O Segredo do Rio

“O Segredo do Rio”- “El Secreto del Rio”, Mexico, 2024

Direção: Ernesto Contreras

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Quando Manuel, um menino tímido e magrinho, chega a seu novo lar, a casa da avó, porque sua mãe precisava viajar, nossa história começa.

Ali, no istmo de Tehuantepec, no México, a vida parece calma. Mas a aldeia é habitada por muitas pessoas tradicionais, homens machistas, mulheres submissas e um grupo de homens que tinham escolhido o sexo feminino para viver (as “muxes”). Apesar de haver uma coexistência difícil com alguns dos habitantes, eram apreciadas por muitos deles. Elas alegravam as festas, costuravam vestidos e arranjos de flores para as cabeças.

Manuel fica amigo de Erick, apesar do pai deste não ver com bons olhos essa amizade.

No dia do casamento de uma tia os meninos presenciam algo que os assusta. Um segredo terá que ser guardado para sempre.

Mas outro acontecimento vai separar os dois meninos por muitos anos.

“O Segredo do rio” tem um desenrolar cheio de suspense e prende nossa curiosidade a cada um dos 8 episódios. O roteiro expõe preconceitos arraigados, falta de solidariedade, desamor e   brutalidade, ao lado do oposto desses sentimentos.

E o drama surge desse embate de emoções.

Os atores são convincentes em seus personagens, os cenários naturais são de uma natureza intocada e as cores dos vestidos embelezam as mulheres.

E, no final, uma frase é lembrada: Um grande amigo vale mais que mil amores!

Um Lugar Qualquer

“Um Lugar Qualquer”- “Somewhere”, Estados Unidos, 2010

Direção: Sofia Copolla

Uma Ferrari preta barulhenta dá voltas em circulo e volta sempre ao mesmo lugar num deserto. O dono dela é um ator famoso sempre numa vida vivida sem emoção. Mesmice. Ou angústia?

Ele cai numa das andanças pela noite e quebra o punho. Johnny Marco (Stephen Dorf) está na cama sonolento e deprimido. Não se anima nem com as duas garotas gêmeas e louras fazendo um número de “pole dance” no quarto dele. Ele mal mexe os olhos. Desinteressado.

Mas entende-se que mulher é o que não falta na vida dele. Correm atrás. Mas Johnny faz sexo como quem faz ginástica. Blasé.

O cenário do filme é o famoso e tradicional hotel Chateau Marmont em Los Angeles. E a diretora e roteirista do filme, Sofia Copolla, combina com o conforto e o luxo tímido do lugar que abriu suas portas para ela porque ela é ela.

Quando o filme começa, depois das garotas louras,  ficamos sabendo que ele tem uma filha de 11 anos, Cleo, que a ex pede para passar uns dias com o pai.

A reação é a mesma de sempre. Deslocado, recebe a filha sem entusiasmo. Beijo na testa.

O tédio e o vazio daquele espaço onde vive o ator, agora tem uma mudança de energia. E vemos ele acordar admirado com a beleza da filha patinando no gelo.

E Cleo se torna parceira do pai. Vai onde ele for e sua presença delicada parece que está tirando o pai do marasmo afetivo em que ele vivia.

Uma cena na piscina com os dois brincando é adorável. Cleo convida Johnny a relaxar e ser o pai dela. Os dois depois descansam ao sol sem necessidade de palavras.

O amor quando é represado, às vezes rompe barreiras e pode haver um mergulho na angústia, produto da conscientização do que se perdeu e não se recupera.

Mas há motivos para se pensar em mudanças benéficas na vida de pai e filha.

Sendo Sofia Copolla a roteirista e diretora podemos pensar em toques pessoais? A família toda envolvida com o cinema pode ter inspirado algo na história desse pai e filha. Mas sempre estamos naquilo que criamos, não é mesmo?