922 a 1969 e que escreveu o livro “On the Road” em 1957. Ele foi o poeta ícone da geração “beat” que lia Proust, Rimbaud e James Joyce.

É importante saber que essa geração “beat” influenciou muita gente, inclusive os “hippies”, que se consideravam seus herdeiros.

Kerouac defendia uma escrita livre e espontânea, um jeito de escrever que marcou a literatura que apareceu depois dele.

Politicamente, os escritores dessa geração “beat” identificavam-se com ideias anarquistas e de esquerda, mas seu principal foco era o auto-conhecimento, que eles achavam que viria através da adoção de um comportamento transgressivo que ia contra os valores moralistas da época. Vale lembrar que nesse momento do pós Segunda Guerra, os Estados Unidos viviam a era do macartismo, como ficou conhecida a campanha liderada pelo senador McCarthy, de perseguição política aos considerados comunistas e desrespeito aos direitos civis. Foi o tempo da “caça às bruxas”.

O novo filme de Walter Salles, “Na Estrada”, retrata a vida desses escritores, numa adaptação que parecia impossível de ser feita, do livro “On the Road”.
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Até a Eternidade

“Até a Eternidade”- “Les Petits Mouchoirs”, França, 2010

Direção: Guillaume Canet

Um “nightclub” em Paris. Música e risos. Homens conversam no banheiro. Um deles senta-se numa mesa mas logo sai, depois de beijar na boca uma garota que ele, visivelmente, não conhece.

Parece bêbado ou drogado porque sai meio que cambaleando do lugar. Põe o capacete e o vemos na sua moto, em uma Paris que amanhece, deserta.

A moto cruza a ponte sobre o Sena e um caminhão enorme aparece do nada. Ouve-se um estrondo. Gritamos juntos no cinema. Aconteceu uma tragédia.

A tela fica escura.

Quando voltam as imagens, estamos no elevador de um hospital e os amigos do motoqueiro (impossível não ter morrido, pensamos nós), revezam-se para vê-lo num leito de UTI, olhos fechados, rosto todo cortado, dentes quebrados, um colar ortopédico no pescoço e tubos por todo o lado.

Consternação geral e aquele clima…

Marion Cotillard, que faz Marie, parece ser a mais próxima de Ludo (Jean Dujardin), o acidentado. Seus olhos azuis transmitem preocupação.

“- Você está linda de máscara…Vou sair daqui amanhã”, sussurra Ludo no ouvido dela.

Na sala de espera, choro e palavras de consolo.

Já fora do hospital, os amigos de Ludo conversam:

“- É maldade deixá-lo”, diz um.

“- Esperem. Ludo é como um irmão. Mas não podemos fazer grande coisa. Ele está na UTI”, diz outro.

“- Vamos por duas semanas e voltamos. São as nossas férias. Que tal?”, arremata alguém.

“- É a melhor solução”, concordam todos.

“Até a Eternidade”, filme escrito e dirigido por Guillaume Canet, seu terceiro longa, tem como tema a amizade. Há quem considere esse sentimento como mais importante que o amor.

O grupo de amigos, todos entre 30 e 40 anos, sai sempre juntos para as férias na casa de Max (François Cluzet). Não abrem mão do mar azul, areias brancas e do barco que o amigo Max conduz, se exibindo e mandando em todo mundo.

Deixam Ludo na UTI porque não há nada a fazer. A não ser, talvez, esperar que ele melhore ou piore, em companhia. Mas como ninguém é santo, o egoísmo prevalece.

O filme de Guillaume Canet fala também sobre o que acontece quando amigos ficam juntos numa casa. Claro que vai haver conflito, confidências que esperam aprovação, segredos compartilhados, maus humores que transparecem mais do que nunca mas, haverá também, o afeto que une aquelas pessoas que estão lidando com a ideia da morte estar rondando.

Há ali um provável luto a ser trabalhado. E, por isso, os amigos se distraem com a sexualidade uns dos outros, os homens rivalizam entre si para ver quem é o melhor em tudo e as mulheres fazem o grupinho à parte para criticar.

Tudo muito humano, simpático e envolvente.

Há porém, a figura do pescador, que é o mensageiro da verdade que incomoda…

Talvez Canet tenha exagerado no tempo porque o filme tem 158 minutos. Mas, talvez não. Como aprofundar o olhar sobre os personagens e torná-los tão parecidos com a gente? Ele precisava de mais cenas.

O saldo é positivo para o marido de Marion Cotillard, aquele que acabou de deslumbrar as mulheres que o viram em “Apenas Uma Noite”, como o amante francês de Keira Knightley.

Bom diretor, roteirista e ator, o belo Guillaume Canet não aparece em “Até a Eternidade” mas merece a atenção do público que gosta de comédias dramáticas.

Ele tem também bom gosto. Escolheu Nina Simone para cantar “My Way” nas cenas finais. Levem seus lencinhos.