Um Lugar

“Um Lugar” - “Land”, Estados Unidos, 2021

Direção: Robin Wright

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Ela não queria mais conviver com pessoas. Todas sempre querendo que ela estivesse melhor, mais consolada. Mas não. Edee não queria pessoas. Queria ficar só.

Depois que aquilo aconteceu, Edee não conseguia pensar em outra coisa. Nem a irmã querida conseguiu tirar da cabeça dela seus planos de isolamento. Nas montanhas ela iria em busca do que não encontrava mais.

É sabido como o luto pode ser terrível. As pessoas que não sabem por que essa mulher parece louca, não entendem que ela viveu uma perda irreparável. O luto fecha o coração e a alma. A vida não é mais como era. Tudo perde o sentido.

E para reviver é preciso quase morrer.

Robin Wright, diretora e atriz do filme, emociona com seu rosto que não esquece de mostrar o vazio de sua alma. Quer morrer. A tristeza já é mais que melancolia.

“Um lugar” tem paisagens deslumbrantes e silenciosas que espelham o interior dessa mulher que quer entregar-se à morte sem drama nem testemunhas.

Filme de belezas selvagens e poucas palavras, nele Edee relembra o que somos. Uma luz repentina que se acende e se apaga com rapidez. Depois de tudo viver é possível?

Napoleão

“Napoleão”- “Napoléon”, Estados Unidos, 2023

Direção: Ridley Scott

Às críticas levantadas pelo seu filme “Napoleão”, Ridley Scott respondia: “Você estava lá?”

Ou seja, o filme não é um documentário. Há espaço para a imaginação e a fantasia na recriação do personagem mais famoso da História da França, quando se trata de conquistas em guerras vitoriosas. General, líder militar, ele foi um grande estrategista.

Aliás foi muito mais longe do que seus pares. Politicamente, conseguiu ocupar lugar no Diretório, no Consulado e finalmente chegar a Imperador (1804-1814).

O célebre quadro de Jean-Louis David, “Le Sacre de Napoléon”, pintado ao vivo em 2 de dezembro de 1804 na Notre Dame de Paris, é mostrado no filme no canto da cena principal. Célebre, grandioso, o momento ficou marcado pelo gesto impetuoso de tomar a coroa das mãos do Papa Pio VII e colocá-la na própria cabeça. O mesmo ele fez com a coroa de Joséphine de Beauharnais, sua esposa.

“- Eu nasci para ser grande! ”exclama numa conversa com aquela que foi sua segunda esposa, seis anos mais velha, viúva e com dois filhos.

“- Você quer ser grande mas não vai ser nada sem mim”, responde ela que conhecia a corte, suas maneiras e meandros, e todos que precisavam dar espaço para Napoleão conseguir o que queria.

Ele não era do povo. Nascido na Córsega em 1769, seu pai era representante de Louis XVI e sua família descendia de nobres toscanos. A mãe ocupava grande espaço nos atos do filho que queria a admiração dela. No filme vemos quando seu cavalo é atingido por uma bala de canhão e ele sai ileso. Finda a batalha, ele procura a bala nas entranhas do animal e pede ao irmão que a bala seja levada para sua mãe.

A cenas de batalhas são perfeitas. Cruentas e belas, levadas no tempo exato, em formações comandadas por Napoleão.

Mas, no filme, as cartas inspiradas e o amor por Josephine são o ponto alto de atuação de Joaquin Phoenix, cujo rosto expressivo mostra tanto a paixão quanto a cólera. Vanessa Kirby (que fez a princesa Margareth em “The Crown”) emociona pela beleza arrogante e pelo sacrifício, tendo que divorciar-se porque não conseguia dar um herdeiro ao trono.

Ridley Scott, o diretor de “Os duelistas”, “Gladiador” e “Alien, o oitavo passageiro”, entre outros, mostra através da figura de Napoleão um lado ambicioso e cruel da natureza humana que leva os homens à guerra e à morte, sem nenhuma compaixão. Estima-se entre três e seis milhões de mortos o saldo de vidas humanas perdidas nas guerras napoleônicas.

Em alguns momentos do filme a narrativa torna-se confusa devido ao grande corte executado pela Apple. De olho no Oscar, o filme não poderia ter mais de duas horas e precisaria seguir a regra de exibição nas salas de cinema.

Mas com todos os percalços, “Napoleão” vai estar certamente entre os indicados à cobiçada estatueta dourada. É um grande filme.