Maestro

“Maestro”, Idem, Estados Unidos, 2023

Direção: Bradley Cooper

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Na tela uma silhueta de um homem ao piano. De repente ele  volta-se para a luz e um choque nos atinge. Sabemos que é um ator (Bradley Cooper) que interpreta o  famoso maestro, Leonard Bernstein (1918-1990), e é ele que vemos numa ilusão perfeita:

“-Sinto tanto a falta dela,,,” diz num susuro.

O rosto, a postura,o cabelo, tudo ali é o maestro.

Que belo trabalho de Kazu Hiro, que maquiou e não hesitou em colocar uma prótese no nariz do ator. O maestro não se envergonhava do nariz nem muito menos de ser judeu.

Mas são poucos os minutos que perdemos avaliando o trabalho estético porque o filme nos envolve com tanta força que não pensamos em mais nada, a não ser se encantar com as cenas em preto e branco, ônix e prata luxuosos, a cor virá depois.

Vamos ver o encontro de duas pessoas entusiasmadas com a vida, que se casam quatro anos depois, numa ligação que durou mais de 30 anos.

E foi uma casualidade que inaugurou a carreira de Bernstein como maestro. Bruno Walter era quem estaria à frente da orquestra Filarmonica de NovaYork no Carnegie Hall naquela noite. Mas quis o destino que o maestro adoecesse e  foi substituido por Bernstein, que recebeu a notícia eufórico, pulando da cama onde dormia um outro rapaz.

Sucesso absoluto. O maestro substituto conquista a plateia com seu jeito de se entregar à música e conseguir perfeição dos músicos. E ele tinha só vinte e poucos anos.

A música era seu grande amor. Mas amava também as pessoas e odiava a solidão. Narcisista agradável conquistava quem ele queria. E subiu na carreira graças a seu óbvio talento, aliado à maneira amorosa com que tratava as pessoas.

Carey Mulligan, a Felicia Montealegre, companheira de Bernstein, brilha nos momentos felizes e talvez, mais ainda nos de solidão, quando percebe que o marido é atraido pelo mundo dos rapazes bonitos e a amava nos espaços livres, quando convivia com ela e os três filhos, na casa de South Hampton.

O apartamento em Nova York era ponto de encontro social, muita bebida e cocaina. Uma mistura de músicos, intelectuais e “high society”.

Bradley Cooper entregou-se à vida do maestro, fez pesquisa e aprendeu regência por seis anos. Já imaginava o filme sobre aquele a quem tanto admirava.

Bradley Cooper contou com Steven Spielberg e Martin Scorsese na produção do filme, o que é uma homenagem ao diretor e ator de “Maestro”.

O roteiro fala mais do homem do que do músico. E a música é utilizada para evocar momentos da vida.

Causa arrepios escutar o ”Adagieto” da 5ª de Mahler quando o maestro está com o filho bebê no colo, enternecido. E um momento grandioso é aquele da Sinfonia de Mahler “Ressurection”, regida ao vivo por Bradley Cooper, na catedral Ely de Londres.

Berstein foi professor, apresentava um programa deTV que explicava a música clássica aos jovens e fez música para musicais da Broadway, como “West Side History”’ e “Candide ” com letra do ainda jovem Stephen Sondheim. Viajou pelo mundo e foi aplaudido por multidões.

“Maestro” é um filme apaixonado pela história que conta. Seus atores se mostram em seu melhor. É um filme para se ver na tela grande do cinema mas também resiste à da NETFLIX.

“Maestro” brlha e emociona. Vai fazer bonito no Oscar.

The Crown, 6a Temporada

“The Crown” – Sexta temporada, Reino Unido, 2023

Direção: Stephen Daldry e outros

Vai ser difícil esquecer dessa série britânica da BBC para a NETFLIX. Quem tem mais idade conhece os fatos e os personagens mas as novas gerações poderão aproveitar para se informar sobre a história recente da Inglaterra e sua rainha, Elizabeth II, 70 anos de monarquia.

É ao seu criador, Peter Morgan, que devemos algo especial, que exigiu altas intepretações, procura de cenários autênticos e histórias dos bastidores do poder da família real inglesa. Basta ver a quantidade de premiações que a série recebeu.

Vamos ver Lady Diana (Elizabeth Debicki) e Dodi Fayed) roubando a atenção do mundo inteiro com o trágico acidente da Pont D’Alma em Paris. E o luto do povo britânico que adorava a ”Princesa dos Corações”.

Nesse episódio, a família real e a rainha perderam popularidade porque demoraram a reconhecer o desejo que ela fosse homenageada. Imelda Stanton, maravilhosa como Elizabeth II, está perfeita na sua relutância de aceitar que Diana fosse da família, mesmo com sua morte.

As cenas se ocupam com a vida dos filhos de Diana, que se preparam para a vida que os espera. Enquanto William se refugia numa tristeza profunda, odiando fotógrafos, Harrry se mostra mais revoltado e dá trabalho para o pai, o Principe Charles (Dominic West). É o mais problemático dos dois.

E vamos seguir o encontro de William e a menina Kate, plebéia (Meg Bellamy), bela e com porte de rainha.

Finalmente Charles consegue a aprovação para o seu casamento com Camilla Parker Bowles (Olivia Williams).

E na cena final, que é um achado magistral, Elizabeth II conversa consigo mesma em três fases de sua vida. Claramente a morte e a sucessão tem que ser enfrentadas.

Política, poder e relações pessoais com pompa e lágrimas. Ótima série.