2 Jul, 2010
"A jovem rainha Vitória” - “The young Victoria”, Inglaterra, 2009
Direção: Jean-Marc Vallee
Oferecimento 
Ela foi a Imperatriz de um império colonial tão vasto que sobre ele o sol nunca se punha.
Para um filme sobre ela, foram escolhidos os cenários magníficos de sua vida, palácios e jardins deslumbrantes. Além disso, os figurinos (que ganharam o Oscar) são de distrair da história que está sendo contada de tão suntuosos e cheios de detalhes. Sedas etéreas, babados farfalhantes, rendas delicadas, flores nos cabelos e nos decotes, jóias e tiaras preciosas. E que cores! Um encantamento. Sandy Powell, a responsável por esse prazer para os olhos, inspirou-se e foi fiel aos retratos conhecidos da rainha Victória.
Mas o maior mérito desse filme é resgatar o período da juventude de Victória que foi coroada aos 18 anos e reinou até a sua morte, aos 81 anos. Foi o reinado mais longo da história da monarquia inglesa até hoje (1837 a 1901).
Ela era a única herdeira e última descendente da família real ou seja, sem ela a monarquia britânica morreria.
Emily Blunt (a assistente de Meryl Streep em “O diabo veste Prada”), que em nada se parece com a verdadeira Victória, que era bem mais gordinha, sai-se muito bem no papel. A atriz mostra com talento como alguém que não tinha confiança em si mesma, educada por uma mãe egoísta (Miranda Richardson) e um padastro cruel (Mark Strong) e disposto a tudo para ser regente e apossar-se do trono da mocinha, consegue impor-se no final. Mas talvez outra teria sido a história da rainha Vitória se nela não tivesse aparecido um príncipe, ao mesmo tempo galante e valente.
E o foco principal do filme é esse romance entre a ainda princesa inglesa e o príncipe alemão, Albert de Saxcoburg (Rupert Friend).
Na verdade o amor nasceu e floresceu na troca de cartas entre os dois. Na tela, o roteirista Julian Fellows faz o jovem vir à Inglaterra e encontrar-se com Vitória. Mais palatável para as platéias de hoje em dia.
O rei morre, Victória é coroada mas enfrenta todo um jogo politico no qual a figura de destaque é o bonitão Lord Melbourne (Paul Bettany) que tenta seduzir a rainha para a sua causa e sua cama. E excluir o pretendente de Victória dessa história.
Mas o principe Albert apaixona-se para valer. E passa por cima de todos os obstáculos para realizar o seu amor. O casal teve nove filhos e sua descendência povoou os tronos da Europa.
O filme foi produzido por ninguém menos que Martin Scorcese, o famoso diretor de Hollywood. E o projeto foi apresentado ao co-produtor Graham King por outra figurinha carimbada, a duquesa de York, Sarah Ferguson.
Depois da morte de seu marido aos 42 anos, de tifo, a rainha Victória virou uma viúva inconsolável… Mas sugiro que vocês aluguem o filme “Mrs Brown”(1997) que tem Judi Dench como a rainha na maturidade e que conta a história do seu segundo amor, o fazendeiro John Brown.
Incrível como a jovem melancólica, que se sentia uma peça de xadrez em um jogo jogado por outros, vem a se tornar a mulher poderosa e interessante que ela foi. A história da rainha Victória merece ser conhecida pelas novas gerações.
Recomendo os dois filmes.
25 Jun, 2010
“Cartas para Julieta” - “Letters to Juliette”, Estados Unidos, 2010
Direção: Gary Winick
Você conhece a Toscana? Um dos mais românticos lugares no mundo, com as suas belas paisagens de casario ocre, torres, campos de girassóis, vinhas, estradas com aléias de ciprestes, é o cenário de “Cartas para Julieta”, a nova comédia romântica que chegou às telas na véspera do Dia dos Namorados.
São cartões postais de Verona (tradicionalmente a terra de Romeu e Julieta), Siena e Nova Iorque com uma história que quer falar de amor verdadeiro.
Filme bobinho? Pode até ser. Mas quando alguém invoca William Shakespeare, o fantasma do bardo inglês inspira sempre algo belo. Nunca é perda total. Foi o que aconteceu com “Cartas para Julieta” que tem um charme que muito filme não tem. O elenco é o segredo.
A Julieta em questão, Amanda Seyfried, lembra a Sandra Dee do velho “Candelabro italiano”(196 ). Ela já foi a filha de Meryl Streep em “Mamma mia!”, a sedutora e perturbada garota de programa em “O preço da traição” e a jovem sulista americana em “Querido John”. É a estrela que sobe.
Nesse filme, Amanda é Sophie, uma jornalista americana principiante que está noiva de Victor (Gael Garcia Bernal de “Diários de motocicleta”), um chef que tem um projeto de abrir um restaurante em Nova Iorque. Os dois não sabem mas vão para Verona com sonhos diferentes : ela quer escrever histórias e encontra um grupo de mulheres que respondem às cartas enviadas para Julieta pelas jovens apaixonadas que visitam Verona e ele fica doido pelos leilões de vinho, queijos e receitas que descobre na Toscana.
Resultado, cada um para o seu lado…
Sem amor, a escritora Sophie descobre um velho bilhete de 1951 no muro onde as jovens deixam cartas para Julieta. E resolve responder. Consegue ser tão convincente que Claire, uma inglêsa agora viúva (Vanessa Redgrave), chega a Verona em busca de seu amor da juventude, Lorenzo. Com ela vem seu neto Charles (Christopher Egan) que tenta odiar Sophie para não amá-la.
Separados por 50 anos, será que Claire e Lorenzo vão se reencontrar e viver felizes para sempre?
Mas a história mais comovente é a que se passou nos bastidores. Para Vanessa Redgrave 2009 tinha sido um ano de perdas trágicas: sua filha, Natasha Richardson, também atriz, morrera em março, vítima de um acidente de ski; seu irmão mais novo, Corin Redgrave, sucumbiu a uma doença em abril e Lynn Redgrave, sua irmã mais nova, atriz ela também, teve um câncer fatal, logo depois.
Aos 76 anos, superando todas essas perdas com coragem, Vanessa Redgrave voltou a trabalhar como atriz aceitando o papel de Claire em “Cartas para Julieta”. Ela está bela, diáfana e comovente como a viúva que redescobre o amor e que ajuda a jornalista Sophie a reencontrar a figura materna e a se tornar mais decidida para enfrentar a vida, com todos os perigos de perda e decepção que ela sempre traz.
Mas o charme maior de “Cartas para Julieta” está na presença de Vanessa Redgrave e Franco Nero que incarnam esse casal Romeu e Julieta que tem uma segunda chance de amor na vida.
E aqui a realidade supera a ficção. Vanessa Redgrave e o ator italiano Franco Nero se conheceram em 1967 durante as filmagens de “Camelot”. Tiveram um caso de amor e um filho. Mas se separaram. Muitas décadas depois, em 2006, os dois se casam. E em “Cartas para Julieta” fazem o casal que reencontra o verdadeiro amor.
Não é pouca coisa e não é para qualquer um. Vale conferir?