Apenas Uma Noite

“Apenas Uma Noite”-“Last Night” França, Estados Unidos 2011

Direção: Massy Tadjedin

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Há um mal-estar palpável nos relacionamentos que envolvem homem e mulher na atualidade.

A liberdade sexual trouxe ganhos evidentes mas também causou danos, no caso por exemplo, de relacionamentos superficiais que não duram, principalmente entre os mais jovens. Poucos tem alguma paciência com os defeitos alheios e qualquer situação mais complicada é evitada com a troca de parceiros.

Por outro lado, os homens sempre tiveram mais liberdade para ter várias parceiras e sempre contaram com a conivência da cultura machista no caso de manterem relações com duas ou mais mulheres ao mesmo tempo.

As mulheres, por sua vez, conquistaram direitos iguais aos do homem, adotaram o modelo masculino no campo profissional e partiram para conquistar o mundo.

Mas e como fica o sexo? Sabemos que homens e mulheres não partilham do mesmo modo de viver a sexualidade, nem no gozo, nem na maneira de escolher seus parceiros. E, no entanto, há mulheres que usam o modelo masculino também na cama.

Isso traz uma discussão interessante sobre os temas da monogamia, fidelidade, traição e mentira nos relacionamentos estáveis e no casamento.

Em “Apenas Uma Noite”, a diretora iraniana Massy Tadjedin, que também escreve o roteiro, quer nos desafiar a pensar a respeito dessas questões.

E, para isso usa um casal. Joanna (Keira Knightley) e Michael (Sam Worthington) levam uma vida charmosa, confortável e aparentemente feliz em New York.

Numa noite vão a uma festa onde encontram Laura (Eva Mendes), atraente colega de trabalho de Michael. Joanna, que a câmara flagra no táxi indo para a festa com uma fisionomia estranha, entrega-se a suspeitas e passa a desconfiar da fidelidade do marido.

Ora, será que Joanna observa Laura e Michael na festa dirigida pela insatisfação com a própria vida? Ela é escritora e parece que está sofrendo um bloqueio na criatividade. Nada melhor que procurar fora dela um tema para distrair-se.

Só que o inesperado acontece, justamente na noite em que o marido de Joanna está em viagem de trabalho com Laura. Um antigo amor aparece por acaso e isso a desconcerta. Reviver esse amor não seria mais interessante do que sofrer de ciúmes pelo marido?

O filme faz um vai e vem entre Los Angeles, onde estão Laura e Michael e New York, onde Joanna e Alex (o francês Guillaume Canet) se encontraram.

E as perguntas aparecem. Será que é a insatisfação que leva à traição? Ou é a curiosidade?

Ou seja, os motivos para a traição pertencem à relação que não vai bem ou, mesmo indo bem a relação, alguém pode se sentir tentado a experimentar uma novidade?

É o casamento de Joanna e Michael que está em crise ou isso pode acontecer com casais que se amam?

Entre Michael e Laura, a situação é diferente da de Joanna e Alex? Haveria, no segundo caso um sentimento que justificaria a aproximação dos dois, que não fosse simples e puro desejo, como no caso de Michael e Laura?

E a culpa? Só existe quando há uma relação física ou só o fato de estar envolvido emocionalmente com alguém já traz culpa?

O filme acaba de modo abrupto, fazendo com que as pessoas tenham que conversar, para cada um tentar explicar o caso segundo suas próprias convicções. Ou mudá-las. Conversar e pensar servem para isso também.

Prometheus

“Prometheus”- Idem, Estados Unidos, 2012

Direção: Ridley Scott

Um cenário de pesadelo mais do que de sonho… Uma nave imensa sobrevoa o lugar. Que planeta estranho é esse?

Uma figura com manto e capuz, aproxima-se da grande cascata de águas negras e revoltas que se lança com fúria no abismo. Seu rosto branco e inexpressivo lembra o de uma estátua grega. O corpo enorme mostra músculos bem torneados mas ele não é feito de carne e osso.

A nave em forma de disco se inclina e sobe.

A figura estatuesca bebe uma espécie de geleia e começa a desintegrar-se. Entramos com a câmara em seu corpo e vemos células brilharem. O corpo cai nas águas escuras. Mergulhamos com ele.

Lá no fundo, uma estranha forma vermelha pulsa e brilha. Dentro ou fora da carcaça?

Assim começa “Prometheus”, o novo Ridley Scott que volta à ficção científica que o tornou famoso em 1979, com “Alien – O Oitavo Passageiro” e depois “Blade Runner” em 1982.

“Prometheus” é uma introdução a “Alien”?

Alguns pensam que sim, já que o filme se passa 30 anos antes em 2093. E mais, se vocês se lembrarem, a tripulação da nave “Nostromo” de “Alien”, encontra, no planeta em que pousam, uma nave com um piloto muito parecido com a figura do início de “Prometheus”, com um buraco no peito, de onde parece que algo saiu com violência. O “Space Jokey” como ficou conhecido.

Já “Prometheus” conta a história de uma nave que parte da Terra para um planeta distante, guiada pela teoria de dois cientistas, Elizabeth Shaw e Charlie Holloway (Noomi Rapace da versão sueca de “Millenium”e Logan Marshall-Green). Baseados em escavações arqueológicas de diferentes culturas e pesquisas de DNA, deparam com um mesmo enigma que eles querem decifrar: a raça humana teria sido criada por seres de outro planeta, que eles chamam de “Os Engenheiros”?

Essa expedição tem, portanto, perguntas filosóficas tão importantes quanto antigas: quem somos, de onde viemos, quem nos criou?

Outros temas que aparecem mas são pouco desenvolvidos, tornariam o filme mais claro porque seriam discutidas as motivações dos personagens que tripulam a nave, dando mais corpo e alma a eles. Aliás “Prometheus” peca por apresentar personagens dos quais sabemos muito pouco.

Charlize Theron, sempre uma presença marcante, faz a filha do investidor do projeto que chefia a expedição. Fria e sarcástica.

Na verdade, o filme tira o fôlego do espectador pela beleza das cenas filmadas em um 3D, que aqui é indispensável. Tudo é enorme e espantoso. A fotografia empolga. E esse é o ponto forte do filme.

Uma cena ficará na nossa lembrança pela força do seu encantamento e originalidade: a recriação holográfica do universo, quando o robô David aciona os controles da nave extra-terrestre, lembrando “a música das esferas” de que falava Pitágoras, ou seja, a ideia de que os astros, ao se moverem, gerariam sons.

O filósofo e matemático grego pensava que haveria uma música cósmica que nos abriria para novos graus de compreensão. “Os Engenheiros” usavam esse tipo de conhecimento?

Sabe-se que onde há luz há sombras, mas como entender as figuras titânicas dos dois filmes, que explodem de dentro para fora dando nascimento ao monstro que representa a morte e o mal? Ou isso precisa ser compreendido de outra maneira?

Noomi Rapace faz a mulher frágil/forte e muito feminina que vai continuar a busca da resposta ao enigma da criação da raça humana.

Numa alusão divertida à tenente Ripley, papel da atriz estreante na época, Sigourney Weaver, que em “Alien” leva com ela o gato ao abandonar a nave, em “Prometheus”, a dra Elizabeth leva com ela o robô David, interpretado por Michael Fassbender, ator esplêndido em tudo que faz. Ele é o personagem mais intrigante do filme e parece saber mais sobre “os Engenheiros” do que os outros tripulantes da nave.

Haverá continuação como aconteceu com “Alien”?

Aliás nenhuma delas foi dirigida por Ridley Scott e nunca chegaram aos pés da qualidade do primeiro filme dirigido pelo diretor inglês.

Ou o enigma da criação do homem pelos “Engenheiros” permanecerá para sempre um mistério?

Só Ridley Scott poderá responder a essa questão.

E, ao que sabemos, ele se prepara para rodar um filme sobre o personagem bíblico Moisés, quando ele ainda era um príncipe do Egito.

Paciência. E pensar que ele levou 30 anos para voltar à ficção científica depois de “Blade Runner”…