Não nos calaremos

“Não nos calaremos” - “Ni una más”, Espanha, 2024

Direção: Eduardo Cortés

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Naquele dia, na saída do colégio, os alunos foram surpreendidos por uma faixa colocada sobre o portão de entrada e saída que dizia: “Cuidado! Aí dentro se esconde um violador”.

Foi trabalho de Alma, uma menina de 17 anos, morena de olhos claros, que todos conheciam por ser rebelde, inteligente e corajosa.

Mas tudo começou bem antes. Alma e suas amigas, Greta e Nata, tinham que estudar bastante para o vestibular mas preferiam dançar na balada, fumar, beber e namorar. Aliás a sexualidade estava mais do que nunca à flor da pele e as garotas brincavam tirando fotos safadas no celular e postando. Ainda não entendiam que era uma escolha perigosa. Tudo isso com muita bebida e drogas.

Os pais de Alma pressionavam para que estudasse e chegasse cedo em casa. Mas ela se irritava e achava que não era mais um bebê e fugia de casa. Muita coisa vai acontecer e as meninas terão que amadurecer e deixar de levar a vida na brincadeira.

A série de 8 capítulos tenta fazer com que os jovens passem a se conscientizar de que coisas terríveis podem acontecer se não respeitarem limites. Porque nem todos os rapazes aceitam um “não” das meninas. E mesmo elas terão que pensar que serão culpadas do que acontecer, se perderem a noção de que beber e drogar-se até perder o controle, será colocar-se numa situação perigosa, sem necessidade.

A série discute o que é “estupro” e “sexo com consentimento”. E há cenas ousadas, que não são o objetivo da história mas que servem como um alerta para que, depois, não haja arrependimentos.

Alma é a protagonista, que vai passar por uma mudança radical, aceitar o controle dos pais sobre drogas e influenciar as outras meninas que se colocam ao lado dela sobre o que acontecia na escola secretamente.

A adolescência é uma fase difícil de ser vivida já que não há ainda pleno discernimento e coragem para poder escolher o que serve e o que não precisa ser vivido.

Eric

“Eric”- Idem, Estados Unidos, 2024

Direção: Lucy Forbes

Toda noite mãe e filho não se esqueciam do último ritual. Os dois olhavam debaixo da cama dele. Será que o monstro estava lá? Não estava e Edgar (Ivan Morris Howe) podia dormir.

Mas a verdade é que esse menino de 9 anos tinha um problema. Muito sensível, Edgard se afligia com as brigas dos pais depois que ele ia dormir e mesmo quando estava acordado.

Eram os anos 80 e Nova York uma cidade violenta, com gente estranha pelas ruas, drogados e instáveis, em meio a um ambiente de pobreza, racismo e homofobia. A AIDS fazia centenas de vítimas. Edgard, mesmo muito criança, percebia o clima pesado da casa dele. E também o da cidade.

Ia a pé com o pai todos os dias para a escola. Mas não estavam juntos. O pai, focado em outras coisas, não prestava atenção no filho, que seguia atrás. Até o dia em que Edgard não aparece na escola. Ninguém sabia onde ele estava. O pai o tinha perdido de vista e nem percebera.

A minissérie de 6 episódios, criada por Abe Morgan, aproveita do sumiço da criança para aprofundar a personalidade do pai, Vincent, interpretado com intensidade por Benedict Cumberbatch. Seu personagem tinha um programa infantil de televisão com bonecos engraçados manejados por artistas.

Mas o desaparecimento do filho vai mexer ainda mais com o pai, perturbado desde criança. E piorara consideravelmente porque se tornara um alcoólatra.

Edgard era uma criança superdotada. Seus desenhos originais, onde se escondia de seus problemas, encantavam a todos. Mas o pequeno pedia era a atenção amorosa do pai de quem tinha medo. Mergulhado em sua agitação e falta de foco afetivo, o pai surtava quase que o tempo todo.  E foi o filho que deu corpo e imagem a esses surtos, num desenho que mostrava com quem o pai falava em voz alta. “Eric” era enorme, azul, peludo, tinha chifres e dentes enormes.

A polícia vai ser chamada e o detetive preto, gay e inteligente (o ótimo McKaley Belcher III) vai se ocupar do caso do menino branco desaparecido pois já se ocupava com outro, envolvendo um menino preto, caso que o delegado considerava fechado.

Os subterrâneos da mente e da cidade tem papel relevante nisso tudo. E os atores excelentes e a história bem escrita prendem nossa atenção. Vale a pena maratonar