Mulher Maravilha

“Mulher Maravilha”- “Wonder Woman”, Estados Unidos, 2017

Direção: Patty Jenkins

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“- Eu queria salvar o mundo…  Mas sabia tão pouco na época… E a humanidade? Não é o que se pensa. Aprendi isso de um jeito difícil, há tempos atrás…”, ouve-se em “off” uma voz feminina falar. De relance, vemos seus saltos altos, um belo rosto e cabelos escuros.

Estamos em Paris no Louvre atual e a moça recebe um pacote em sua sala onde trabalha com antiguidades. Dentro uma foto em preto e branco. Reconhecemos a Mulher Maravilha rodeada de quatro homens.

Assim começa o filme da primeira super-herói feminina que foi criada há 75 anos por William Moulton Marston, psicólogo, inventor do detector de mentiras e escritor de quadrinhos. Ela foi a personagem de uma série para a TV nos anos 70, com Linda Carter, que fez muito sucesso. Todas as garotas daquela época queriam ser guerreiras e vestir aquele maiô sexy, em vermelho e azul.

Esse filme incrível é apenas o segundo longa da diretora Patty Jenkins, 45 anos, sendo que o seu primeiro, em 2003, foi “Monster” que deu o Oscar de melhor atriz para Charlize Theron.

“Mulher Maravilha” depois da primeira cena no Louvre, continua com um longo “flashback” que conta a história de Diana, princesa das Amazonas e seu caminho para tornar-se a super-heroína com super-poderes.

Como cenário, no começo, temos uma ilha de sonho, com altas falésias dando para um mar turquesa e campos verdes onde cavalgam as belas Amazonas. Lá vive a única criança da ilha, a esperta Diana. Sua mãe Hipólita (Connie Nielsen) não quer ver sua filha treinando lutas como as outras. Ela tem que ir para a escola.

Já sua tia Antíope (Robin Wright), a general da tribo, acha que quanto antes Diana aprender a se defender, melhor. E a sobrinha começa então a treinar secretamente com ela.

Mas numa coisa concordam a mãe a tia. Jamais revelar a Diana sua concepção. A menina (Lilly Aspell) e depois a jovem inocente (Emily Carey), sempre acreditaram na história que a mãe contava: fora feita de barro por Hipólita e Zeus dera-lhe a vida.

O segredo sobre quem é o pai da Mulher Maravilha certamente voltará em outro filme mas aqui ela pouco sabe, tanto sobre si mesma, quanto sobre o mundo dos humanos.

Temiscira, a ilha paradisíaca onde Zeus escondia as Amazonas, era um mundo à parte. E assim foi durante o crescimento de Diana. Ela aprendeu a usar o arco e a flecha  montada em seu cavalo, a proteger-se com o escudo e a manejar o laço da verdade, corda dourada que fazia a pessoa confessar tudo que sabia sem sofrer torturas.

Bem, mas chega o momento em que Diana vai enfim, conhecer um homem. Nunca tinha visto um até que o piloto americano Steve Trevor (o bonitão Chris Pine) cai no mar com seu avião de guerra. Diana o resgata das águas do mar e um envolvimento poderoso começa entre os dois, mas timidamente.

A história vai levar Diana para Londres, em 1918, em plena Primeira Guerra. Ela vai se empenhar em tentar descobrir onde se escondeu o deus da guerra, Ares, que para ela era o único culpado dessa situação na Europa.

Diana, a Mulher Maravilha é a atriz israelense Gal Gadot, divinamente bela, corpo esguio com músculos alongados, cabelos escuros e longos e uma boca deliciosa num rosto que inspira simpatia e exala encanto e graça.

O filme harmoniza, com talento, a transição entre o mundo da fantasia e o mundo real e a convivência entre essas duas realidades. O roteiro do estreante Allan Heinberg conta uma história envolvente e há cenas divertidas, com um humor levemente picante, como quando Diana descobre coisas sobre o piloto espião nu diante dela, ou quando estão os dois dormindo lado a lado no veleiro que os leva para Londres e há um clima de atração entre eles.

Há cenas piores? Sim, porque como é filme de super-herói, ela tem que lutar contra um super-vilão. E aí cai na mesmice dos outros que já vimos. Se bem que Gal Gadot luta e pula com tal graça e leveza que mais parece uma ginasta olímpica.

Encantadora.

Como podem perceber, eu e a quase unanimidade da crítica adoramos o filme da Mulher Maravilha.

Prometo que vocês vão gostar também.

 

Z – A Cidade Perdida

“Z – A Cidade Perdida”- “The Lost City of Z”, Estados Unidos, 2016

Direção: James Gray

O começo do século XX foi uma época em que viagens para lugares ainda intocados por homens brancos, realizadas por exploradores, granjeavam fama e admiração.

Quando encontramos o Major Percy Fawcett (1867-1925), que viria a ser um chefe de expedições famoso, ele está em uma caçada, galopando atrás de um veado, numa trilha perigosa em Cork, Irlanda. Com um tiro certeiro mata sua presa. Os companheiros militares admiram seu manejo da montaria e pontaria. Será o centro das atenções no jantar de gala daquela noite, certamente.

Mas não. Muito elegante em seu uniforma vermelho mas que não ostenta as esperadas medalhas, Fawcett é esnobado pelo anfitrião que comenta em voz baixa que o major não teve sorte com a família. É barrado no jantar.

Assim, limpar seu nome, que herdara do pai, dono de uma má reputação, era o principal objetivo da vida de Percy Fawcett. E a oportunidade de realizar o que tanto buscava surgiu em 1906, quando a Sociedade Real de Geografia o chama para mapear os limites entre o Brasil e a Bolívia. A região era selvagem mas cobiçada por causa da extração da borracha. Os países precisavam de um ponto de vista neutro para resolver a questão.

Essa foi a primeira de três expedições que durante 20 anos  faz Fawcett à Amazônia, de onde volta com a certeza inabalável de que uma civilização sofisticada teria habitado o local, onde encontrara vestígios de cerâmica e esculturas em pedra, encobertas pela selva.

Percy Fawcett amava sua mulher Nina (Sienna Miller, excelente) e os três filhos, dois deles nascidos quando ele estava na Amazônia. Mas a família sofre com suas ausências longas.

A segunda, financiada por um aristocrata atrás de glórias, será pior do que a primeira, morrendo quase todos os participantes, salvando-se Fawcett e seu assistente Henry Costin, interpretado com refinamento por um Robert Pattison ótimo no papel e quase irreconhecível por causa de uma espessa barba.

A eclosão da Primeira Guerra é uma tragédia a mais para ser enfrentada e faz Fawcett sonhar com a selva como um lugar de paz.

Nina, uma mulher à frente de seu tempo, ajuda o marido buscando documentos que comprovassem sua tese, mas não pode acompanhá-lo na terceira expedição com o argumento  que a região é perigosa demais.

Ela fica mas Jack, o filho mais velho (Tom Holland), parte com o pai. E será uma viagem iniciática para ambos. Obcecado em ser respeitado, agarrado à sua esperança louca de encontrar Z, Fawcett se embrenha na selva com o filho, como se fugisse da maldição ligada à reputação do pai, que manchará também seu filho. Não quer o desprezo de seus pares e precisa acreditar que os indígenas mostrarão a ele o caminho para Z. Vê na Amazônia o sonho de uma redenção.

Charlie Hunnam, o “Rei Arthur”, agrega vigor e entusiasmo a seu personagem, que foi um homem complexo e está perfeito como o famoso explorador.

Uma curiosidade é que Brad Pitt quase incarnou Fawcett mas acabou sendo o produtor executivo do filme.

A fotografia de Darius Khondji é bela e misteriosa. A selva verde e escura, o rio dourado, aparentemente manso, tudo esconde em seu seio perigos fatais. As cores são impregnadas de um verde doentio.

A direção de James Gray é segura e o ritmo lento, imposto pela natureza, envolve aos poucos e sugere ameaças.

O roteiro foi adaptado de um dos muitos livros escritos sobre o explorador, é não-ficção, de David Grann de 2009.

E as cenas finais são de uma beleza pungente que nos acompanha quando saímos do cinema.

Belo e extraordinário. Mas não recomendado para quem só aprecia “blockbusters”.