O despertar de uma paixão

“O despertar de uma paixão” - “The painted veil”, Estados Unidos, 2006

Direção: John Curran

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Filmado na China, em belíssimas paisagens, o filme é a história de um amor que enfrenta obstáculos.

Era um casamento de conveniência para ela, fútil e bela Kitty (Naomi Watts, maravilhosa), que queria se livrar de uma mãe dominadora e via os anos passarem sem outra saída. Ele, Walter Fane, (Edward Norton), médico bacteriologista, jovem de temperamento frio, amava Kitty à sua maneira. Ademais, aceitara trabalhar para o governo britânico e breve partiria para Xangai. Queria levar Kitty como sua esposa.

Assim foi. Em Xangai o casal é recebido pelo Vice-rei, Charles Townsend (Liev Schreiber). Este era um sedutor e a inexperiente Kitty se rende aos convites de um homem que traz movimento e sensualidade para sua vida. Walter era o oposto do que ela esperava.

Mas, descoberta a traição, Walter manda que ela escolha. Ou se divorcia dele e fica com o nome manchado ou o segue numa aventura perigosa,  para o interior da China onde grassa a cólera.

A vingança faz Walter querer ir de encontro à cólera, pondo a vida dos dois em perigo mortal.

A música de Alexander Desplat acompanha com beleza esse amor complicado. O filme é baseado num conto de Somerset Maughan (1874-1956) e o tema do filme, tocado ao piano por Kitty, é uma composição de Satie, “Gymnopedie”, solene e romântico.

“O despertar de uma paixão” é um filme de época bem produzido, com detalhes mostrando os anos 20 do século passado, uma bela fotografia e, principalmente, atuações comoventes.

Livre

“Livre” - “Wild”, Estados Unidos, 2015

Direção: Jean-Marc Vallée

As emoções que Cheryl (Renée Witherspoon, excelente) sentia depois que sua mãe (Laura Dern, ótima) morrera, não cabiam dentro dela. Ela se fora aos 45 anos, sem ter vivido tudo o que queria. Bobbi, como todos a chamavam, era uma luz na vida de seus dois filhos. Uma mãe amorosa e divertida, numa vida simples, mas com risadas e cantos. Nunca mais.

O pai, alcoólatra violento, ficara no passado. Cheryl só tinha essa mãe que às vezes a irritava com sua esperança inabalável de que tudo iria melhorar e que a vida valia a pena.

O caminho das drogas e da promiscuidade foi a escolha mais fácil para Cheryl que, na verdade, queria morrer como sua mãe.

Mas a semente de amor que ela tinha dentro dela, herança materna, a levou para um outro lugar: a natureza selvagem. Lá ela expiaria a culpa que sentia pela morte da mãe, por ter destruído seu casamento com Paul, apesar de amá-lo, enfim, tudo de errado que acontecera.

A trilha, “Pacific Crest Trail”, de 1.000 milhas, que ia da fronteira do México ao Canadá, foi escolhida para fazer sozinha, despreparada. Era como se fosse o purgatório. Ela precisava procurar dentro de si mesma sua força e perdão. Quase perdidos.

Encontros com a cascavel, outros caminhantes, a misteriosa raposa que a olhava de longe e a seguia, os lugares onde esperavam os pacotes que Paul mandava, eram intervalos na solidão.

“Livre” é sobre o luto, a culpa, a auto destruição, mas também mostra a transformação que Cheryl sentiu em si mesma. Sua força recuperada, acabou com o seu lado cético sobre a vida, aprendendo a ter esperanças como sua mãe.

“Livre” é uma história real e no fim do filme, durante os créditos, podemos ver a Cheryl real que escreveu  o livro no qual o filme é baseado.